“Há muita coisa a ser explorada, coisas novas aparecendo e acho que quem está na faculdade hoje precisar estar atento a isso, investir nisso. Mas, sempre tendo em mente que jornalismo não é entretenimento, jornalismo é jornalismo”. Assim define o papel do jornalista, Alex Sabino, formado em Comunicação Social, em 1998, pela Unisanta.
Antes de navegar pelo mundo do jornalismo profissional, Sabino considera que a formação na Unisanta foi valiosa para a sua carreira. “Tenho muitas lembranças das aulas do Gérson Moreira Lima, do professor Chico La Scala, das vezes que a gente ficava no laboratório fechando o Primeira Impressão. Lembro até hoje de matérias que fiz para o Primeira Impressão”, recorda-se Sabino.
Como é cobrir a Copa? – Sabino foi um dos enviados especiais da Folha para cobrir a Copa do Mundo, no Catar, país sede do torneio. Na cobertura, ele está acompanhado de mais três colegas de profissão: Luciano Trindade, repórter, Victoria Damasceno, que também é repórter e editora, e Gabriela Biló, fotógrafa. Os quatro estão hospedados em um prédio de apartamentos, no bairro de Al Mansour, em Doha, capital do Catar.
Seus textos, cheios de detalhes e informações até então desconhecidas, embelezam as matérias publicadas na Folha de S. Paulo. Ele vem se preparando para a cobertura há mais de três meses, colecionando informações sobre jogadores, seleções e fatos históricos dos países participantes. Isso ajuda no acabamento das reportagens. E leva ao público uma leitura diferente, agradável, informativa e lúdica.
Na cobertura das partidas, o vaivém para acompanhar o torneio é grande. Esta edição reservou, dos sete de 13 dias da fase de grupos, quatro jogos em horários diferentes. No dia 27 de novembro, domingo, Alex Sabino conta, em um dos seus textos publicados na Folha, a sua jornada para acompanhar quatro jogos no mesmo dia, tarefa que se mostrou complicada e cansativa. “Nós estávamos acompanhando dois, o que já é muito corrido, porque é uma rotina de escrever, sair do estádio escrevendo e o último jogo, aqui, acaba meia noite, bem tarde nos horários locais”, descreve sua rotina.
Os deslocamentos para os estádios da Copa são bem simples. Isso porque o torneio é sediado em apenas cinco cidades. Além da Doha, Al Rayyan, Al Wakrah, Lusail e Al Khor recebem os jogos do Campeonato Mundial. E a maior distância entre as sedes é de 50 km, da cidade de Al Khor até a capital Doha. “É eficiente o transporte, principalmente as cidades que não têm um sistema de metrô perto têm um sistema de ônibus eficiente”, resume.
Desta forma, Sabino e seus colegas de profissão ficam aproximadamente a 10 minutos de carro das instalações da delegação brasileira, do centro de Doha e dos estádios do certame. Mas, em contrapartida, crítica: “(A Copa) ela está sendo realizada num país que não tem nenhuma cultura no futebol e que não tem nenhuma cultura na organização de grandes eventos dessa magnitude. Isso sempre causa certos problemas”.
Experiência cultural – O Catar é um país onde as regras para o uso de álcool são rígidas e as mulheres ainda precisam andar de véu ou acompanhadas por homens. A poucos dias do início da Copa, a família real catari proibiu o uso de álcool no entorno dos estádios, decisão polêmica, reverberada no mundo inteiro com estupefação. Além disso, os altos preços da cerveja no Catar também assustaram os torcedores. ”Eles realmente não querem que você tome cerveja, por questão religiosa. Mas, tem cerveja. Em vários lugares, bares, dentro de hotéis, principalmente se você tiver um cartão de residente, você consegue comprar álcool em lugares determinados”, comenta Alex.
A despeito dos problemas com álcool e o desdém com os direitos humanos e a liberdade de expressão de grupos minoritários, a cidade de Doha pode ser considerada ‘ocidental’. Isso porque ela recebe muitos imigrantes, especialmente das cercanias mais próximas, como Bangladesh, Nepal, Sri Lanka. Eles fazem as festas nas ruas e têm as suas seleções prediletas na hora de torcer: Brasil e Argentina.
Segundo Sabino, não é difícil identificá-los na rua, uma vez que eles estão sempre vestidos com as camisas das seleções e vivem praticamente em torcidas organizadas. “Você, muitas vezes, vê pelas camisas piratas, bandeiras e pessoas e percebe que não são argentinos ou brasileiros, mas que estão com a camisa o tempo inteiro. Isso é muito presente aqui”, fala.
