Duas reportagens da edição de junho de 2010 (nº 116) do Primeira Impressão, jornal-laboratório da Faculdade de Artes e Comunicação (FaAC) da Universidade Santa Cecília (UNISANTA), foram reproduzidas (inclusive, em áudio) pelo site português Macua de Moçambique (www.macua.org) dedicado a temas de Moçambique. As reportagens “Um poeta esquecido na África” (pág.11), de autoria da aluna Patrícia Rosseto, e “Gonzaga continua no exílio africano” (pág.9), da redação, tratam de assuntos relacionados com a vida e a obra do poeta Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810), que cumpriu exílio na Ilha de Moçambique de 1793 até o ano de sua morte, depois de condenado por sua participação na Inconfidência Mineira de 1789.
O site é mantido pelo estudioso luso-moçambicano Fernando Gil, nascido na Ilha de Moçambique e morador na Costa da Caparica, na Grande Lisboa, que concedeu entrevista por e-mail ao Primeira Impressão sobre o bicentenário da morte do poeta Gonzaga. Segundo o estudioso, como português, o poeta hoje não representa nada para Moçambique, em razão da tendência da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), o partido oficial, de procurar “apagar” a atuação dos colonizadores da história oficial de país.
De acordo com Fernando Gil, não fora o livro Gonzaga, um Poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), de Adelto Gonçalves, professor da FaAC/UNISANTA, nem os descendentes de Gonzaga conheceriam a história real de seu ascendente mais famoso. “Foi de admiração a reação deles na Ilha de Moçambique quando lhes fiz chegar um exemplar do livro. E, claro, de orgulho”, diz Fernando Gil. Para o estudioso, Gonzaga pode ser considerado um “herói lusófono, cidadão dessa pátria imensa, a do Portugal de seu tempo”.
A outra reportagem, “Gonzaga continua no exílio africano”, recupera um tema curioso da história da Inconfidência Mineira: a de que as autoridades coloniais de Moçambique, em 1936, em razão da dificuldade para localizar o túmulo de Gonzaga na Ilha de Moçambique, teriam enviado para o Brasil os ossos do neto do poeta, Tomás Antônio Gonzaga de Magalhães, morto em 1856 e enterrado na igreja de Nossa Senhora dos Remédios, na Cabaceira Grande, no continente fronteiro à Ilha de Moçambique.
Segundo o professor Adelto Gonçalves, o poeta foi enterrado na igreja do convento de São Domingos dedicado à Nossa Senhora do Rosário, na Ilha de Moçambique, templo demolido em 1852. “Não há indícios de que os ossos de Gonzaga tenham sido trasladados para outra igreja”, diz o autor, ressaltando que, em razão disso, o mais provável é que sejam os ossos do neto do Gonzaga que estejam hoje no Museu da Inconfidência, em Ouro Preto-MG, ao lado dos de Maria Dorotéia Joaquina Seixas, musa do poeta no livro Marília de Dirceu. “O que há é uma lápide em homenagem ao neto de Gonzaga (Tomás Antônio Gonzaga de Magalhães)”, diz o pesquisador.