Para assistir à comemoração do aniversário da sede do Cineclube Lanterna Mágica na íntegra, acesse o link: https://www.youtube.com/watch?v=dQsbYPlBjqc
Às 17h30 da última sexta-feira, 24 de setembro, a Sala Maurice Legeard de Cinema, sede do Cineclube Lanterna Mágica, da Universidade Santa Cecília (Unisanta), completou seus 20 anos de existência. Em comemoração a essa data, foi realizada uma live que tratou, dentre outros assuntos, da trajetória de intensas atividades culturais da sala e da experiência afetiva do espectador de cinema.
“É muito importante documentar esses 20 anos de uma sala alternativa, de muita luta, muita pesquisa e muitos universos trabalhados dentro do cinema e tudo o que ele oferece ao espectador”, destacou o cineasta, jornalista e coordenador do Cineclube Lanterna Mágica, Eduardo Ricci, que foi o mediador da transmissão ao vivo de sexta-feira. Além de Ricci, o evento teve a participação da professora e fotógrafa Isabel Nascimento, que conviveu com Maurice Legeard.
No evento, foi feita uma contextualização sobre a razão de criação, influências e trajetória da Sala Maurice Legeard de Cinema e foi discutido o universo da experiência afetiva do espectador.
Durante a fala introdutória do coordenador do Cineclube Lanterna Mágica, foi citado o filme alemão de 1987, “Asas do Desejo”, dirigido por Wim Wenders. Esse longa-metragem conta a história de um anjo que se apaixona por uma trapezista e tem vontade de virar uma pessoa para poder viver um caso de amor. A primeira coisa feita pelo anjo, depois de ele cair dos céus e se tornar humano, é tomar um café e sentir o calor da bebida em seu corpo.
“Essa coisa afetiva que temos com o café, com a troca, a conversa, esse momento que o cinema nos propõe de repaginação de memória, essa experiência afetiva do espectador, dialoga muito com esse filme, que faz uma grande homenagem ao cinéfilo, o apaixonado pelo cinema e pela vida”, comentou Ricci.
Isabel Nascimento também contribuiu muito com o objetivo da live, compartilhando suas experiências e impressões, como apreciadora de várias formas e expressões artísticas.
“Eu penso que a memória é um lugar […] e acho que o cinema vai trazendo as memórias e repertórios que você tem e estão incorporados no filme”, comentou Isabel, que também falou de sua relação de amizade e admiração pelo homem que inspirou o nome da sala de cinema do Lanterna Mágica: “Eu fiquei amiga dele um ano e meio, mais ou menos, antes de sua morte. Ele já estava doente. […] Ele foi aquele intelectual rabugento que eu tive sorte de conhecer a tempo. Mas sua grande generosidade foi partilhar tudo o que sabia, essa paixão pelo cinema que ele sempre teve”.
Quando tudo começa…
O Cineclube Lanterna Mágica, da Unisanta, foi criado em 24 de março de 1999, em sua primeira sala que era a videoteca da Universidade, com apenas 25 lugares, um ventilador e muito calor, já que as sessões sempre estavam lotadas. Na época, muitos cinéfilos não tinham o aparelho de DVD e o acesso a grandes obras do cinema com qualidade de som e imagem só era possível comprando ou alugando na Vídeo Locadora Paradiso, que já apoiava o Lanterna Mágica antes mesmo de sua criação. Uma locadora de vídeo que ainda resiste aos tempos da guerra dos streamings. Em seguida, a Unisanta inaugurou a biblioteca da Saúde e, como arte é também cura, o Cineclube solicitou a criação de um espaço junto aos livros. A reitoria da Unisanta atendeu ao pedido e destinou uma sala com 60 cadeiras confortáveis, um telão e um bom sistema de som para ser criada a Sala Maurice Legeard de Cinema, sob a coordenação do jornalista e cineasta Eduardo Ricci, criador do Cineclube e agitador cultural da instituição.
Pouco depois, a Sala ganhou uma instalação de colagens com figuras relacionadas ao mundo do cinema e um mural interno com pinturas rupestres, trabalho artístico realizado pelos alunos, coordenados pela professora Beatriz Rota-Rossi, do saudoso curso de Artes Visuais. Já no lado de fora da sala, foi criado um mural pelo muralista e diretor de teatro Gilson de Melo Barros. Assim a sala foi ganhando sua identidade e transformando-se numa “entidade” dentro do campus, onde todos são recebidos por uma enorme pintura do rosto do cineclubista Maurice Legeard.
A escolha do nome da sala foi fácil de escolher, até 2001 nenhuma sala de cinema de Santos tinha homenageado Maurice Legeard, fato que demonstrava a falta de políticas culturais para um cinema além do entretenimento, já que Maurice lutou por 52 anos para divulgar um cinema que muitas vezes não chegaria às grandes telas santistas. O cineclubismo surgiu na cidade oficialmente em 1948, com a criação do Clube de Cinema de Santos, e dois anos depois Maurice entra para o clube, só saindo de lá anos depois para criar, em 1980, a Cinemateca de Santos, primeiramente sediada na Cadeia Velha. Hoje a cidade tem duas salas com o nome do “tigre feroz das madrugadas”, como foi chamado carinhosamente num poema, escrito por Narciso de Andrade.