Carreira e expectativas para o futuro do Jornalismo – São mais de 20 anos no jornalismo esportivo. Logo depois de formado, Sabino atuou por oito anos e 10 meses no Diário Lance!. Na sua primeira passagem por essa editoria, foi setorista de clubes de futebol e acabou enviado para reportagens especiais, na Inglaterra, Estados Unidos, Argentina, Itália e Colômbia.
Aliás, esta não é a primeira vez que Sabino é enviado para acompanhar a Copa do Mundo in loco. “Toda grande cobertura esportiva marca você. Não tem como ser diferente, porque há toda uma experiência ‘cultural’, algo que vai além do esportivo”, aprofunda-se.
Esteve na Copa de 2014 e acompanhou a Seleção Argentina, a fiscalização das construções dos estádios para o Mundial, o envolvimento em projetos de cadernos especiais e com colaborações, ao enviar matérias de Edimburgo, na Escócia. Para ele, a Copa da Rússia, disputada em 2018, teve mais ‘clima’ e a Copa do Brasil, em 2014, foi a mais interessante.
Antes disso, entre os anos de 2010 e 2013, morou dois meses na Argentina, como correspondente do Diário de S. Paulo de junho a julho de 2011, em virtude da Copa América daquele ano. Foi também responsável por reportagens especiais, atuou na cobertura da Copa das Confederações de 2013 e, por fim, foi enviado à Inglaterra e Uruguai para elaboração de matérias. Em 2015, regressou ao Diário Lance!. Encerrou seu ciclo pelo veículo em 2017, quando voltou à Folha de S. Paulo no mesmo ano, local onde trabalha até hoje.
No mesmo ano, Alex lançou seu primeiro livro, de autoria independente: O Time que Nunca Seria Campeão. A obra conta os bastidores da imprensa e dos jogadores do Santos FC, desde a derrota para o Corinthians, na semifinal do Campeonato Paulista, em maio de 2001, até a decisão do Campeonato Brasileiro, em 2002, contra o mesmo rival paulista. “Vai sair uma edição nova agora, em 2022, pela Editora Dolores, em comemoração aos 20 anos (do título)”, revela Sabino.
O segundo dos quatro livros escritos por Alex chama-se Meu Pequeno Santista. O romance infantil se debruça sobre um garoto chamado Henrique. Cercado de amigos apaixonados por futebol, ele passará por um dilema e, ao conhecer o Alvinegro Praiano, aprenderá que torcer para o Santos FC é a resposta.
Os outros dois livros ainda estão em produção. O primeiro se chama “Pertencer”, cuja ideia é contar a história de cinco clássicos sul-americanos, um em cada país da América do Sul, que estão fora do radar das grandes mídias. “Não são clássicos que envolvem grandes clubes, e sim rivalidades de bairro, de cidades”, descreve seu projeto.
A ideia é passar por clássicos no Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e um de várzea ou feminino. “Ainda está em produção. É uma história de ir ao jogo, acompanhar como é, dias antes, torcida e jogadores”.
A quarta obra tem o título “O Futebol Morreu”. Neste livro, Alex fala sobre as semanas seguintes após a morte de Diego Armando Maradona e toda a comoção do povo de Buenos Aires, capital do país portenho. “Para ter um gancho, vou lançar no final do ano (de 2023), que é o aniversário, ou no meio do ano, aniversário da morte dele, do título de 86 (Copa do Mundo), isso está sob análise”, completa.
Nesse tempo, atuando no mercado profissional, por vezes, Alex viu-se numa área em constante transformação. O copy desk, ferramenta que servia para revisão de erros ortográficos, por exemplo, era muito utilizado pelos jornalistas. Se nos anos 1990, eram os jornais que tinham seus sites, hoje a situação se inverteu.
“Às vezes, algumas pessoas que estão no Jornalismo se perdem. Mas eu acho que o futuro existe. Quando digo que o futuro existe, é um futuro aberto, com espaço para muita gente, não para todo mundo, nunca tem espaço para todos, algumas pessoas vão se destacar mais do que as outras, é normal”, analisa o atual cenário da comunicação. E completa com uma mensagem de otimismo para os futuros jornalistas: “E o sonho é mais importante, acreditar é mais importante. Isso é fundamental”, finaliza.