A exposição, de 13 a 27 de junho, no Teatro Municipal Brás Cubas, relembra os principais momentos do grupo durante esses 45 anos, comandados por duas gerações de artistas.
A XVIII edição do FESCETE – Festival de Cenas Teatrais do TESCOM, que tem início no próximo dia 13 de junho, às 19h30, no Teatro Municipal Brás Cubas (Av. Pinheiro Machado, 48), fará homenagens aos patronos, os artistas Ney Latorraca e Jandira Martini, e ao grupo TEP – Teatro Experimental de Pesquisas, o mais antigo da região, em constante e ininterrupta atividade.
Na oportunidade, será inaugurada a exposição “Pálpebras & Gelosias – TEP 45 anos”. Sob a curadoria do atual diretor do grupo, Gilson de Melo Barros, do artista plástico Jadir Bataglia e do desnigner Rafael Branco, a exposição traça, através de farto material documental (matérias de jornal, fotos, cartazes, figurinos e fragmentos de cenografias), um panorama referente às atividades do grupo ao longo dessas quatro décadas.
Para melhor demarcar tal histórico, os curadores chamam de 1ª Geração o setor da mostra referente aos primeiros 20 anos do grupo. Esse período vai desde sua criação no Colégio Canadá, nos anos 70. Passa por montagens de cunho político em que o grupo firmava resistências e oposição ao sistema de ditadura militar imperante no país, culminando com o espetáculo “O Gran Vizir” (René de Obaldia), com o qual fez carreira internacional.
No exterior, o grupo conquistou o grande prêmio do IV Festival Cervantino de Teatro, realizado na cidade de Guanajuato (México) em 1977. Neste festival, o grupo trouxe ainda para casa o troféu de melhor atriz para Nanci Alonso que, junto a André Luis Galesso Machado, foi uma das fundadoras do grupo. Despontam ainda neste período o nome de artistas como Domingos Fuschini, Toninho Dantas, Cristina Guedes, Zémanuel Sammamed (hoje Zémanuel Piñero) e Gilson de Melo Barros, entre outros.
Segunda geração
A mostra segue em seu discurso com a 2ª Geração, os últimos 25 anos, período em que o grupo passa ter sede na Universidade Santa Cecília, onde permanece até os dias de hoje. Nessa fase – afirma Melo Barros, o grupo sedimenta suas montagens a partir de novas temáticas, adaptando-se à nova situação ensejadas pelas liberdades democráticas então recém instauradas no País.
É neste novo contexto que Nanci Alonso e o movimento teatral santista, motivado pela recente perda do cartunista Henfil, uma das primeiras vítimas publicamente notáveis acometidas pela AIDS, passa a dedicar-se à vigilância pela qualidade dos bancos de sangue no País, em intensa campanha pública. Esse movimento ganhou corpo definitivo com a criação do GAPA BS, que Nanci dirige até hoje.
Para dar visibilidade à campanha capitaneada por Nanci, o grupo TEP monta o espetáculo “Henfil – A Relativa Revista”, escrito e dirigido por Gilson de Melo Barros, uma releitura da obra original “A Revista do Henfil”, então em cartaz na capital, estrelada por Paulo Cesar Pereio e Sonia Mame. Os direitos autorais da peça para montagem santistas foram cedidos ao TEP pela sua detentora, a própria produtora Ruth Escobar.
Entre os destaques da produção santista, ênfase para a participação do músico Julinho Bittencourt, responsável por toda a trilha sonora e as composições originais da montagem que, durante dois anos, manteve vigília financeira ao GAPA, até que este se tornasse reconhecidamente de utilidade pública.
Outras produções conjuntas entre o GAPA, o TEP e a Unisanta vieram na sequência, como a montagem do espetáculo “Nuvem de Calças que, além dos prêmios conquistados em festivais nacionais e regionais, trouxe à cena artistas que acabaram se incorporando ao teatro profissional paulistano, como Miguel Hernandez, Kelly Alonso Braga, Claudia Apóstolo e Marcio Brasil. Sem contar Domingos Fuschini e Toninho Dantas, já fazendo sucesso na capital, que continuavam com o TEP.
