Não há como fechar os olhos e ignorar mais o alerta dos pesquisadores sobre o derretimento das geleiras e outros efeitos do aquecimento global. É preciso que a sociedade comece a planejar agora obras de contenção para conviver com o possível aumento do nível do mar esperado para as próximas décadas, aconselha o engenheiro e professor Gilberto Berzin, da Universidade Santa Cecília (Unisanta).
Berzin, com o biólogo Renan Braga Ribeiro, elaborou em computador três cenários de aumento do nível do mar para a Cidade de Santos: de 0,5; 1,0 e 1.50 metros, em relação ao nível máximo atual, até o fim do século. A pesquisa permite observar com detalhes o alagamento de bairros e ruas santistas.
O estudo se baseou em dados do Núcleo de Pesquisas Hidrodinâmicas (NPH) da Unisanta, onde Berzin é um dos coordenadores; nas conclusões e softwares avançados da pesquisa internacional EcoManage- Sistema Integrado de Gerenciamento Ecológico de Zonas Costeiras, da qual a Unisanta participou, de 2005 a 2008, e em números e previsões de oceanógrafos e climatologistas conceituados. Em computador, Berzin e Ribeiro simularam três cenários. No pior deles, em que o mar subiria 1,50 metros, a Ponta da Praia, o Canal 3 e o Porto seriam os locais mais afetados, se não houver obras de contenção.
Áreas alagáveis
Os cenários antecipam possíveis efeitos provocados pela elevação do nível do mar em 0,5; 1,0 e 1,5 metros, sempre com referência ao nível máximo atual nas marés de sizígia, ou seja, serão as áreas alagáveis quando de marés altas (ver áreas azuis nas imagens).
Com a finalidade de mostrar o potencial dos resultados obtidos, foi preparado também um zoom detalhado da área de Santos denominada Ponta da Praia, no Cenário. 4.
Cenário 1 – Só com um aumento de 0,50 m, pode-se verificar que nas marés mais altas a faixa da praia ficaria encoberta pela água, e algumas pequenas áreas da Ponta da Praia seriam alagadas. As zonas Noroeste e Alemoa seriam também alagadas. O Porto de Santos, por ter sua estrutura mais alta, ficaria nesta fase livre de inundações.
Cenários 2 e 4 (zoom) – Com mais 1,0 m , constata-se que toda a faixa da areia da praia e grande partes dos jardins seriam alagados a cada maré mais alta. Diversas pequenas áreas junto à praia, muito bem conhecidas dos santistas, seriam alagadas no bairro do Gonzaga, nas primeiras quadras junto ao Canal-3 e entre os Canais 4 a 6. Boa parte da Ponta da Praia seria atingida nas marés mais altas, assim como a área portuária das proximidades. A Zona Noroeste seria totalmente alagada.
Cenário 3 – Com 1,50 m, será o caos total na urbanização da Cidade. Grandes áreas de bairros seriam inundadas na altas marés. O Porto seria duramente prejudicado. A vista geral do Cenário 3 é o suficiente para se concluir sobre os efeitos do aquecimento global na cidade.
Explica Gilberto Berzin: “Em qualquer um dos cenários, é preciso considerar não apenas o efeito dos alagamentos. Deve-se sempre levar em conta o efeito das ondas, que será muito destruidor, mesmo sem grandes ressacas, pois está na sua constância (várias por minuto) este poder de danificar o que encontrar no seu caminho. Os jardins seriam destruídos assim como o pavimento, calçadas das ruas, as garagens e pátios dos prédios seriam invadidos pelas águas e ondas, enfim, o caos”.
Nos manguezais
O manguezal, por estar localizado na região costeira, é fortemente influenciado pelo regime das marés. Evidentemente, o mar sofrerá com essas alterações provocadas pelo aquecimento global. Sabe-se que os manguezais são importantes estabilizadores da linha de costa, devido à sua grande adaptabilidade, além da retenção de sedimentos.
O aumento do nível do mar também causaria o aumento da salinidade no estuário, provocando a morte das espécies arbóreas encontradas nos manguezais, pois prejudicaria sua respiração e retenção de água. Com isto, uma parte dos manguezais desapareceria em todo o Estuário, pois várias espécies respiram por suas raízes e estas ficariam permanente afogadas.
O Brasil é coberto por aproximadamente 10.000 Km² com áreas de manguezal, no Estado de São Paulo estão apenas 231 Km². Um estudo recente, dentro do programa Ecomanage da Unisanta (A.F.P. Sampaio et. Al., 2008), calculou a cobertura de manguezais no Sistema Estuarino de Santos numa área de 71,3 Km².
Obras de contenção na orla podem evitar danos aos moradores e à economia de Santos