Projeto bebê-ovo trouxe aos alunos do 8.º ano a experiência de como é cuidar de um recém-nascido

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Os índices voltados para a gravidez na adolescência no Brasil são considerados muito altos e preocupantes. Recentemente, foi constatado um número de 68,4 nascimentos para cada mil adolescentes entre 15 e 19 anos, representando, assim, quase 50% a mais do que a média mundial, que estava estimada em 46. Tudo isso é apontado pelo relatório da Organização Pan-Americana de Saúde (PAHO).

No Brasil, calcula-se que mais de 400 mil adolescentes se tornam mães por ano. Isso significa, então, que cerca de 18% dos brasileiros que estão nascendo são filhos de mães adolescentes.

Com o objetivo de alertar os alunos sobre as responsabilidades da gravidez na adolescência, o Colégio Santa Cecília criou o projeto bebê-ovo. A iniciativa da professora Jennifer Junot Arins de Sales trouxe para as crianças do 8.° ano uma experiência de como é cuidar de um bebê, por uma semana, de uma forma leve e diferente.

Como funciona – Inicialmente, os alunos levaram à aula um ovo de galinha, limpo e lavado. Ao lado da professora Jennifer, as crianças foram orientadas a esvaziarem o ovo, tornando-o mais frágil. Assim, com o ovo vazio, os estudantes precisaram cuidar dele como se fosse seu filho, criando, então, nesse trabalho, uma sensação de responsabilidade que eles ainda não estão acostumados a ter.

Diariamente, os alunos precisaram relatar toda a sua rotina ao lado do bebê-ovo: o que eles comeram, quais os lugares que eles foram, que eventos, o que fizeram com o bebê. Tudo isso precisou ser escrito num diário disponibilizado em arquivo de Word ou digitalizado e entregue à professora Jennifer no dia da conclusão do trabalho. Junto a isso, toda a experiência foi registrada com fotos anexadas no diário e entregue no prazo.

Para algumas eventualidades, foi distribuído aos alunos uma espécie de “justificativa” para que eles pudessem avisar, nos lugares frequentados, sobre a presença do bebê-ovo e o porquê de estarem ali. Porém, dentro do trabalho, houve um escape: em duas ocasiões ou eventos, os alunos puderam deixar o bebê com outra pessoa, mas, para tal, foi necessário justificar o motivo e com quem o bebê ficou na entrega do trabalho.

Buscando trazer uma consciência sobre os perigos da gravidez na adolescência para seus alunos, a professora Jennifer comentou que esse trabalho foi uma forma de advertir que isso também pode acontecer com eles (os estudantes).

“Deixei isso muito claro pra eles, (com o) cuidado que têm que ter com aquilo. No início é tudo festa, mas a ideia era que percebessem quanta responsabilidade está envolvida em ter uma ‘vidinha’ pra cuidar e ter que carregar pra todo lado, deixar de fazer algo porque está com o bebê”, alerta Jennifer.

Essa foi a primeira vez que o projeto foi realizado presencialmente após a pandemia. A atividade teve duração de sete dias, contando com um final de semana no meio. Por quê? “Tiveram saída, shopping, cinema, baladinha, teve tudo”, comenta a professora do Ensino Fundamental.

Com isso, os alunos se acostumaram e passaram a entrar na brincadeira. Jennifer destacou que, em alguns casos, percebeu-se um comportamento mais fraternal, cuidadoso, com, alguns, inclusive, bastante detalhistas com o ovo.

“Teve um que fez um canguru, pra trazer o bebê, com uma caixinha e ele andava com o ovo pendurado, como se fosse um colarzinho. A caixa toda fechada. Muito legal. E o ovinho dele, super bem feito”, destacou Jennifer a empolgação dos alunos com o trabalho.

Os alunos ficaram empolgados com o projeto. “Uma experiência para a minha vida, vendo como é ser mãe e cuidar de um pequeno ‘ser’ frágil”, comenta a aluna Maria Luiza do 8.° ano do Ensino Fundamental.

Também aluna do 8.° ano, Letícia Tegami comentou que essa foi uma experiência bastante divertida, mas afirmou que às vezes ficou nervosa com as chances de acontecer algo que quebre o bebê.

“Estou cuidando dela (minha filha, Ariel – os alunos deram nomes aos seus filhos no projeto) como um bebê, realmente. Dei mamadeira, brinco, coloco roupinha e muito mais. Inclusive meu pai não me deixou andar no banco da frente do carro por que estava com uma ‘recém-nascida’”.

Conscientização – Como forma de complementar uma das matérias da aula de ciência, a professora Jennifer disse que esse foi um projeto ligado à matéria reprodução sexual e que serviu como forma de conscientizar os alunos sobre os perigos da gravidez na adolescência.

Nesse sentido, Jennifer propôs uma discussão sobre o alto número de jovens, sobretudo as que engravidam muito cedo.

O bebê-ovo não pôde sofrer danos ou ser substituído. Caso isso ocorresse, o aluno deveria entrar em contato com a professora, imediatamente, para cumprir alguns passos e, dessa forma, continuar o trabalho.

“Mandei o nome de uma doença que normalmente acomete bebês neonatos, de poucos dias, e que pode levar à morte. (Assim), eles tiveram que fazer uma pesquisa, à mão, para me entregar (no dia seguinte), que seria, então, o resultado do porquê o bebezinho dele morreu. (Dessa forma) eles puderam fazer outro bebe (já no dia seguinte e seguir no projeto)”, conclui Jennifer, falando sobre as consequências que o aluno sofreu se quebrasse o bebê-ovo.

Neste ano, o projeto envolveu cerca de 90 alunos. Para as turmas do 8.º A e B, o projeto bebê-ovo teve início na última segunda (16) e acabou no próximo dia 23 de maio. Para as classes do 8.°C, começou no último dia (17) e terminou no dia 24.

Confira mais fotos dos bebês-ovo feitos pelos alunos: