Tarsila do Amaral. Antropofagia, 1929.

Desde seu início em 2019, a Semana de Arte Trasmoderna, evento que celebra o centenário da Semana de 1922 e interage com diversos agentes de produção cultural do Brasil, tem a Universidade Santa Cecília como uma das instituições que alicerçam os diversos planejamentos e comemorações. Mesmo com os eventos centrais marcados para 2022, ano do centenário, vários setores da universidade planejam ações para o segundo semestre deste ano. Confira alguns projetos:

– Cineclube Lanterna Mágica e LabCine Unisanta:

Liderado pelo professor pesquisador, jornalista e cineasta Eduardo Ricci, o Cineclube Lanterna Mágica e o LabCine Unisanta estão profundamente envolvidos na produção do Café 22, evento que já teve uma edição transmitida ao vivo via Youtube, no dia 29 de maio deste ano e terá outro encontro marcado para o início de agosto.

Diferente da edição de maio, que abordou principalmente o contexto de surgimento e os traços históricos da Semana de 1922, o Café 22 de agosto (ainda sem nome definido) enfatizará a importância de dar seguimento à revolução cultural que se iniciou no século passado, abordando principalmente o conceito de Antropofagia sob a ótica da Arte, da Psicologia, da Economia e da Cultura.

O conceito artístico de Antropofagia, que é sinônimo de canibalismo, no sentido literal, e remonta à publicação do Manifesto Antropófago, por Oswald de Andrade, em 1928, basicamente significa “devorar” a cultura altamente influenciada por técnicas importadas e promover uma renovação estética na arte brasileira, com uma cultura que tenha a “cara” do Brasil.

Os convidados do Café 22 de agosto, que vão tratar sobre o tema abordando as vertentes citadas acima, ainda não foram definidos.

– Teatro Experimental de Pesquisas (TEP):

Coordenado por Gilson de Melo Barros, o Teatro Experimental de Pesquisas (TEP) desenvolve várias ações relacionadas à Semana de Arte Transmoderna, sendo que entre estas, três se destacam:

1- Projeto para capacitação de recursos do Fundo de Assistência à Cultura (Facult), da Prefeitura de Santos, para a realização de sete “programetes” de 3 minutos cada chamando a atenção para a importância, singularidade, e atualidade do Movimento Modernista, com a participação de aproximadamente 35 convidados representativos da cultura regional. Esse projeto deve ser concluído em novembro, sendo lançado através de redes sociais, a partir de janeiro de 2022.

2- Projeto para capacitação de recursos pelo Programa de Ação Cultural (ProAC) do Estado de São Paulo, para a montagem teatral “O Homem que Suava Pérolas e as Bananas Transmodernas”, a ser realizada pelo elenco fixo do TEP e convidados, com perspectivas de montagem e apresentações para o ano de 2022.

3- Aula remota com temática relacionada ao Movimento Modernista brasileiro (gênese, desenvolvimento e reverberação na cidade de Santos), a ser difundida pela Secretaria de Educação de Santos em sua rede municipal de educação, de maneira a instrumentalizar de conhecimentos seus professores. A aula está sendo desenvolvida para ser apresentada em novembro deste ano.

Gilson de Melo Barros ainda falou sobre a importância de relembrar a Semana de 1922: “A Semana de Arte Moderna foi um marco fundamental para a compreensão e modernização dos novos padrões estéticos que norteariam de forma indelével a produção e o consumo das nossas atividades artísticas, reverberando suas ações ao longo de três gerações que a ela se sucederam, fincando poderosos lastros de reconhecimento e reinterpretação da nossa identidade nacional”.

Anita Malfatti. Tropical, 1917.

– Curso de Jornalismo:

O curso de Jornalismo da Unisanta vai participar da Semana de Arte Transmoderna com várias abordagens. O coordenador do curso, Robson Bastos da Silva, falou sobre as iniciativas: “Já conversei com os professores para que, no segundo semestre de 2021 e em 2022, estes pautem todas as produções com matérias sobre a Semana, ouvindo os responsáveis pelos eventos, fazendo uma retrospectiva, elaborando vídeos, podcasts e fotos. Os professores gostaram muito e esperamos que toda nossa produção faça uma boa cobertura desse momento”, destacou o jornalista, que ainda ressaltou que a turma do segundo ano do curso fará produções on-line, a do terceiro, o jornal universitário Primeira Impressão, e a do quarto e último ano, a Revista Viral, todos com a temática do evento.

 

– Curso de Psicologia:

O recém-lançado curso de Psicologia da Unisanta também participa ativamente do planejamento da Semana de Arte Transmoderna. Entre as propostas em diálogo estão:

1- Participar do Café 22 do segundo semestre de 2021;

2- Promover uma “mesa-redonda” aberta ao público na disciplina de “Psicologia Social II”, abordando a troca entre Psicologia Comunitária e Arte na Baixada Santista. O convite será feito a representantes do Instituto Camará Calunga, Centros da Juventude de Santos, grupos de extensão da UNIFESP e jovens artistas, para elaborarem uma proposta em conjunto para 2022: Amostra Cultural da juventude periférica.

