Desafios da Educação Superior no século XXI foi o tema de palestra do prof. dr. José Roberto Cardoso, na abertura do semestre na Unisanta. Cardoso, professor licenciado da USP, defende a necessidade de um ambiente mais lúdico e criativo nas escolas, para que o Brasil possa avançar em matéria de inovação.

Quanto erros fez Thomaz Edison antes de conseguir construir a lâmpada elétrica? E Santos Dumont,  até construir o 14 bis?  O professor licenciado  da USP, dr. José Roberto Cardoso, assessor acadêmico da Universidade Santa Cecília (Unisanta) a partir desta quarta-feira (1/8, fez essa pergunta aos professores do Colégio e da Universidade Santa Cecília (Unisanta), na abertura do semestre letivo, dia 31/7, no auditório do Bloco E.

Para Cardoso, as escolas,  de maneira geral, principalmente na área de exatas, não estimulam a criatividade das crianças e dos jovens, e isso precisa mudar, para atender às mudanças da sociedade e às necessidades do mercado de trabalho.

“A criança nasce cientista e inovadora. Por que este comportamento muda,  drasticamente, quando esta criança atinge a adolescência? Cardoso fez essa pergunta e deu sua opinião pessoal: o principal inibidor da criatividade do adolescente é o medo de errar”.

Este medo vem da escola, do ensino médio e da universidade. Errar e ser punido por isso mata qualquer criatividade intelectual. O aluno sabe que só será avaliado pelo que acertar e que nunca será avaliado por ter buscado um outro caminho que pode levá-lo, ou não, ao sucesso, apesar desta experiência lhe ensinar muita coisa”.

As provas tradicionais, em que são exigidas memorização de excessivo conteúdo, não têm mais sentido, no seu entender.  Em sua palestra, o eng, José Roberto Cardoso apontou alguns dos problemas que prejudicam o Brasil no item inovação. Eis algumas de suas considerações:

Falta inovação

“O Brasil faz bonito em matéria do número de pesquisas científicas, na frente da Rússia, Suiça e Suécia, mas essas pesquisas não estão gerando riquezas para o país, que está  69º  lugar  entre 75 países,  no item inovação.

Apesar da imagem de que o brasileiro é criativo, não é o que ocorre com nossa produção de inovação e geração de patentes”, explicou Cardoso. “E o sistema educacional tem responsabilidade muito grande a esse respeito”.

As instituições de ensino “devem proporcionar um ambiente lúdico, agradável, que transmita liberdade de ação em que todos são ouvidos com igual importância”.

Novas profissões

“Novas profissões exigem novos cursos superiores, para estas funções: cientista de dados, desenvolvedores de aplicativos, engenheiros de drones, creators, analista de Big Data, desenvolvedores de wearables (aplicativos que podem ser usados em vestimentas), professores para ensino online, android developers (desenvolvedores de androides).

Aprender a aprender

“Em passado recente, aquilo que se aprendia na universidade era o suficiente para garantir tranquilidade ao jovem formando, pois o que era a ele ensinado era mais do que o suficiente para realizar um bom trabalho e galgar os degraus do sucesso profissional. A cada ano ele precisava fazer pequenos programas de atualização para se manter up to date com o conhecimento”.

Atualmemte, o profissional precisa estar continuamente em formação, pois do contrário, será expelido pelo mercado de trabalho. O termo Life learning é atualíssimo.

 “Baldismo” e linha de montagem

“No sistema atual, há professores que enxergam o “o aluno é um BALDE, que deve ser preenchido com conteúdo cada vez maior, sem se preocupar com a utilidade. A máxima do baldismo é que o nível do aluno está baixo (e precisa ser preenchido com um vasto volume de informações, que ele acabará não assimilando”.

“Outros consideram  que o  aluno é visto como um carro a ser construído em uma linha de montagem. Todos seguindo a mesma trajetória e passando pelos mesmos postos de montagem”.

“Os dois casos (linha de montagem e baldismo) não são adequados para o ser humano. O ser humano é completamente diferente. Os significados estão desconexos. Resta ao professor conectá-los, tal qual uma sinapse que conecta os neurônios.

O conhecimento

“Não podemos também transmitir o conhecimento com um mapa mal feito e com poucas informações para o visitante. Nem através de um mapa com extrema precisão. Um mapa assim é inútil. Suponha que o conhecimento seja  uma cidade como Santos. Nesse ocaso, basta falar ao forasteiro sobre os canais da cidade, as praias e  outras características principais, que será possível navegar pela cidade. O bom professor é aquele que sabe acertar a escala do mapa. Com escala adequada consegue-se ensinar o que quisermos”.

Avaliação

“A quantidade de informação de um ser humano é como um iceberg. Conhecimento explícito (acesso imediato) é de 5%. O conhecimento implícito (acesso lento) é de 95% O implícito  só é explicitado com reflexão concentrada e demanda tempo”.

“Quem aqui após um encontro não pensou consigo mesmo: eu deveria ter dito isso, devia ter feito aquilo. O conhecimento implícito não foi explicitado no momento certo”.

“E como fica então numa prova? Será que sua resolução reflete exatamente aquilo que o aluno sabe?  A avaliação tem que ser melhorada e contemplar parcela de avaliação continuada”.

Outras competências

“As evidências mostram que, além das competências agregadas pela profissão, outras que não são ensinadas nas escolas são tão relevantes quanto as primeiras, a ponto de estarem impactando na formatação de estruturas curriculares modernas”.

“O mercado não admite mais aquele estudante que fez um bom curso e tirou notas altas em um curso altamente especializado só por estas razões. Um curso altamente especializado não garante, por si só, melhor empregabilidade para seus egressos”.

