Os representantes da Universidade Santa Cecília (UNISANTA) no Programa Alfabetização Solidária, realizaram mais um curso de capacitação de alfabetizadores. O Programa, que existe há sete anos, tem como objetivo reduzir os índices de analfabetismo entre jovens e adultos no país.
Mais de cem alfabetizadores de cinco municípios do estado de Pernambuco (Jatobá, Ibimirim, Itaiba, Ferreiros e Águas Belas) participaram das atividades pedagógicas realizadas entre 15 e 20 de fevereiro, em Águas Belas.
Os responsáveis pela capacitação foram os professores da UNISANTA João Alberto Paschoa dos Santos, Lucilene Mendes Pais, Eduardo Henrique Gomes e as representantes do Prolerr-BS/UNISANTA (Programa Nacional de Incentivo à Leitura – Núcleo Baixada Santista/UNISANTA) Ana Carolina Ribeiro Gonçalves e Rosa Maria da Silva Sessa. O Programa tem a coordenação geral na UNISANTA do prof. dr. Fabio Giordano.
Foram abordados temas como letramento, criação de jornal, arte-escola, análise do material didático, geometria, cidadania, pesquisa escolar, teatro na Educação, pluralidade cultural, poesia, corporiedade, além de dinâmicas de grupo para apoio ao processo de alfabetização, higiene pessoal, DST, alcoolismo, drogas e preconceito, entre outros.
Alunos que nunca ouviram o “Parabéns pra você…”
Professor João Alberto sempre frisa aos alfabetizadores para que façam um mural de aniversários e comemore a data de todos os seus alunos, pois a maioria deles nunca teve um aniversário comemorado nem o tão comum “parabéns pra você cantado” levando muitas vezes a comoção e as lágrimas dos alunos, assim motivando-os para que não deixem de freqüentar a sala de aula.
Outra maneira encontrada para a freqüência em sala de aula dos alunos, que na sua grande maioria são agricultores, é a distribuição de uma merenda (bolachas e café) em sala de aula que é comprada pelos próprios professores alfabetizadores.
Maioria dos alunos não possuem documentos
Professores do alfabetização Solidária, além de alfabetizar tem que tirar os documentos dos alunos.
Numa das palestras, onde se explicava o sistema de cadastramento para o pagamento do salário aos professores, veio a tona um grave problema social que por horas dominou a discussão.
– Professor, meu aluno não tem documento algum, não sabe nem sua idade……..
seguiram-se uma chuva de braços levantados e exclamações do mesmo problema.
A maior dificuldade dos professores seria a locomoção do “pessoal do sítio” (como são chamadas as pessoas que não moram na cidade do agreste nordestino) até a cidade mais próxima para a retirada dos documentos.
Profundo conhecedor da política e costumes locais, o Professor João Alberto Pachoa logo surpreendeu a turma quando disse:
– Estamos em época de eleição, eles costumam fazer a “CARRADA” para retirada de titulo de eleitor para ganhar votos certo, vamos aproveitar esse recurso ilícito dos políticos para retirar todos os documentos dos alunos, e isso não pode alterar o nosso voto……
Sêca e Política
Um dos depoimentos mais chocantes da viagem foi do ex-prefeito “Códinho” que encontramos na praça da igreja, ele disse que quando estava como prefeito construiu uma barragem, na serra atrás da cidade de Águas Belas e que meses antes das eleições municipais, políticos rivais destruíram a barragem que fornecia água para toda a cidade, para fazerem propaganda eleitoral com carros pipas, trocando água por voto.
No período em que ocorreu a capacitação, não se viam trechos de terra sêca, pois depois de uma sêca de 2 anos, toda região sofreu com as fortes chuvas que caíram em todo o Nordeste. Mas o que chama a atenção é que não existem grandes trechos de terra plantada com as mais diversas culturas, a não ser de plantações de Palma (tipo de cacto regional) que alimentam o gado na época sem chuvas. O “quadro de palma” como é chamada a metragem de 50×200 metros antes da chuva estava custando 800 reais.
Informática
Professor de Informática do Colégio Santa Cecília e funcionário da Universidade no Setor de Internet, Eduardo Henrique Gomes viajou juntamente com os professores do Alfabetização para ministrar aulas de informática e documentar a viagem.
Encontrando numa escola municipal, no meio do agreste nordestino, um laboratório com oito computadores em rede, com Internet via Rádio, instalados pelo programa PROINFO do Governo Federal.
Muitas máquinas apresentavam problemas de vírus e a falta de softwares adequados para um melhor aproveitamento dos recursos. Sanados esses problemas os esforços foram concentrados em planilhas, editor de texto, criação de e-mail, noções de Internet, como: efetuar um download, salvar os documentos e organizar pastas no computador. Noções de manutenção de software também foram feitas.
Os alunos que na verdade eram instrutores de informática, em sua grande parte ficam navegando em sites como o IBGE, FUNDEF etc, para obter informações sobre os recursos destinados a cidade de Águas Belas e cidades vizinhas para comparação e vigilância.