A edição em Português já está pronta e haverá versões em espanhol e inglês. Na dissertação,  o eng. e  prof. paulista Cláudio Antonio Garcia alerta sobre perigos à saúde dos derramamentos durante a transferência de alguns produtos que possam ser cancerígenos.  Ele estudou 4 terminais marítimos de petróleo: no Brasil, no México, no Equador e na Colômbia.  

Durante a transferência dos produtos nos terminais portuários de petróleo e seus derivados, podem ocorrer pequenos derramamentos, e os componentes menos voláteis da gasolina derramada, como o benzeno e o pireno, que são carcinogênicos, tendem a permanecer no local contaminado por um período extenso, mesmo diluído na água do mar e ou salobra.

Essa é uma das conclusões da dissertação de mestrado de Ecologia do engenheiro paulista Cláudio Antonio Garcia, aprovada em 2016  pela Universidade Santa Cecília (Unisanta), de Santos. O engenheiro analisou a contaminação por vazamentos nos terminais da Petrobrás, em São Sebastião, da Petroecuador, no Equador, da Pemex, no México, e da Ecopetrol, na Colômbia, durante 20 anos.

É incomum uma dissertação de mestrado ser editada em livro sem custos para o autor, que ficou surpreso com o interesse despertado junto à editora Novas Edições Acadêmicas (NEA), com sede na Alemanha, a partir de um resumo da Internet.  Ele foi orientado pelo prof. dr. Aldo Ramos, com a co-orientação  do prof dr. Álvaro Luis Diogo Reigada.

Eis algumas das observações do seu estudo, que terá versões em espanhol e inglês.

Contaminação – Tanto o óleo cru como os produtos de refino são acidentalmente liberados do local de armazenamento, durante a transferência nos terminais. “A contaminação do meio ambiente por hidrocarbonetos de petróleo é frequente e bastante difundida, apesar da crescente preocupação das indústrias petrolíferas em evitar acidentes na transferência de petróleo e seus componentes junto a terminais de abastecimento e recebimento via transporte marítimo”, escreveu Garcia.

O petróleo é uma mistura complexa de mais de 250 hidrocarbonetos, de composição bastante variável.

Efeitos na saúde

Imediatamente após a liberação de quantidades elevadas de produto de petróleo, a população do entorno pode apresentar depressão sistêmica nervosa ao inalar imediatamente os componentes voláteis, explica o pesquisador.  Esses componentes no meio ambiente podem provocar , alterações,  tanto no local da contaminação como na composição dos hidrocarbonetos presentes nas respectivas misturas.

Os compostos de menor peso molecular apresentam hidrossolubilidade relativamente elevada, dissolvendo-se nas águas das chuvas, águas marinhas e infiltrando-se no solo até as águas profundas e biodegradando-se. Os constituintes de maior peso molecular tendem a absorver-se no sedimento e aí permanecem relativamente imóveis.

A avaliação dos sinistros ocorridos e seus impactos representativos ecoam sobre a saúde humana, dependendo de vários fatores e circunstâncias, como a complexidade do produto e dos organismos e dos ecossistemas afetados, a falta de dados toxicológicos de todos os componentes das misturas e seu custo elevado.

Para tanto, chegou-se ao entendimento, nas análises, de que os intervalos entre os sinistros eram pequenos, tanto quanto a sua ocorrência, como o intervalo da não ocorrência, divergindo da média mundial para esse tipo de atividade econômica.

A definição do cenário da contaminação é de primordial importância para uma avaliação mais aprofundada no quesito risco à saúde e ao ambiente marinho, explica o engenheiro. Observa que, mesmo no início da liberação, a exposição decorre das frações do produto e não do produto como um todo.

Parâmetros

Certos organismos internacionais como a USEPA – United States Environmental Protection Agency, a API – American Petroleum Institute e a OMS – Organização Mundial da Saúde utilizam como instrumentos de avaliação do impacto à saúde e ao ambiente ao nível de risco mínimo.

O eng. Garcia informa que esses valores guias foram definidos para alguns dos constituintes principais do petróleo. Os aspectos toxicológicos referendados pelos parâmetros organolépticos físico-químicos, orgânicos e inorgânicos para os produtos óleo cru, gasolina e seus principais componentes identificaram níveis acima dos valores guias, interpretando nível de contaminação diferente para cada situação estudada. (Propriedades organolépticas são as características dos materiais que podem ser percebidas pelos sentidos humanos, como a cor, o brilho, a luz etc.)

Na ausência daqueles valores, a avaliação pode ser realizada com base nas frações específicas e ou na proporcionalidade, assumindo-se que a toxicidade dos constituintes da fração é aditiva (acumulativa).

O pesquisador “Para refinar este procedimento, recomenda-se a determinação dos índices dos indicadores da fração aromática para avaliar a exposição à toxicidade. A cada dia, novos investimentos e programas estão sendo lançados para facilitar a avaliação de contaminação, em decorrência dos riscos desta exposição”.

O binômio causa/efeito é difícil de ser estabelecido, em sua totalidade, nas exposições ambientais, o que torna a avaliação deste risco de sinistro ainda mais importante e muito mais complexo.

“É este o desafio do novo milênio, garantir o crescimento econômico de forma sustentável, portanto, sem comprometimento do meio ambiente e da saúde da população”, conclui o engenheiro.

O autor teve acesso a documentos normativos, regulatórios e governamentais de cada país de origem e do produto relacionado. Foi desenvolvida uma metodologia para determinação e identificação na periodicidade na ocorrência dos sinistros, e da proporção aos níveis dos efeitos toxicológicos aquáticos, nas ocorrências por terminal, em função da manipulação. O trabalho acrescenta sugestões em função dos dados fomentados visando a uma melhora nos procedimentos para a proteção dos ecossistemas envolvidos.

Seguiu-se uma análise comparativa sobre o petróleo e alguns de seus principais derivados, identificando suas diferenças e aspectos da origem e regionais dos quatro países.

“Nos documentos acessados, percebeu-se, em sua interpretação, diferenças entre as normativas regulamentadas pelos órgãos controladores de cada país de origem, em função dos produtos derivados de petróleo”.

O eng, e prof. Cláudio Antonio Garcia é formado em Tecnologia e Engenharia Industrial, cursos que terminou na década de 80, em São Paulo. Manteve atividades em empresas industriais como: Suzano Feffer, Fichet Schartz, Philips do Brasil, GKW, Indebras, Pierre Saby, e leciona em universidades e escolas técnicas. Terminou o mestrado em Ecologia da Unisanta em 2016.

Residente em São Paulo, ele queria fazer um mestrado na área de Ecologia em cidade próxima. Conta que examinou o programa de três universidades e acabou por optar pela Unisanta, após ver as informações na Internet, conversar com os professores e conhecer as linhas de pesquisa oferecidas. Faz muitos elogios ao orientador, Aldo Ramos, ao coorientador, Álvaro Luis Diogo Reigada, ao prof. dr. Fábio Giordano e a todos os funcionários do mestrado.