Alunas de Farmácia apresentam trabalho multidisciplinar sobre presença de microplásticos em peixes e efeitos na segurança alimentar

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As estudantes do curso de Farmácia da Universidade Santa Cecília – Unisanta, Natália Cucik de Siqueira e Ingrid Freitas Nascimento apresentaram, na última quarta-feira (2/12), seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) sobre a ocorrência de microplásticos em peixes e a relação com a segurança alimentar. O estudo multidisciplinar, que integrou os cursos de Ciências Biológicas e de Farmácia da Unisanta, foi orientado pela Profª. Drª. Helen Sadauskas-Henrique, do Laboratório de Biologia de Organismos Marinhos e Costeiros (LABOMAC), e pelo Prof. Dr. Matheus Marcos Rotundo do Acervo Zoológico, curador do Acervo Zoológico da Unisanta (AZUSC), ambos vinculados aos cursos de Ciências Biológicas (Biologia Marinha) e aos cursos de mestrado em Ecologia e em Auditoria Ambiental da instituição.

O trabalho avaliou a contaminação por microplásticos em duas espécies de peixes comerciais coletados na região costeira próxima à Baía de Santos, incluindo a área de descarte de sedimentos dragados da região portuária. Através da análise dos estômagos e intestinos dos 58 peixes, popularmente conhecidos como Oveva e Maria Luíza, as alunas verificaram a presença de 710 itens plásticos, como fibras, pellets, microesferas, isopor, entre outros, sendo as fibras as mais representativas (98%).

Também foi verificado se houve variações da contaminação entre as estações climáticas, verão e inverno, e entre as localidades de captura dos peixes, dentro e fora da área de descarte de sedimentos do porto de Santos. Os resultados iniciais demostraram pouca variação entre as localidades, porém foram numericamente maiores durante o verão, sendo esta relação associada aos padrões oceanográficos da região como as correntes marinhas e variações de marés. As alunas ainda verificaram ainda se existia relação entre o tamanho dos peixes e o número de microplásticos encontrados em seus estômagos e intestinos, mas as análises estatísticas não demonstraram esta correlação.

Elas discutiram sobre a importância do conhecimento da contaminação de microplásticos nos peixes em relação à segurança alimentar, uma vez que ingerimos estas partículas quando nos alimentamos de peixes contaminados. Embora os itens plásticos tenham sido encontrados no estômago e intestino, e estes sejam descartados quando limpos para a alimentação, a Profª. Sadauskas-Henrique alertou que estas partículas também são encontradas em outras partes do corpo dos peixes: “Os microplásticos são ingeridos pelos peixes de forma direta ou indireta e através de um processo biológico, ainda pouco conhecido, são encontrados na musculatura dos peixes”.

A pesquisadora também destacou que não só os peixes apresentam contaminação destas partículas: “Nós ingerimos grande quantidade de microplásticos através de vários alimentos, como o sal, por exemplo, porém, pouco se sabe sofre os efeitos desta contaminação para a saúde humana”.

Segundo o Prof. Rotundo, compreender a dinâmica da contaminação por microplásticos é essencial para combatê-la. “Precisamos entender quais são as características desta contaminação, se ela afeta as espécies de forma semelhante ou se existem algumas mais propensas, os períodos com maior ou menor concentração, se a contaminação já está dissipada em toda zona costeira, ou seja, precisamos compreender a contaminação para buscar medidas de controle”, explica o docente.

O trabalho das alunas foi avaliado e aprovado pelo Prof. Dr. José E. Pandini Cardoso Filho, graduado em Farmácia e Bioquímica, Mestre e Doutor em Química Orgânica, e pela Profª. Ma. Bárbara Gomes Del Rey Stipanich, formada em Farmácia e Química com especialização em Farmacologia Clínica e Mestre em Ecologia. Ambos são docentes do curso de Farmácia da Unisanta.

Além do excelente desempenho, os orientadores destacaram a perseverança das alunas que, mesmo durante o isolamento social devido à pandemia de COVID-19, continuaram suas análises em casa, utilizando os equipamentos dos laboratórios. Também destacaram que os resultados apresentados representam apenas uma pequena parcela do estudo que será continuado pelas alunas durante a pós-graduação.