3- Oficina sobre “Clínica, Performance e Cidade” que se articule com o LABCine, Museu do Café e Fórum da Cidadania em relação ao “Passeio Cultural Semana de 22”. Os possíveis parceiros dessa iniciativa, planejada para 2022, são a Clínica Aberta de Psicanálise de Santos, a Vila do Teatro e o Instituto Procomum.

4- Construção de um grupo de trabalho com estudantes do curso de Psicologia que são artistas em suas diferentes linguagens, mirando articulação com o Salão de Arte proposto pelo TEP, além de outras intervenções, performances, etc., com início em 2021.

O psicólogo clínico e professor Breno Ayres Chaves Rodrigues comentou que tal evento tem “máxima importância”, pois, segundo ele: “Temos uma confusão, um senso comum, de que arte e cultura são menos importantes do que educação, saúde, etc. Não é verdade. A Semana de Arte Moderna, que não aconteceu somente em São Paulo, mas em diferentes locais de nosso país, no século XX (nos guetos, no campo, em outros estados) foi um desses movimentos que buscaram criticar nossa construção como brasileiros feita somente pela via do colonizador, branco, europeu, etc.”.

Macunaíma, interpretado por Grande Otelo.

– Curso de Produção Multimídia:

“Se não revermos nossa história, esta se perde”, assim a coordenadora do curso de Produção Multimídia, profa. Márcia Okida, iniciou sua exposição das três iniciativas propostas para a Semana de Arte Transmoderna, que são:

1-Criação de artes para redes sociais com a frase: “Seja Transmoderno” em destaque. Entrega prevista para a primeira semana de setembro deste ano.

A proposta seria cada aluno da disciplina de Design da Criação usar uma foto sua, do seu rosto, e fazer uma “antropofagia” na foto, como se uma parte da identidade dele fosse a original, de nascimento, e a outra parte a transmoderna, antropofágica. “É como se, no meu rosto, fizesse uma mistura: metade vai ser real e a outra metade vai ser ‘comida’, ‘engolida’ e transformada em alguma coisa local. Por exemplo, minha ancestralidade está muito ligada ao povo japonês, meu avô é natural de Hiroshima, então poderia fazer uma arte onde aparece um pedaço real do meu rosto e o outro se transformando em um estilo oriental, misturado com as ondas do mar, com características da influência japonesa em Santos”, descreveu Márcia Okida.

2- Criação de cartazes em formato A3 em pé, com o tema: “Santos 222 -Antropofágica e Transmoderna”. Baseada na mesma ideia das artes para postagens, mas em vez de rostos, serão usadas imagens de locais da cidade. “Por exemplo, pegar uma foto ou arte realista do Museu de Pesca e transformar parte dela em outra linguagem artística, talvez cubista, surrealista, minimalista ou tecnológica”, definiu a coordenadora de PDMM.

3- Cartazes tipográficos transmodernos: criação de artes exclusivamente tipográficas (técnica artística) com uma estética construtivista, de poesia moderna e concreta. As artes seriam obrigatoriamente textuais, compostas por parte de algum texto original da semana de 22 e parte de algum autor atual santista.

 

– Curso de Publicidade e Propaganda:

Coordenado pela publicitária e professora Giovanna Capomaccio, o curso de Publicidade e Propaganda da Unisanta está elaborando algumas peças solicitadas para a Semana de Arte Transmoderna, que ficaram a cargo da Lab.822, Agência Experimental da Unisanta que é coordenada pelo prof. Ari Brito e conta com alunos de todos os anos do curso, que estagiam no laboratório para desenvolver as peças solicitadas.

“O prof. Ari Brito já passou o briefing (orientação de trabalho) aos alunos estagiários, e estes estão responsáveis por criar o logo do evento, um selo comemorativo, um slogan, um jingle e uma vinheta (teaser), entre outras peças que possam vir a surgir”, destacou Giovanna, que ainda comentou que as primeiras peças devem ser enviadas para aprovação em agosto e apresentadas oficialmente em setembro deste ano.

A coordenadora também falou brevemente sobre o apoio do Sistema Santa Cecília de Comunicação, que está envolvido na divulgação do evento e tem como coordenador de Marketing o professor Ari Brito.

“É muito importante deixar a cultura mais próxima das pessoas e relembrar os artistas que fizeram parte da Semana de 1922 e engrandecem o nosso país. A Semana de 22 foi destinada para uma elite cultural da época, já a Semana de Arte Transmoderna de 2022 tem o foco na diversidade e inclusão de artistas renomados e periféricos”, concluiu Giovanna Capomaccio.