A bióloga Erika Viveiros Beltran analisou a recuperação de trecho do manguezal, em sua dissertação de mestrado em Ecologia, apresentada no Consistório da Chancelaria, no dia 18 de dezembro.

 Trecho de manguezal do Rio Boturoca, em São Vicente, que havia sido aterrado para execução de obras de utilidade pública apresentou uma boa recuperação, após a retirada do aterro determinada pelo órgão ambiental, o que foi seguido por replantio de mudas e, em grande parte, pelo acompanhamento da regeneração natural.

Os experimentos foram feitos pela bióloga Erika Viveiros Beltran, com participação de alunos da graduação em Ciências Biológicas da Unisanta, em uma área de 144 metros quadrados, durante o período de maio de 2011 a maio de 2012, sob a orientação do professor doutor Fábio Giordano.

A bióloga Erika observou a regeneração do manguezal tanto por causas naturais, graças à presença dos chamados propágulos, estruturas que se desprendem de plantas adultas e se fixam ao solo lodoso do manguezal gerando outras plantas idênticas, como pelo replantio de mudas.

 A experiência apontou a espécie Laguncularia racemosa como a melhor adaptada às condições do terreno, para “iniciar uma sucessão secundária em manguezais impactados por aterro”. A espécie, conhecida popularmente como mangue branco ou tinteiro, chega a medir 18 metros de altura.

A diferença de cotas (alturas diferentes do terreno em relação ao nível médio da maré) foi um fator preponderante para a regeneração, com o estabelecimento de propágulos. “Mecanismos naturais de recrutamento, tais como fontes de propágulos, possibilitaram o sucesso do processo regenerativo no manguezal do Rio Boturoca.

Erika fala sobre a importância dos manguezais, “ecossistemas costeiros que servem de abrigo para várias espécies da fauna, retêm os sedimentos carreados pelos cursos d’água, reduzem a erosão costeira e auxiliam na manutenção dos estoques pesqueiros. Embora protegidos por lei, uma vez que são considerados áreas de preservação permanente (APPs), sofrem efeitos degradantes causados por pressões antrópicas (do homem), tais como: expansão da mancha urbana, introdução de estruturas náuticas, construção de rodovias, ferrovias e expansão portuária”.

Seguem detalhes técnicos sobre a pesquisa:

“Uma área de 144 m² foi dividida em seis parcelas (P1 a P6), as quais foram subdivididas em seis quadrados (Q1 a Q6). Foram sorteados quadrados para monitoramento do crescimento de 57 indivíduos em regeneração natural, 120 indivíduos juvenis transplantados do manguezal preservado; e 17 plântulas transplantadas na área demarcada”.

“Foram medidos: a altura, o número de folhas e o diâmetro à altura da base (DAB) dos indivíduos em regeneração e das plântulas; e altura e número de folhas dos indivíduos juvenis. Os indivíduos em regeneração natural apresentaram uma taxa de crescimento médio em altura de 5,9 cm.mês-1, o número de folhas aumentou 7,5 vezes; o crescimento médio do DAB foi 1,1 mm.mês-1 e a sobrevivência foi de 100%”.

“Os juvenis transplantados apresentaram uma taxa de crescimento médio em altura de 5,4 cm.mês-1, o aumento em folhas foi de 8,5 vezes no período; e a taxa de sobrevivência foi de 67,5%. As plântulas transplantadas tiveram taxa de aumento médio em altura de 4,8 cm. mês; o aumento em folhas foi de 12,5 vezes no período; e 1,2 mm.mês-1 em DAB. A taxa de sobrevivência foi de 100%”.

“O plantio direto de indivíduos juvenis foi bem sucedido e as perdas ocorreram nas parcelas próximas à região sombreada do manguezal preservado. Laguncularia racemosa parece ser a espécie melhor adaptada a iniciar uma sucessão secundária em manguezais impactados nas condições de regeneração após sofrer um aterro, pois a diferença de cotas no terreno foi um fator preponderante para o estabelecimento de propágulos. A presença de mecanismos naturais de recrutamento, tais como fontes de propágulos, possibilitaram o sucesso do processo regenerativo do manguezal do rio Boturoca”.