Eduardo Leonel nos Jogos Paralímpicos de Tóquio 2020+1.

“O meu principal objetivo, esportivamente falando, é sempre a medalha. Mas contribuir com a mudança da imagem das pessoas com deficiência na sociedade, essa é minha grande missão”, destacou Eduardo Leonel, ex-aluno de Educação Física, fundador da equipe Fast Wheels (uma das mais vitoriosas do paratletismo brasileiro) e treinador nacionalmente aclamado de atletas deficientes físicos.

Formado na Unisanta em 2001, na primeira turma do curso de Educação Física (Fefesp), Eduardo Leonel demonstra claramente o quão influenciável um curso superior de qualidade pode ser na vida de um aluno interessado. Assim como muitos outros jovens brasileiros, Leonel entrou em Educação Física com o intuito de trabalhar com o futebol. “A Unisanta eu escolhi pela estrutura que era muito superior as demais na época e também para fazer parte da primeira turma de uma faculdade”, comentou ele.

Durante sua vida acadêmica na Universidade Santa Cecília, Leonel destacou sua participação, como atleta e treinador, nos Jogos da Unisanta. Além disso, ele ressaltou a identificação imediata que teve com o professor Marco Antônio Alves, o prof. Marquinhos, que lecionava Cinesiologia e Esportes Adaptados. “Na época não tinha objetivo de trabalhar com esse público (deficientes físicos), mas as aulas dele já me despertaram interesse”, disse o ex-aluno.

Após sua formatura, em 2001, Eduardo Leonel se tornou servidor público e começou a trabalhar na Academia Rebouças, onde ainda atua. Inicialmente, seu setor era o de atendimento ao público, onde percebeu a procura considerável de pessoas com deficiência por atividades físicas adequadas. “Eu de cara, por insegurança, pedi ajuda. O cara que eu procurava era o prof. Marquinhos, em uma época que a Internet ainda era pouco acessível. Marquinhos foi um cara importante e uma referência para mim”, comentou o ex-aluno.

“Veio um praticante de atividade que tinha uma cadeira de corrida e ia participar de umas corridas de rua, ele também jogava basquete. Resolvi auxiliá-lo no condicionamento físico. Foi quando comecei a me interessar por atletismo, ele veio a se tornar campeão brasileiro e no primeiro ano foi para o mundial”, destacou Leonel, que também notou uma característica preocupante na área: “Elas (pessoas com deficiência) vinham da reabilitação e depois voltavam para o sedentarismo. Foi quando eu comecei a inserir o atletismo para alguns e surgiram novos atletas”.

Há cerca de 15 anos atrás, Eduardo Leonel ajudou a fundar a equipe Fast Wheels, que está presente em todas as etapas da formação do atleta, trabalhando com crianças, adolescentes e adultos e que conta com atletas de elite em seu elenco.

“O atendimento à pessoa com deficiência me tirou da zona de conforto, que era algo que eu já vinha procurando na profissão e realmente eu me reencontrei, e ter essa referência na faculdade me abriu os olhos, com uma parte mais técnica sobre o atendimento a pessoa com deficiência”, comentou o ex-aluno da Fefesp, que atualmente tem um trabalho praticamente voltado apenas às pessoas com deficiência: “Trabalho na sessão de esportes adaptados e como treinador, tento coordenar a equipe (Fast Wheels) com outras pessoas que auxiliam”.

Eduardo Leonel primeiramente definiu sua rotina como “bem intensa”, depois pensou melhor e afirmou que seu trabalho “de rotina não tem nada”, o que, segundo ele, é positivo: “Isso que acaba motivando. Não ficar em uma rotina e gerir uma equipe inteira. […] Aprendi muito a questão de gestão de pessoas”.

O ex-aluno da Unisanta também falou sobre o último grande evento esportivo de que participou, os Jogos Paralímpicos de Tóquio 2020+1. Leonel foi para o Japão como técnico da seleção brasileira. “Fiquei responsável pelos atletas de corrida em cadeira, que é a minha especialização, minha atleta pessoal inclusive participou”, comentou ele, que treina a maratonista multicampeã Vanessa Cristina, que foi a 8ª. colocada na final dos 5000 metros rasos feminino da categoria T54, em que as atletas competem em cadeira de rodas. Vanessa terminou a prova, ocorrida no Estádio Olímpico de Tóquio, com um tempo de 11min18seg02, quebrando seu recorde pessoal, sendo que todas as dez atletas quebraram antigo recorde paralímpico da modalidade, que era de 11min47seg37.

Eduardo Leonel e paratleta Vanessa Cristina.

“Foram minhas primeiras Paralimpíadas. De certo modo foi muito tenso por conta da Covid-19. Foi uma experiência difícil de descrever com palavras, o quanto atingimos o ápice esportivo de cada um. Realmente me fez rever muitos conceitos, aprendi bastante, não só na parte técnica, mas também na emocional”, salientou Leonel, que também não poupou elogios à gestão japonesa do evento. “Na minha visão, não haveria nenhum país, senão o Japão, para fazer os jogos nas condições sanitárias vigentes na época”, comentou ele, que já foi ao país oriental quatro vezes.

O currículo de conquistas de Eduardo Leonel, entretanto, vai muito além de Tóquio 2020+1. Como treinador, ele tem 13 títulos na categoria para pessoas com deficiência da corrida de São Silvestre, da qual participa desde 2005, tendo se ausentado apenas em 2020, por conta da pandemia.

Outra conquista marcante para o ex-aluno da Fefesp foi a primeira convocação de uma atleta sua para os Jogos Paralímpicos. “Na faculdade me fiz uma promessa que só faria tatuagem se tivesse uma atleta em jogos. E cumpri essa promessa, com a Maria de Fátima, minha primeira atleta em jogos no Rio 2016”, compartilhou.

O fundador da equipe Fast Wheels define o paradesporto como: “um mercado importante que pode trazer, além de satisfação pessoal e profissional, uma boa compensação financeira para quem aceitar o desafio”.

Leonel ainda ressaltou que os futuros educadores físicos têm que entender as características da área em que vão atuar. “Tem que ser menos seletivo e entender que pessoas, com ou sem deficiência, idosos, crianças, não deixam de ser seres humanos. Então, procure se capacitar o máximo possível e não tenha vergonha de não atender em um primeiro momento porque precisa buscar informação. Não tenha vergonha de procurar informação com os profissionais mais experientes, mas não deixe de atender as pessoas, porque essa é a essência de nossa área. Temos que entender que, antes de sermos especialistas, somos generalistas”.

Por fim, Eduardo Leonel deixou um recado aos atuais estudantes de sua querida Fefesp, da Unisanta: “Aproveitem bem a universidade como um leque de oportunidades, nunca se fechem para a área nenhuma. Estejam sempre abertos, por mais que tenham objetivos específicos”.

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