Com o objetivo de coletar sedimentos para embasar o banco de dados de um software, que dará suporte a futuros investimentos no estuário de Santos, três barcos com pesquisadores da Universidade Santa Cecília (UNISANTA) e do Instituto Oceanográfico da USP, integrantes do Projeto EcoManage, saíram na manhã desta terça-feira (16), da praia de Santa Cruz dos Navegantes, dando prosseguimento a mais uma etapa no Projeto.

O objetivo principal desta coleta é analisar organismos que vivem neste meio e quantificar os materiais tóxicos que eventualmente possam estar presentes.

O EcoManage – Sistema Integrado de Gerenciamento Ecológico de Zonas Costeiras (Integrated Ecological Coastal Zone Management) – é um consórcio internacional, financiado pela União Européia (UE), que investirá 1,4 milhões de euros em pesquisas a serem desenvolvidas simultaneamente em três ecossistemas litorâneos da América do Sul: no Chile, Argentina e no Brasil (estuários de Santos e São Vicente).

Participam seis pesquisadores da UNISANTA, coordenados pelo prof. Gilberto Berzin, e seis da USP, sob a coordenação da dra. Eduinetty Ceci de Souza. As duas são as únicas universidades brasileiras que integram o Projeto.

De acordo com o pesquisador João Miragaia Schimegelow, coordenador do curso de Biologia Marinha da UNISANTA, serão estudados três aspectos do estuário, ecológicos, hidrodinâmicos (movimentação da água) e sociais. “Analisaremos amostras dos bentos, organismos que vivem na lama do fundo do mar e sofrem influência da poluição, que pode alterar a cadeia alimentar em geral”.

Serão feitas ainda medidas da situação hidrodinâmica (altura das marés), correntometria (velocidade das correntes), desde a superfície ao fundo; batimetria (medida de profundidade), e medidas da estratificação da coluna líquida (pressão, temperatura e salinidade). “Com o correntômetro, por exemplo, mediremos a velocidade e a direção das correntes para saber como os materiais do estuário entram e saem para regiões costeiras adjacentes”, afirma Schimegelow.

E por último, em outra etapa do projeto, serão estudados os aspectos sociais, analisando a população ribeirinha, que vive em palafitas, e como essas pessoas se relacionam com o meio (estuário).

Para o pesquisador e professor da UNISANTA, Roberto Borges, geralmente os aspectos sociais e econômicos são deixados de lado quando se realiza um trabalho na área de Biologia. “Desta vez a proposta é exatamente integrar as condições de habitação e vida, com as análises de comunidades marinhas, por exemplo. Queremos entender como as pessoas que moram nas áreas ribeirinhas contribuem para a poluição do estuário, com lixos, esgotos, ocupação e degradação de áreas”, conclui Borges.

Aula prática – Além dos professores-pesquisadores, também estão engajados no projeto cinco estagiários dos cursos de Ciências Biológicas (Biologia Marinha) e Engenharia Civil, da UNISANTA.
Para Mauricio Possedente dos Santos, aluno do 2º ano de Biologia Marinha, a UNISANTA valoriza e incentiva os trabalhos de campo ao longo do Curso. “Acho muito importante participar deste Projeto porque estou vendo na prática tudo que é falado em sala de aula, e a qualidade do aprendizado prático é muito melhor para o futuro profissional.”

Laboratório volante – A análise dos seres vivos será imediata, em um laboratório volante instalado na Marina Sangava. Os barcos se revezarão nas coletas, em pontos internos do estuário no lado de Santos e no lado de São Vicente, além de duas saídas na baía.

Modelo Matemático – Segundo o prof. Gilberto Berzin, um dos coordenadores do EcoManage pela UNISANTA, a conclusão do projeto e entrega dos resultados está prevista para dezembro de 2007. “O trabalho será concluído depois da produção de um programa de computador (software), para, através de simulações, entendermos melhor como o estuário funciona, com a finalidade de gerenciar uma região portuária. As informações coletadas hoje farão parte do banco de dados do modelo matemático que será desenvolvido”, afirma Berzin.

O software servirá para simular e prever antecipadamente eventuais danos ou interferências que possam ser causadas pela atividade portuária.
“Esperamos que este Modelo sirva de subsídio para que os tomadores de decisões de nossa região, como prefeituras e órgãos fiscalizadores, possam analisar e avaliar futuros investimentos no estuário, sem danos ambientais, econômicos e biológicos, visando ao autodesenvolvimento sustentado e à melhoria das condições do nosso estuário e da Baixada Santista como um todo”, conclui o coordenador do Projeto.

Agenda – As coletas prosseguirão até a próxima sexta-feira (19), pela manhã e à tarde, em cinco pontos internos do estuário de Santos e São Vicente, escolhidos de forma estratégica.

Já no começo do mês de setembro, serão iniciadas as saídas a manguezais, as quais se realizarão a cada dois meses. Para o mesmo mês também está marcada a 2ª reunião do Projeto em Lisboa, Portugal. A primeira reunião foi realizada em fevereiro deste ano, na Universidade Santa Cecília. Participam do EcoManage a Holanda, Itália, Portugal, Argentina, Chile e Brasil.