Dois problemas graves mobilizaram os debates no Seminário Aquecimento Global: O Pensar e a Força Local, promovido pela Universidade Santa Cecília (UNISANTA), durante a Semana do Meio Ambiente: um atual, “o alto nível de bactérias devido ao esgoto urbano no estuário de Santos-São Vicente”, e outro, a longo prazo, com a perspectiva de alagamento de terras daqui a cem anos, quando, devido ao efeito estufa, estima-se que o nível médio dos oceanos esteja pelo menos 30cm acima do atual. Se isso ocorrer, a Baixada Santista poderá ter uma população de “refugiados ambientais”.
O alerta foi dado pelo professor Fábio Giordano, coordenador do Projeto EcoManage – Sistema Integrado de Gerenciamento Ecológico de Zonas Costeiras – na UNISANTA, projeto que vem sendo financiado pela Comunidade Européia nos estuários de Santos, Baía Blanca, na Argentina e no Fiorde de Aisén, no Chile. Giordano fez essa advertência durante palestra sobre O Aquecimento Global e as implicações biológicas.
Ele afirmou, tendo como base dados dos últimos 17 anos do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (Intergovernamental PanneI Climatic Changes – IPCC), que a tendência é que o nível do mar aumente cerca de 3,3 mm por ano, se nada for feito para se atenuar o agravamento do efeito estufa. “Na região nem todos sofrerão as conseqüências, mas as pessoas que vivem em submoradias em áreas de manguezal ou em locais mais baixos topograficamente na cidade terão que abandonar suas casas. Caso isso venha a ocorrer, algumas das áreas, também na Ponta da Praia poderiam vir a ser alagadas”, disse o professor.
Lembrou Giordano que a Ponta da Praia foi, até a década de 1930, uma área com “um pequeno manguezal”.
Outro dado preocupante, e que já pode ser observado na região, segundo Giordano, é a poluição das águas interiores do estuário devido ao esgoto produzido. “As habitações em lugares impróprios que não estão devidamente regularizadas são as principais produtoras desse esgoto. Mas não podemos esquecer que as pessoas dessas comunidades não podem ser vistas como culpadas, mas sim como cidadãos que sofrem as consequências de uma sociedade cada vez mais injusta”, disse o professor.
Áreas piores – Fábio Giordano, que é doutor em Ecologia pela USP, mencionou as conclusões de duas grandes campanhas para coleta de amostras e medidas de bactérias Coliformes fecais (colimetria), feitas no estuário de Santos, pelo coordenador do Núcleo de Pesquisas Hidrodinâmicas da Unisanta (NPH), engenheiro Gilberto Benzin. As medições, outra importante iniciativa do EcoManage, visaram mapear a contaminação por esgotos na sua parte externa (baía) e na interna (inclusive na entrada de alguns rios da região).
Foram as coletas de maior abrangência feitas até agora na região, segundo Berzin. As amostras foram coletadas no Inverno de 2006 e no final do Verão de 2007, em mais de uma centena de pontos, como parte do levantamento do cenário estuarino para o Projeto EcoManage, pelo NPH da UNISANTA. O trabalho foi desenvolvido em parceira com a Sabesp, “órgão público empenhado em cooperar com o Projeto na busca de soluções para o problema”.
Em alguns pontos, a quantidade de coliformes fecais, por 100 ml de água, chega a contabilizar 10 mil NMP (número de partes por milhão). “As áreas mais preocupantes localizam-se no estuário que banha a parte posterior da Ilha de São Vicente, em bairros de Santos e São Vicente; nas regiões da entrada do Estuário do Porto de Santos, no canal próximo a Vicente de Carvalho, em Guarujá, e também em algumas áreas de São Vicente”, disse.
Se nada for feito para diminuir a quantidade de esgotos, o cheiro poderá inclusive a prejudicar investimentos imobiliários próximos a estas áreas”, alertou o professor Giordano.
Soluções – “A mudança deve começar dentro de cada um de nós. Andar mais de bicicleta, tomar banhos rápidos, não desperdiçar alimentos, apoiar empresas com responsabilidade social. Mas isso ainda é pouco. É preciso também um governo que se preocupe com isso”, disse o economista José Pascoal Vaz, do Núcleo de Estudos e Pesquisas Socioeconômicas da Unisanta, que falou sobre Aspectos sociais do agravamento do efeito estufa.
“Em resumo, o Planeta está com febre e é preciso fazer algo”, disse o professor Alfredo Cordela, que falou sobre Ação global, percepção de limites e necessidade. “Precisamos pensar em uma sociedade culturalmente mais participativa, politicamente mais ética, economicamente mais eficiente e com pessoas interiormente mais equilibradas. Enfim, uma comunidade sustentável.”, acrescentou Cordela, que destacou a importância da primeira palestra do evento, Vida e Existência – O último homem, ministrada pelo comportamentalista e colunista de A Tribuna, Luiz Alca de Sant’Anna.
“A queda é iminente em uma sociedade que vive sob os conceitos do autocentrismo. Onde cada um se preocupa com si mesmo e mais ninguém, a famosa síndrome do ser perfeito e auto-suficiente”, disse Luiz Alca de Sant’Anna. “Pensar em um mundo melhor envolve a todos e enquanto o Homem não perceber que todos esses problemas são reflexos de suas próprias ações nada será resolvido”, acrescentou.
Para o editor do Caderno de Meio Ambiente de A Tribuna, Marcos Fernandez, um fator importante para amenizar o aquecimento global é a reutilização dos produtos que todos consomem. “Hoje em dia temos produtos que utilizam o esgoto, a casca do ovo, o óleo que pinga do frango de padaria… E por que eles não estão no mercado? Infelizmente a resposta está na nossa lata de lixo. Santos, por exemplo, recicla apenas 0,4% do lixo que poderia ser reutilizado”, lembrou Fernandez.
Para o pesquisador da UniSantos Gilberto Rodrigues, que abordou o tema Paradiplomacia das cidades e meio ambiente global, um grande passo para amenizar o aquecimento global é a paradiplomacia, que consiste em promover a autonomia das cidades para tomar decisões relacionadas ao meio ambiente e à implantação da Agenda 21. “A Agenda 21 é o documento mais importante do século e é preciso que seja retomada”, completou.
O Seminário Aquecimento Global teve o apoio do Sistema A Tribuna de Comunicação e do Instituto Topos, pela Semana do Meio Ambiente, evento que integrou a programação da Semana José Bonifácio.
Participaram do evento também o gerente do CIESP-Cubatão, Valmir Ramos, que acrescentou que em Cubatão, a Agenda 21 da cidade já está pronta e diversas ações já estão sendo realizadas para colocá-la em prática; Arlindo Salgueiro, do Movimento Pró-Memória José Bonifácio, que tem uma grande ligação com a natureza e fez de seus pensamentos ações, no século 17; e a alta direção da Universidade, a reitora Sílvia Ângela Teixeira Penteado, a presidente Lúcia Maria Teixeira Furlani, a pró-reitora acadêmica Zuleika Senger Gonçalves e o pró-reitor comunitário Aquelino José Vasques.