“Formamos “mão de obra” e não líderes. Precisamos formar empreendedores que criem seus empregos”.

“Pesquisas entre empresários e profissionais de recursos humanos mostram que o empregador espera que o seu colaborador apresente três tipos básicos de competências:

* Competências cognitivas: tais como saber resolver problemas da área, programar uma pesquisa, formular e testar uma hipótese, avaliar e integrar os dados de várias fontes.

* Competências práticas da área: habilidades laboratoriais, elaboração de relatórios, uso de ferramentas computacionais, entre outras”.

* Competências de comunicação: tais como saber comunicar-se verbalmente, por escrito, por meio de desenhos e em várias línguas, aplicar os resultados de outras disciplinas, trabalhar em equipe, usar tecnologia de informação.

“São estas competências que devem balizar uma estrutura curricular moderna. O conteúdo do núcleo duro de uma profissão deve ser integrado ao núcleo de competências emocionais, para formar um profissional para ser um líder”.

“O mercado não admite mais aquele que fez um bom curso e tirou notas altas em um curso altamente especializado só por estas razões. E um curso altamente especializado não garante, por si só, melhor empregabilidade para seus egressos”.

Sobre a Unisanta

O professor José Roberto Cardoso lembrou seu tempo de professor de Engenharia Elétrica da Unisanta, de 1979 a 1985. Ele deixou marcas de sua experiência (um laboratório de Energia Elétrica tem seu nome na instituição, em sua homenagem).

“Esta universidade, criada há mais de 55 anos, vem cumprindo este papel. A visão estratégica do seu criador (dr. Milton Teixeira), de criar o primeiro curso de engenharia em Santos e um dos primeiros noturnos do  país) deu à cidade outro perfil. Seria Santos a mesma cidade se a Unisanta não tivesse criado um curso de engenharia naquela época?”

“Seus cursos moldaram uma geração de profissionais que assumiu postos relevantes nas empresas e são estes mesmos profissionais, pois ainda falo muito com eles, que estão hoje a exigir que os alunos oriundos dos mesmos bancos escolares em que eles passaram, tenham outras competências além das competências técnicas das áreas”.

“A Unisanta sempre se antecipou às tendências da educação superior e, por esta razão, sempre evoluiu de forma sustentável, sem grandes saltos, dando um passo por vez, e se prepara agora para dar um passo da mesma grandeza daquele dado em 1971”.

Desafios do século

“Os desafios são grandes: Começa pelo nosso aluno, um nativo digital, que encontra a informação onde ela estiver, é estimulado continuamente a enfrentar os desafios do uso de uma nova tecnologia, tão difícil para os jovens da minha época”.

“Dentro em pouco o 5G será lançado no mercado. Esta tecnologia disporá ferramentas de comunicação que abalará as bases da educação de todas as idades. A teleconferência será uma realidade, com altíssima definição uma aula dada pelo professor poderá ser vista em tempo real por todos os alunos onde estiverem,  com qualidade de uma smart TV de alta resolução.

“O aluno continuará a vir à universidade, mas não apenas para assistir aulas. O papel do professor será elevado ao padrão de tutor e o aluno será partícipe na busca pelo conhecimento”.

“A cultura da instituição é o patrimônio que garante sua trajetória ao longo dos tempos, sobretudo quando esta instituição é uma Universidade. Pesquisas apontam que apenas 85 instituições criadas na Idade Média sobreviveram, e,  destas,  70 são universidades. De modo que,  para a nossa sociedade,  a universidade é o pilar que garante nosso desenvolvimento”.

“Se ela não se atualiza e não antevê tendências em um ambiente que admite o contraditório, o país se atrasa, a sociedade sofre e a democracia é abalada”.

Recepção na Unisanta

José Roberto Cardoso foi saudado pela reitora da Unisanta, dra. Sílvia Teixeira Penteado, pela presidente, Lúcia Maria Teixeira e pelo Pró-Reitor Administrativo, Marcelo Teixeira. Eles enfatizaram a competência do professor Cardoso e seu retorno à Instituição.

Os dirigentes descreveram a abertura do semestre com um sentimento de alegria, pelo volta dos alunos e professores.

Estavam presentes o diretor de Marketing, Marcus Teixeira Penteado, a diretora de Saúde, Caroline Simões Teixeira, o assessor especial da Pró-Reitoria Administrativa, Marcelo Teixeira Filho, diretores e coordenadores do Colégio e da Universidade Santa Cecília.

Currículo

Natural de Marília, SP, José Roberto Cardoso recebeu os títulos de engenheiro eletricista, mestre, doutor e livre-docente em engenharia elétrica pela Escola Politécnica da USP em 1974, 1979, 1986 e 1993, respectivamente.

De 1999 a 2014, foi professor titular do Departamento de Engenharia de Energia e Automação Elétricas da EPUSP, onde implantou inovações no ensino da Engenharia.

Escreveu três livros, um deles em língua inglesa. É membro atuante de organizações internacionais que se dedicam à Educação em Engenharia.

Publicou mais de 70 artigos em revistas qualificadas e mais de 200 comunicações em eventos científicos nacionais e internacionais. É membro do corpo editorial de mais de 10 revistas no exterior. No período de 1986 a 1987, fez pós-doutorado em Grenoble/França.

Fundou a SBMAG-Sociedade Brasileira de Eletromagnetismo. Em 2013, foi agraciado com o título de Eminente Engenheiro do Ano pelo Instituto de Engenharia de São Paulo. É membro do Conselho Superior de Estudos Avançados da FIESP.