Prof. Fabião (à esquerda) durante o desenvolvimento de seu mestrado

Mais um docente do Colégio Santa Cecília amplia seu grau acadêmico. Desta vez o feito foi do conhecido professor Fabião, que concluiu um mestrado em Aquicultura e Pesca no Instituto de Pesca, em São Paulo. O tema de sua dissertação foi: “Lambari da Mata Atlântica Deuterodon iguape como isca viva na pesca recreativa do robalo-peva Centropomus parallelus”.

“Quando o aluno tem um profissional de ensino apaixonado pela sua área de especialização, como eu tenho pela Biologia, é incrível”, ressaltou Fábio Alexandre de Araújo Nunes, biólogo santista de 54 anos, sendo 35 vividos lecionando.

Fabião, como é conhecido, trabalha no Complexo Educacional Santa Cecília desde 1989 e tem grande vivência no meio político regional. “Fiz três mandatos como vereador, secretário de Meio Ambiente, de Cultura, candidato a deputado, a prefeito”, ressalta o biólogo.

O docente do Colégio Santa Cecília, que começou o mestrado aos 52 anos, comentou sobre a escolha do tema: “Grande parte da população brasileira vive no Bioma Mata Atlântica, composto pela porção oceânica, talassociclo (conjunto de ecossistemas marinhos), e a parte do limnociclo (ambiente dulcícola), águas interiores da planície costeira. O lambari (Deuterodon iguape) é uma espécie onívora importante na teia trófica do ecossistema”.

Lambari da Mata Atlântica

“O grande mote do trabalho é o estudo do lambari para ser usado como isca viva substituindo o camarão-branco (Litopenaeus schmitii), que é retirado do ambiente natural. Esse crustáceo passa boa parte da vida no ambiente de água doce e vai para o oceano, onde pode ser capturado, nas redes de arrasto, pelas embarcações da indústria pesqueira. Essa captura do camarão-branco para a pesca esportiva impede o recrutamento dos juvenis para o mar, logo o lambari cultivado em tanques de baixo custo pode ser comercializado pelas comunidades rurais (tradicionais e caiçaras), gerando renda complementar, afinal são pessoas conectadas com o território onde acontece a pesca recreativa”, destacou Fábio Nunes.

Fabião ainda elencou o outro “grande protagonista” de sua tese de mestrado: o robalo-peva (Centropomus parallelus), que representa, segundo o professor, “o principal objeto de desejo do pescador de águas interiores”. Dessa forma, os estudos focaram na predileção de iscas desse peixe, ou seja, se é viável utilizar o lambari como isca viva para a pesca do robalo.

Robalo-peva

Sobre o desenvolvimento dos estudos de mestrado, o biólogo contou que as pesquisas principais se deram no rio Itanhaém e em três de seus afluentes (rio Aguapeú, rio Preto e o rio Branco): “Dois pescadores de Itanhaém fizeram doze saídas, uma por mês, pescaram durante um dia de cada mês, sempre na mesma lua, com a mesma técnica de embarcação”. Os pescadores alternaram o uso da isca artificial que imita um camarão de 7cm, muito comum neste tipo de pesca, com o lambari como isca viva.

O professor do Colégio Santa Cecília, que desenvolveu o estudo junto com seu orientador, Prof. Dr. Marcelo Barbosa Henriques, pesquisador do Instituto de Pesca, destacou que foram 1.296 lances e capturados 190 robalos. “A partir destes dados fizemos várias tabelas de contingência e vários cruzamentos de dados para demonstrarmos que o lambari é tão eficiente quanto a isca artificial. Um detalhe: sendo que ele incrementa uma cadeia local, diferentemente de se comprar uma isca importada.”.

Fabião definiu toda a experiência de seu mestrado como “fantástica”, comentou um fato curioso: dois dos profissionais envolvidos na qualificação e na defesa da dissertação foram seus alunos no ensino médio e no cursinho, o Prof. Dr. Camilo Dias Seabra Pereira e a Profa. Dra. Milena Ramires, ambos docentes da Unisanta. Foi muito emocionante e especial.

A defesa de dissertação do mestrado no Instituto da Pesca foi feita no formato clássico, com 50 minutos de exposição. Os membros da banca examinadora eram, além de seu orientador, Prof. Dr. Marcelo Barbosa Henriques, o Prof. Dr. Walter Barella (que já lecionou na Unisanta) e o Prof. Dr. Camilo Dias Seabra Pereira.

Professor Fabião ainda ressaltou que não pretende parar suas especializações e pesquisas acadêmicas. “Já estou em fase de preparar meu projeto de doutorado, que está conectado particularmente com a Mata Atlântica. Vai dar bastante trabalho, mas muita alegria. Pretendo em três ou quatro anos concluir o meu doutorado”.

O biólogo também se disse orgulhoso pelos potenciais resultados práticos que seu mestrado pode apresentar. “Esse estudo que conclui seguramente terá uma série de desdobramentos. Vamos apresentá-lo à comunidade pescadora esportiva, às associações, interagir com o segmento e valorizar e difundir a modalidade do pesque e solte”.

Por fim, o multifacetado professor Fabião afirmou: “Ninguém é detentor do saber, e os saberes são dinâmicos. O que não se conhecia quando eu me formei em 1987, hoje se conhece”. O docente do Colégio Santa Cecília concluiu sua fala, citando sua epígrafe de mestrado (texto curto que caracteriza uma convicção), uma frase de Edgar Morin, sociólogo francês que completa 100 anos em julho deste ano: “A inquietude não deve ser negada, mas remetida para novos horizontes e se tornar nosso próprio horizonte”.