Quem estiver transitando de ônibus pela orla da praia, nos próximos dias 6 e 7 de janeiro, durante o período da manhã, poderá deparar-se com uma cena no mínimo inusitada, a apresentação de um de uma peça teatral, em forma de Reisado, encenada por atores e cantores dentro do próprio coletivo.

Trata-se de mais uma edição, a quarta, do Projeto Limites – Dramaturgia para ônibus urbano, desenvolvida pelo grupo TEP – Teatro Experimental de Pesquisas, da Universidade Santa Cecília (UNISANTA), em parceria com a Secretaria de Cultura de Santos e a Viação Piracicabana. Pequenos trabalhos cênicos são desenvolvidos dentro do Projeto, mais ou menos dez minutos cada, independentemente do tema abordado, utilizando-se dos ônibus como palco e platéia para um espetáculo teatral, e de técnicas específicas para o desenvolvimento preparatório dos atores.

Desta vez o TEP traz à cena a montagem ONDE ANDARÁ MARIAZINHA?, que trata, sob a forma de manifestações da nossa cultura popular, no caso a Folia de Reis, da viagem dos três Reis Magos rumo à Belém, para ver o Deus Menino que acabara de nascer. No caminho encontram a estrela guia e outras estrelas do firmamento e, todos juntos, apesar das armadilhas criadas por Herodes, se dirigem à Lapinha (nome popular dado às representações da cenografia e personagens ligados ao nascimento de Jesus).

Segundo Gilson de Melo Barros, professor da UNISANTA, diretor do TEP e criador do projeto, a escolha do tema deste ano não aconteceu de forma aleatória, mas apropriou-se da sua data de representação, 6 de janeiro, Dia de Reis. Dentro dos festejos religiosos ligados ao cristianismo, compõe com o natal e ano novo o que a antropologia denomina como Ciclo dos Festejos da Natividade, ou seja, as festas que celebram o nascimento do menino Jesus. No Brasil, complementa Gilson, apesar do grande número de manifestações populares que ainda permanecem arraigadas às manifestações que traduzem a nossa cultura de raiz, como os autos de natal, os pastoris, os presépios, a montagem das lapinhas e as celebrações das folias de reis, a ênfase maior destes festejos, principalmente nos grandes centros urbanos, é para o Natal, por força do apelo comercial e mercantil atribuídos à data. É exatamente no dia de Reis que outro costume vai se integrando à nossa urbanidade, a desmontagem da árvore de natal e a retirada de todas as luzes, em contraste ao que acontece nos centros periféricos, onde a tradição de se celebrar a natividade se estende até o dia 2 de fevereiro, Dia da Candelária (quando o menino foi levado pela primeira vez ao templo). Se não tratamos de cultivar a nossa memória, de avivar as tradições em suas celebrações, acabamos por nos tornar apenas um coeficiente estatístico desprovido daquilo que nos qualifica, a humanidade, finaliza o professor.

Com textos e citações melódicas retirados do cancioneiro popular, alguns recolhidos do repertório antropológico de Mario de Andrade, o TEP traz o seu ONDE ANDARÁ MAIAZINHA? na interpretação do elenco encabeçado por Kátia Baliano (estrela da manhã), Fabíola Nascimento (estrela da anunciação) e Bruna Reis (estrela do firmamento), contando ainda com a participação de Nanci Nastari, Claudia Gomes, Lívia Louzada (pastoras), e João Paulo Cunha, Edison Medeiros, Marisvaldo Sciacio, como os três Reis Magos. O grupo responde ainda pela criação dos figurinos e elaboração do desenho da maquiagem.