Em vigília com a família, no hospital em que meu pai, Milton, esteve internado em São Paulo, escrevi essas linhas que pretendem atingir o Infinito;  romper fronteiras, na gratidão ao homem  cuja solidariedade aos abandonados da justiça,  simples e oprimidos, mata  a fome de pão, conhecimento e  amor dos que não foram chamados à cena.

Milton adotou Santos,  projetando-a na área educacional, cultural, esportiva e social. Caçula dos cinco filhos de Benedicta e Nicolau Teixeira,   órfão de mãe aos cinco anos, foi entregador  de lavanderia, vendedor de balas no cinema. Estudou à noite e formou-se em Direito, já casado com Nilza, e com duas filhas pequenas.

Navegou contra a corrente, com coragem, perseverança, audácia e  paixão.  Milton e Nilza  venderam tudo que tinham,  para comprar uma pequena escola primária, com  26 alunos. A esposa  e a cunhada Emília o ajudaram no ideal, que continuou com os filhos e muito sacrifício da família e originou o importante Complexo Educacional Santa Cecília.  No começo, para manter a família,  foi aprovado no concurso para Agente Fiscal dos Tributos Federais, cujas 800 vagas eram disputadas por 35 mil pessoas. Nomeado para a Alfândega de Itajaí, onde o acompanhei, menina, enquanto a família cuidava do Santa Cecília, foi depois transferido para Santos. Abriu mão desse cobiçado  cargo, para poder dedicar-se mais à escola.

O Santa,  sua paixão. No Ensino Superior, criou a primeira Faculdade de Engenharia noturna, com os melhores mestres e laboratórios, para elevar o aluno trabalhador,  e que deu origem a prestigiosos cursos e avanços. Uma paixão à humanidade. O esporte, que incentivou em tantas modalidades, natação, vôlei , basquete; o Santos FC, a quem deu sua vida, como vice-presidente de Modesto Roma, depois presidente e  campeão paulista em 1984 . Transmitiu a paixão à  família, especialmente ao filho e presidente Marcelo, de muitas glórias e títulos. A Cultura, que Milton enalteceu, em entidades, em premiadas obras  e na oratória privilegiada. Líder aglutinador, em clubes, Academias, Sindicato das Mantenedoras e entidades em que sua genialidade mudou o modo de fazer história.

Nunca deixou de ser menino, de estar descobrindo. O menino que vê pelo buraco da fechadura, a exemplo de Nelson Rodrigues.

No último  31 de dezembro, comemorou radiante,em família,  o aniversário de sua filha Sílvia. No dia primeiro  de 2012,  acordou sonolento. Os dedicados médicos Renato de Oliveira Freitas – clínico de toda vida – e Sergio Paulo de Camargo prontamente o atenderam. Foi operado de imediato pelo neurocirurgião dr Marcos Magário e equipe, na Santa Casa, com o sempre presente provedor Manuel Neves e competente corpo clínico. Transferido para  São Paulo, sob cuidados do dr Fábio Gianini, na UTI, onde nos encontramos  com a família, ele continua a fazer admiradores pela espiritualidade e luta. E, profundo conhecedor da alma feminina,  a encantar, com seus olhos azuis.

Olhos que parecem espreitar buracos de fechadura maiores, da extensão do céu azul. Em seus olhos de menino, mais sonhos de solidariedade  e amor. “Vivemos para servir”, repetia sempre. “Fora da Caridade não há salvação”.“Deus é o Maior”.

Em casa, no seio da  família desde maio,sob os  cuidados da equipe dos ex-alunos  do Colégio Santa Cecília , médicos Jorge Thadeu e Júlio Thadeu de Oliveira, na madrugada de 10 de setembro, Milton morreu, horas depois da  subida da  Nossa Senhora ao Monte Serrat, da qual era devoto.Com  bondade, sabedoria e fé,  seguiu viagem, iluminado em direção ao Altíssimo e a novas e maravilhosas possibilidades, na Eternidade.