A primeira surpresa agradável em Bastidores – TEP 50 Anos – Teatro Experimental de Pesquisas é a técnica narrativa de Gilson de Melo Barros. Os depoentes estão distantes, no tempo e no espaço, mas Gilson os coloca em conversas descontraídas, como se eles estivessem juntos no mesmo palco, diante de nós.

Gilson reproduz entrevistas individuais feitas ao longo de dez anos por telefone, ou por e-mail, ou anotadas em papel, ou resgatadas pela memória, em cenas relativas a cada fase do grupo. O estilo é coloquial. Mas, quando é ele quem “depõe”, a escrita é meio barroca, bem-humorada, plena de neologismos poéticos.

Beatriz Rota-Rossi conhece Gilson desde quando fizeram o curso superior de Artes Plásticas da Unisanta, hoje extinto. “Como aluno, ficou logo meu colega, e depois, meu amigo – um departamento chamado Gilson em minha mente, onde convivia com Gilberto Mendes, Roberto Martins, Luiz Hamem, Plínio Marcos, Simone Marie, Kiko Penteado Caldas, Nélia Silva”, escreveu Beatriz, no prefácio. Ela se refere ao “estilo gilsoniano que veio aprimorar com o tempo, mais ou menos gongórico, mais ou menos enxuto, sempre rico”.

Bastidores – 50 anos do TEP é uma grata surpresa para quem conhecia o talento de Gilson apenas como diretor de teatro, ator, figurinista, roteirista e professor. Quando ele trazia na Unisanta os releases do TEP, era preciso ignorar neologismos, reescrever algumas linhas, segundo o texto impessoal de assessoria. Temos que ser claros e concisos no jornalismo noticioso. E os leitores do site universitário não eram os leitores ideais descritos por Umberto Eco.

Sorridente e piadista, Gilson não conversava muito com os repórteres da assessoria, sempre muito ocupados, ele também. Daí minha grata surpresa ao descobrir nele um escritor tão criativo como o diretor de teatro.

Gilson mostra o berço de sua arte, no então icônico Colégio Canadá, na adolescência, até os dias atuais. Descreve fracassos e sucessos com o mesmo bom humor. O episódio dos adolescentes no palco do Educandário Maria Imaculada, na Avenida Conselheiro Nébias, é de chorar de rir. A tela do cenário do colégio mostrava um pagode chinês e cerejeiras, mas os atores queriam mostrar o palácio de Júlio César. O público não perdoou. Risos, que continuaram quando o ator que interpretava um soldado morto se mexeu no chão. Mais risos quando Cleópatra se enrola no tapete para se apresentar a Marco Antonio. A atriz, que era asmática, interrompe a cena e pede uma bombinha de ar. A criança de seis anos que supostamente era um bebê desce do colo e sai andando, porque se cansou da “brincadeira”.

Foi um desastre, mas as peças seguintes acumularam prêmios inclusive internacionais e muitos admiradores. Para Gilson, prêmios de direção, sonoplastia, figurinos, iluminação. O escritor, músico, compositor, crítico de arte, cantor e autor teatral Julinho Bittencourt menciona no posfácio as qualidades de Gilson e a importância do TEP, inclusive para sua vida artística. E cita Lúcia Teixeira e Sílvia Teixeira Penteado, presidente e reitora da Unisanta. “Imbuídas da mesma paixão que incendeiam os olhos de Gilson, as irmãs Teixeira abriram as portas de sua casa para que aquele vendaval soprasse da forma que bem entendesse, sem nunca ter havido da parte delas um menor gesto de controle, único e tão somente um grande e definitivo apoio”.

Bastidores – TEP 50 Anos é um livro que vale a pena reler e presentear. É um trabalho de um fanático pelo teatro, que esconde, em sua irreverência, um intelectual sensível, culto e multifacetado.

Pesquisa e Organização: Gilson de Melo Barros

Editora: Vox

Páginas: 451

Preço: R$ 50,00

O livro pode ser também comprado via WhatsApp pelo número (13) 99172-3122.