Esta parceria marcou também importância com o desenvolvimento do “PROJETO AURORA”, um curta metragem em animação com massinha de modelar desenvolvido para campanhas de prevenção à AIDS direcionadas para crianças em idade pré- escolar. O produto final reecebeu elogios e apoio do Ministério da Saúde.
O projeto, dirigido por Gilson de Melo Barros, contou ainda com valiosas contribuições, como o roteiro para a encenação desenvolvido por Beatriz Rota-Rossi, os bonecos construídos pelo artista Luciano Paixão, os cenários criados por Luis Otávio Pinheiro e todo o apoio técnico dado pelo pessoal da TV Santa Cecília,
Vila Belmiro
Diversificando suas montagens entre biografias e obras poéticas (Vladimir Maiakóviski, Anais Nin, Frida Kalho – importantes personalidades habitadas no século XX) e autores tradicionais (Eurípedes, Garcia Lorca, Ariano Suassuna), ainda fazendo parte da Segunda Geração, o grupo, em 2003, volta-se às suas origens com a montagem do espetáculo “Vila Belmiro”.
Esse espetáculo abordouproblemas referentes ao período da ditadura militar. Desta vez o foco foi a cidade de Santos, contando novamente com uma série de participações especiais em seu processo de criação, como da atriz Mila Ribeiro (argumento), mais uma vez Beatriz Rota-Rossi (relatos históricos) e Lidia Maria de Melo (autora do livro “Raul Soares – Um navio tatuado em nós / base para pesquisa do texto).
“Nesse momento, o TEP já era uma referência de passagem para grande parte dos artistas que gravitavam no movimento teatral santista”, relembra Melo Barros. A montagem Vila Belmiro depois virou o curta-metragem de mesmo nome estrelado pela atriz Bete Mendes. Participaram Maria Tornatori, Vanise Peixoto, Zéllus Machado, Caio Martinês, Karla Araújo, Raquel Rollo e Ricardo Menezes, “todos dínamos do teatro santista atual, sem contar a participação do músico e diretor teatral Zeca Sampaio (músicas do curta) e das cantoras Cida Moreira e Deborah Tarquinio (cantoras no curta).
Teatro no ônibus
Além do GAPA BS, que será homenageado em nicho especial na exposição, outro momento de destaque é o dedicado ao “Projeto Limites – Dramaturgia para ônibus urbano”, com o qual o grupo vem se apresentando ao largo dos últimos 15 anos nos coletivos que circulam pela orla da praia da Cidade, geralmente no período relativo aos festejos natalinos.
Esse projeto tem despertado interesse também em outras localidades, levando o grupo a desdobrar-se em suas atuações por cidades como Peruíbe, Itanhaém, Mongaguá e Bertioga. Dada a longevidade do projeto, inúmeros artistas já integraram o seu elenco, alguns de passagem, outros nem tanto, permanecendo no grupo, por anos, como Fabíola Nascimento, Bruna Telly, Kátia Baliano, Zé Roberto Marx, Camila Baraldi, Sueli Ribeiro e João Paulo Ribeiro.
A exposição conta ainda coma uma seleção do material gráfico desenvolvido pela designer Márcia Okida que, nos últimos 20 anos, com raras exceções, foi a responsável por toda a criação imagética destinada à divulgação dos trabalhos desenvolvidos pelo TEP. Aproximadamente 30 imagens dão forma e conteúdo a este recanto da mostra.
Instalações
Duas instalações complementam a trajetória proposta pela exposição. Uma composta por camisetas referentes a mostras e festivais pelos quais o grupo passou nestes 45 anos, numa clara alusão ao cenário desenvolvido por João Batista Cardoso para o espetáculo Vila Belmiro, todo feito de camisetas brancas costuradas ao pano de fundo do teatro. A impressão é de uma arquibancada de um campo de futebol, ou uma grande lápide de “mortos sem sepultura”.
A outra instalação é realizada a partir de texturas variadas dadas pela sobreposição de boa quantidade de figurinos e fragmentos cenográficos de espetáculos diversos desenvolvidos pelo grupo.
A exposição deve permanecer aberta à visitação nos horários de funcionamento do prédio que a sedia, o Centro Cultural Patrícia Galvão, devendo permanecer aberto também durante as noites em que acontece o XIII FESCETE, estendendo-se portanto do dia 13 ao 27 de junho.