Presença de metais pesados no esmalte dentário de crianças da Baixada Santista é tema da tese de docente da Unisanta

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O objetivo do estudo da dra. Vera Lucia Ferreira de Oliveira foi avaliar a contaminação de chumbo, cádmio e manganês em 125 crianças, de seis a treze anos de idade, por meio do exame no esmalte dentário. Ela constatou que as crianças já eram expostas aos metais pesados antes do nascimento, e que o esmalte dentário é um excelente biomarcador da presença de contaminantes.

A professora do curso de Odontologia da Universidade Santa Cecília (Unisanta), Vera Lucia Ferreira de Oliveira, defendeu tese a respeito da presença de metais pesados no esmalte dentário de crianças, para a banca da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

A tese ‘Análise e influência da presença de metais pesados no desenvolvimento do esmalte dentário em crianças na região do estuário de Santos e São Vicente’ avalia a contaminação de três materiais pesados: chumbo, cádmio e manganês. Foram examinadas 125 crianças, de seis a treze anos de idade, residentes em áreas contaminadas da Baixada Santista. Todas as mães das crianças já viviam nessas áreas antes da gravidez.

Segundo a docente, há pesquisas sobre o assunto porque esses metais influenciam o organismo humano, o que acaba causando alterações tóxicas na saúde. “O chumbo não apresenta funções fisiológicas conhecidas e é tóxico mesmo em baixas concentrações. O manganês é encontrado no corpo humano (12µg/g), armazenado em sua maioria nos ossos e tecidos do fígado e rins. Mais que isso, passa a ser tóxico. O cádmio produz efeitos tóxicos em organismos vivos mesmo em concentrações pequenas”, comenta.

A tese foi publicada no dia 17 de abril de 2017 no Journal Environmental Science and Pollution Research – em tradução literal, Revista de Ciência Ambiental e Pesquisa de Poluição, que faz parte do Springer, um portfólio global científico, técnico e médico, que oferece a pesquisadores acadêmicos, instituições cientificas e departamentos de pesquisa e desenvolvimento a chance de ter seus estudos publicados. As principais áreas publicadas são a de Ciência Ambiental e assuntos relacionados, com ênfase em compostos químicos.

Áreas verificadas

As áreas verificadas ficam localizadas nas cidades de Santos, São Vicente, Cubatão e Bertioga. Para identificar a presença dos metais, foram realizados exames clínicos e testes de esmalte dentário. “Os níveis de chumbo, cádmio e manganês (µg/g) foram mensurados nas amostras de esmalte dentário através de um espectrômetro de absorção atômica com forno de grafite, pesquisando quanto à ocorrência de metais pesados no esmalte dentário”, segundo trecho retirado da tese.

A escolha dos locais foi resultado de uma pesquisa realizada na Companhia de Tecnologia e Saneamento Básico do Estado de São Paulo (CETESB/2011), na qual foram constatadas que essas cidades eram consideradas contaminadas pelos metais. Vera ressalta que os dados descobertos pela CETESB, ‘fazem parte de um estudo maior, que complementa um Estudo Epidemiológico na População residente na Baixada Santista, intitulado o ‘Estuário de Santos: Avaliação dos indicadores de Efeito e de Exposição a Contaminantes Ambientais`, coordenado pelo Prof Dr Alfésio Luis Ferreira Braga’.

 Problema de saúde pública

O estudo da docente sobre os esmaltes dentários ressalta que a contaminação por metais pesados é um problema de saúde pública muito bem conhecido e a sua exposição pode causar danos a vários órgãos do corpo humano, especialmente no sistema nervoso central de crianças jovens e adolescentes. O motivo do foco das pesquisas serem crianças e jovens, é pela possibilidade de ‘acompanhar a incorporação do metal à época’, já que há a formação e o desenvolvimento da pessoa, enquanto ‘vai havendo a incorporação conforme vai se depositando no tecido ósseo’. Porém, Vera ressaltou que os adultos também estão contaminados.

A pesquisadora relata que, durante os exames, o esmalte dentário foi utilizado como biomarcador, porque, por ser um tecido ósseo, ele incorpora o metal ao tecido. “Isso prova a existência do metal no meio ambiente, quer seja por meio da água, ar ou solo. Não poderíamos fazer a biópsia de osso de uma pessoa, pois eticamente, seria absurdo. Mas, biópsia de esmalte, seria possível, pois o esmalte dentário em menos de 24 horas está totalmente refeito”.

Resultados surpreendentes

Após os exames e pesquisas a respeito da concentração de metais pesados no esmalte dentário de crianças e adolescentes, foi constatada que as crianças já eram expostas aos metais antes do nascimento. As principais concentrações de chumbo estão presentes em São Vicente (213,52µg/g), no Centro de Cubatão (170,45 µg/g), em Bertioga (151,89µg/g), e na região de Pilões/Água Fria, também em Cubatão (139,48µg/g).

Já as concentrações médias de cádmio foram: 14,57µg/g em Bertioga, 12,58µg/g no Centro de Cubatão, 10,92µg/g em São Vicente e 10,83µg/g em Pilões/Agua Fria, na cidade de Cubatão.

Sobre as concentrações médias de manganês foram detectadas as presenças de 42,00µg/g em Bertioga, 41,46µg/g em São Vicente, 30,90 µg/g no Centro de Cubatão e 23,49µg/g na região de Pilões/Água Fria, em Cubatão.

Com isso o estudo mostra que o esmalte da superfície dentária pode ser usado como biomarcador eficiente de exposição passada a chumbo, manganês e cádmio, que estão ligados a fontes conhecidas de contaminação por metais pesados.

Apesar de Bertioga ter sido escolhida como área controle do estudo, foi verificado que o local também contém contaminação por metal pesado nas crianças examinadas.

“Encontrar [metais pesados] em Bertioga nos mostra que a contaminação ambiental se expande. Precisamos ter medidas muito precisas com relação a não deixar o meio ambiente exposto. O desenvolvimento econômico é muito importante mas precisamos tomar conta do meio ambiente”, finaliza Vera Lucia.

Revisão: Elaine Saboya