A exposição Mantiqueira – Matriz das Águas permanecerá aberta de 16 a 30 de maio, no Espaço Cultural Unisanta.

Só artistas inspirados e espiritualizados como Sandra Santos conseguem captar a beleza, normalmente invisível para as pessoas comuns, de seres como libélulas, joaninhas, taturanas e casulos. São flagrantes feitos na mata, que incluem pássaros, sol, água, noturnos, esquilos, plantas e cenas transfiguradas pelas lentes da fotógrafa, como uma lua incrível aparecendo entre a folhagem. Esta é a fase atual da artista, que poderá ser vista na mostra Mantiqueira- Matriz das Águas, até 30 de maio, no Espaço Cultural Unisanta, com textos poéticos de Aureo Pasqualeto.

A Serra da Mantiqueira tem sido visitada por Sandra com frequência, “em busca do belo e da espiritualidade”. Imagens captadas com a paciência, a paixão e a precisão dos artistas. Para fotografar uma libélula, por exemplo, Sandra observou durante 45 minutos, à espera do melhor ângulo e fez a foto deitada sobre a pedra, para ficar no mesmo plano do inseto.

“Fotografo as belezas naturais. Imagens que revelam a luz, por vezes difusa, por vezes direta, com foco nas cores e nas formas dos viventes da terra, das águas e dos céus”, explica. Nesta exposição, ela apresenta 11 (onze) séries fotográficas, “num total de 40 imagens selecionadas a partir dos registros realizados durante os três anos em caminhadas pela Serra da Mantiqueira, nos arredores da cidade de Gonçalves, Minas Gerais.”
Entre as séries, estão as fotos minimalistas, bicos e penas, Disney, oriente, interiores, antes da chuva, noturna, eróticas e mantimágicas. “Pelos verdes das matas, nos pousos dos pássaros silvestres, pelas danças das águas, na Montanha que chora, mergulho o olhar, deslumbrado e inequívoco de que necessitamos resgatar a nossa origem”, acrescenta. A curadoria da mostra é de Gilson de Melo Barros.

Mantiqueira, em tupi-guarani, quer dizer montanha que chora. “São 25 anos, buscando a essência do que nos é (in) visível, abençoados, neste trabalho, pela Mãe das Águas. Da força das nascentes brota a Vida alimentando a Terra, com seus cantos encantos – encantados”, resume a fotógrafa.

Talentos múltiplos
“Mantiqueira – Matriz das Águas apresenta dois olhares particulares sobre a essência da vida. Um olhar, o de Sandra Santos, mais voltado às coisas da natureza em geral. O de Aureo, preocupado com a essência dos seres e fatos vivos, que somos todos nós”, afirma o curador da mostra, Gilson de Melo Barros.

Sandra Santos, mestre em Direito, professora de Direito Processual Civil, realizada no magistério e nas ciências jurídicas. Aureo, professor, mestre e doutorando em Engenharia. São dois artistas que amam sua profissão, mas que são apaixonados pela arte e pela beleza. Ela, com as imagens, ele, com as palavras, produzem a linguagem poética.

“Sou fotógrafa há 25 anos, antes de ser advogada”, diz Sandra, para quem estranha seu duplo talento e, erroneamente, pensa que a fotografia está em segundo plano para ela. Ganhou a primeira máquina fotográfica aos três anos de idade. Estava quebrada, mas a menina passeava pelo apartamento enquadrando fotos imaginárias. Aos 13 anos o pai lhe presenteou com uma máquina simples e as primeiras lições básicas de fotografia. Depois, ela estudou na Escola Panamericana de Arte e na Focus, em São Paulo. Aos 18, vendia cartões postais com suas fotos nas livrarias de São Paulo e nos restaurantes e bares do Bexiga.

Formou-se em Direito em 1995, leciona há 15 e também se apaixonou pelo magistério. “É meu lado racional”. O espiritual, para Sandra, é a natureza, a arte. “É como me coloco no mundo”. Sente-se obrigada a mostrar aos outros essa beleza, emociona-se em falar na essência divina da Mantiqueira.

