Manuel Maria de Barbosa du Bocage (1765-1805) não nasceu na rua de São Domingos, em Setúbal, Portugal, como mostra uma placa ali instalada, mas no Largo de Santa Maria, na mesma cidade. Esse e outros pormenores desconhecidos do poeta português, como o tempo real de sua prisão, detalhes de sua obra e de seus últimos dias constam do livro Bocage – O Perfil Perdido, do escritor Adelto Gonçalves, professor de Jornalismo da Universidade Santa Cecília (UNISANTA).
A casa onde o poeta nasceu ficava ao Largo de Santa Maria com a Rua de Antônio Joaquim Granjo, antiga Rua das Canas Verdes, também em Setúbal, lugar mais nobre, que marca o início do burgo, esclarece Gonçalves.
Seu novo livro é resultado de um ano de pesquisas em arquivos portugueses, com bolsa de pós-doutoramento da Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de S.Paulo (Fapesp). A biografia recua ao avô francês de Bocage e apresenta a árvore genealógica da família a partir de seus avós e bisavós, abrangendo toda a vida do poeta – sua infância, adolescência e entrada no regimento de Setúbal. Mostra a ida para a Marinha, a passagem pelo Rio de Janeiro e pela Ilha de Moçambique, a presença na Índia portuguesa, o retorno a Lisboa, a entrada e expulsão da Nova Arcádia, a participação na maçonaria, a atuação como revisor e tradutor da Tipografia do Arco do Cego, as contendas com os censores da Comissão Geral sobre o Exame e Censura de Livros, seus livros publicados, os últimos dias e a morte a 21 de dezembro de 1805.
O pesquisador reconstituiu os embates entre elmanistas, adeptos de Bocage, e José Agostinho de Macedo, seu feroz opositor. Recupera cartas inéditas deixadas por sua irmã Maria Francisca, mostrando-a ludibriada por “falsos amigos”. A biografia apresenta descobertas como a prisão do pai do poeta na cadeia do Limoeiro, de 1771 a 1777, acusado como ouvidor de Beja de ter desviado a arrecadação da décima referente ao ano de 1769.
Outra informação importante, segundo o escritor, é que o poeta, preso em 1797 por agentes do intendente geral de Polícia, Pina Manique, permaneceu detido mais tempo do que se sabia, até o último dia de 1798, quando saiu do Real Hospício de Nossa Senhora das Necessidades. O livro mostra ainda que a Nova Arcádia, apesar das desavenças entre Bocage e muitos de seus sócios em 1794, sobreviveu até 1801, por empenho do intendente geral de Polícia, Pina Manique.
Produção – Adelto Gonçalves, doutor em Letras na área de Literatura Portuguesa e mestre em Língua Espanhola e Literaturas Espanhola e Hispano-americana pela Universidade de São Paulo, é autor da biografia Gonzaga, um poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 1999) e dos romances Barcelona brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2003) e Os vira-latas da madrugada (Rio de Janeiro, Livraria José Olympio, 1981), do livro de ensaios e artigos Fernando Pessoa: a voz de Deus (Santos, Universidade Santa Cecília, 1997) e do livro de contos Mariela Morta (1977).
É sócio-correspondente da Academia Brasileira de Filologia. Como jornalista, atuou durante dez anos em O Estado de S.Paulo, passando também por Editora Abril, Folha da Tarde e A Tribuna, de Santos. É colaborador do suplemento Das Artes Das Letras de O Primeiro de Janeiro, do Porto, e das revistas Vértice e Colóquio/Letras, de Lisboa.
Prêmios – Ganhou os prêmios José Lins do Rego de Romance (1980) da Livraria José Olympio Editora, do Rio de Janeiro; Fernando Pessoa (1986) da Fundação Cultural Brasil-Portugal, do Rio de Janeiro; Assis Chateaubriand (1987) e Aníbal Freire (1994) da Academia Brasileira de Letras, e Ivan Lins de Ensaios (2000) da União Brasileira de Escritores e Academia Carioca de Letras.
SERVIÇO – Bocage – O Perfil Perdido pode ser encontrado ao preço de R$ 180,00 na Livraria Portugal, Rua Martins Fontes, 81, São Paulo-SP. Tel. (0XX11) 3159-2548.