Outro docente da Unisanta consultado sobre o assunto foi o mestre e doutor em Ecologia e coordenador do Mestrado em Auditoria Ambiental da Unisanta, prof. Dr. Roberto Pereira Borges.
O coordenador iniciou sua análise diferenciando os três biomas brasileiros mais impactados com as queimadas. “Esses biomas apresentam características de vegetação e solo bastante distintas, bem como influência de regime de chuvas diferente”, pontuou Borges, que descreveu a Amazônia como um “mosaico de características fitofisionômicas, com variada composição de formações, incluindo manchas de cerrado”, onde os focos de queimada são mais ligados à expansão da fronteira agrícola e atividade mineradora (muitas vezes ilegal).
Ainda segundo o docente, o fogo já é mais tradicional nos biomas do Pantanal e Cerrado; no primeiro, ligado a um costume de queimar o pasto para renovação que, em tempos de seca como este, pode fugir do controle e se expandir de forma descuidada. Sobre o “menosprezado” Cerrado (em termos de conservação), ele afirma que o fogo é uma rotina natural, potencializada e distorcida pela expansão da fronteira agrícola. Borges ainda destacou a anormalidade no volume de queimadas nos três biomas citados. “Na proporção atual, em nenhum desses biomas as queimadas ocorrem nessa escala”, destacou o coordenador do Mestrado em Auditoria Ambiental.
Quando questionado sobre a relação entre o agronegócio e as queimadas, Roberto Borges não generalizou toda a classe, inclusive retirando do pequeno agricultor grande parte da parcela de culpa que muitas vezes lhe é atribuída. Mas foi incisivo com a maior parcela dos grandes produtores: “As forças mais atuantes vão no sentido mais imediatista do lucro”, destacou o docente, que desenvolveu mais seu raciocínio: “A relação com as queimadas é a expansão da fronteira agrícola. Isso é histórico, não é fenômeno recente, mas está mais evidente e intenso agora e, para piorar, a situação ambiental também está mais grave, o que faz com que esse tipo de intervenção seja mais sentido e mais problemático”.
Borges definiu a gestão das lideranças políticas brasileiras na pasta do meio ambiente como: “Nada inteligente e muito menos patriótica”. De acordo com o mestre em Ecologia, a atual administração só favorece alguns poucos com uma conduta ignorante e irracional que só gera a “necessidade de mais irrigação, mais adubação e mais gasto energético para produzir”. Ele ainda comentou a cobertura jornalística brasileira sobre o assunto. “Falta discutir o tema de forma mais objetiva, mostrando as raízes do problema. Claro, um tamanduá com as patas queimadas chama a atenção das pessoas, mas deve-se ir além.”, afirmou Borges, preocupado com a banalização de um tópico tão importante.
Sobre as possíveis soluções ou medidas para melhora do quadro climático brasileiro, o professor paulistano ressalta: “Os especialistas em clima dizem que estamos descendo uma ladeira sem freios. Precisamos arrumar os freios para aí começar a reduzir a velocidade”. Ele ainda continuou, com uma ressalva: “Com clima, não se pode esperar uma solução que dê retorno imediato. Há necessidade urgente de ‘consertar os freios e começar a brecar’, ou seja, precisamos reduzir emissões, e o aumento de florestas é a melhor forma de capturar carbono da atmosfera. Estamos fazendo o contrário!”.
O prof. Dr. Roberto Pereira Borges concluiu seu diagnóstico com a seguinte mensagem: “Há urgente necessidade de uma gestão ambiental em macroescala no País, feita de forma séria, ponderando os vários aspectos da economia inseridos no meio ambiente. Conhecimento e ciência são fundamentais neste momento, como forma de se buscar a manutenção do meio ambiente concomitantemente com a manutenção dos meios de produção. Não haverá produção de feijão, arroz, milho e soja com custos aceitáveis se o meio ambiente for degradado a tal ponto de se tornar inóspito. E estamos indo nessa direção.”.
Leia também:
Especial Queimadas 1 – “A maioria das queimadas são intencionais”, afirma Miguel Petrere, PhD e docente da Unisanta