Quem imagina que todas as fotos de Sandra são feitas com máquinas poderosas, fica surpreso. Algumas das imagens de Mantiqueira foram captadas com uma Nikon Coolpix, sem lentes intercambiáveis. A fotógrafa estava com dores no ombro esquerdo e precisou usar máquina mais leve, por algum tempo. Gostou do resultado. A mostra tem imagens produzidas com uma Nikon de mais recursos, a D300, com lente de 50mm e uma tele objetiva, também Nikon, de 70-200mm.

Currículo

Seu livro de fotos Por todos os poros, lançando em 2004, teve traduções em Inglês, Espanhol e Francês. Ele faz parte dos acervos do Museu de Arte Moderna em Nova York (MOMA); do Centro Internacional de Fotografia (NY), do Centro George Pompidou (Paris); do Museu de Arte Latino-Americano (MALBA), em Buenos Aires, Argentina. A mostra com fotos do livro ficou exposta na Casa França-Brasil, Rio de Janeiro, de 3 a 30 de novembro de 2004, e na Aliança Francesa de São Paulo, de 27 de abril a 20 de maio de 2005.

Suas exposições anteriores foram na Casa das Rosas – São Paulo/2011; na Pinacoteca Benedito Calixto – Santos/2010; mostra Vertentes, em 2008. Foi selecionada para a 9ª Bienal de Artes Visuais de Santos, de 6 de abril a 6 de junho de 2004, com as obras “Solstícios I, II e III”. Em 2003, participou do Encontro Latino-Americano de Educadores, na Unisanta/ELAC, ano em que apresentou a exposição “Tessituras”, na Galeria “Patrícia Galvão”, Teatro Municipal de Santos.

Em setembro de 2002, apresentou a mostra Retro-verso, na FAU/USP, em São Paulo, que os santistas viram em agosto de 2001, na Pinacoteca Benedito Calixto, em Santos. E mais: exposição “Ver”, na Galeria Alhambra, em 1992; coletiva “Os outros Ícaros”, na Galeria Alhambra, 1991. Todas sob a curadoria de Gilson de Melo Barros.

Aureo: textos poéticos

A literatura brasileira tem mostrado excelentes engenheiros poetas. Aureo Pasqualeto é mais conhecido como professor de Engenharia e Diretor de Pós-Graduação, mas quem conhece seus textos sabe que sua formação humanística e sensibilidade garantem versos precisos e inspirados. Mesmo antes de pensar em Engenharia o jovem Aureo mostrava gosto pelas leituras e pela escrita. O conhecimento do Latim gerou seu fascínio pelos significados das palavras.

Encontra a riqueza das palavras inclusive no jargão da Engenharia. Participou de grupos de haikai, mas prefere não se enquadrar nas limitações desses versos, regrados por menções a estações do ano e número exato de versos. O mestrado em Engenharia Ferroviária e agora o doutorado lhe permitem realizar-se como profissional de Exatas, mas a poesia e o magistério recebem dele a mesma dedicação e amor.

Aureo gosta de pensar no conceito de que, se uma imagem fala por mil palavras, geralmente essas mil pessoas podem ter a mesma interpretação do que viram. “Mas se um for verso lido por mil pessoas, poderá haver mil interpretações”.

Gilson de Melo Barros se refere à obra poética de Aureo Pasqualeto como “energia telúrica represada, que se manifesta na transparência das palavras”.

Alguns exemplos:

Série minimalista

“Um barco de pesca desenha no mar

um triângulo móvel e branco,

dois lados iguais, o terceiro infinito…”

Série libélulas

“Efêmero

como um

amor-perfeito…”

Série eróticas

“alternadamente

Ter-te na mente

ternamente…”

Serviço

Mostras Mantiqueira e Matriz das Águas

Fotografia: Sandra Santos

Intervenções poéticas: Aureo Pasqualeto

Curadoria: Gilson de Melo Barros

Designer gráfico: Márcia Okida

Visitação: das 9 às 12h e das 20 às 22h

Local: Espaço Cultural Unisanta — Rua Oswaldo Cruz, 277, Santos