O adaptador exclusivo para a cadeira de Beto Schina foi entregue dia 21/12, em Bertioga

“Totalmente voluntário e informal”, assim define Sergio Schina de Andrade, FabManager (Gerente de Laboratório) do InovFabLab, o projeto de construção de um adaptador exclusivo, basicamente um suporte, para a cadeira de um portador de Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), chamado Beto Schina, morador de Bertioga e tio do FabManager da Unisanta, poder ter um computador (também adaptado) para sua comunicação.

Sergio Schina contou com a ajuda de vários colegas da Unisanta para o desenvolvimento deste projeto, entre eles: Ricardo Giangiulio, aluno de Engenharia Mecânica que trabalha no InovFabLab, os técnicos do Laboratório de Operações Unitárias, Volnei de Lemos e Álvaro Conrado, e o coordenador desse laboratório, Dr. Deovaldo de Moraes Jr, além dos funcionários dos Laboratórios de Mecânica (Usinagem), Irineu Penha e Sergio Giangiulio.

A Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) é uma rara doença neurodegenerativa progressiva e sem evidências de um tratamento que leve à sua cura. Ela é provocada pela degeneração progressiva no primeiro neurônio motor superior no cérebro e no segundo neurônio motor inferior na medula espinhal. Esses neurônios são células nervosas especializadas que, ao perderem a capacidade de transmitir os impulsos nervosos, dão origem à doença, que resulta em uma paralisia motora progressiva e irreversível. Apesar disso, o portador dessa doença preserva a capacidade intelectual e cognitiva.

Sergio Schina conta que a ideia de projetar um equipamento adaptado veio de um evento em que ele e o tio participaram. Em um determinado momento, nessa ocasião, Sergio se deparou com todas as pessoas interagindo e socializando entre si, com exceção de seu tio Beto, que não tinha a possibilidade de se comunicar com os outros por não ter consigo o equipamento com o qual ele poderia dialogar (um computador que reconhece a íris dos olhos, fazendo com que a pessoa consiga movimentar o mouse com o movimento dos olhos e escrever através de um teclado virtual, que “fala” o que é escrito), pois não havia um modelo de cadeira com tal suporte para o computador e outros equipamentos adjacentes.

Dessa necessidade veio a ideia de desenvolver um adaptador para a cadeira de Beto, para ele poder usar o computador de comunicação em situações fora de sua casa. “Me parte o coração ele ficar lá isolado no meio de um evento com todo mundo interagindo. E o pessoal até tenta conversar, mas ele não consegue responder”, comenta o FabManager da Unisanta sobre a situação em que seu tio se encontrava.

Para o projeto, foi fundamental a participação e o entusiasmo de alguns amigos e colegas de trabalho de Sergio Schina. Primeiramente, ele falou com Álvaro Luiz Moreira Conrado e Volnei de Lemos, ambos técnicos do Laboratório de Operações Unitárias da Unisanta. Ao comentar a situação com os dois, ele ficou sabendo que o laboratório tinha vários materiais que poderiam ser usados no projeto e que iam ser descartados. Quando soube disso, Schina contatou o coordenador desse laboratório, Dr. Deovaldo de Moraes Jr., que também abraçou o projeto e deu algumas ideias para a produção do adaptador.

Na primeira etapa do processo, Sérgio Schina e Álvaro Conrado foram tirar as medidas da cadeira de Beto: “ver exatamente qual era a demanda, como que se tinha que fazer”, declara o FabManager. Com esses dados foi possível produzir um esboço, desse esboço foram tiradas as medidas finais e assim a produção do adaptador começou.

Schina também produzirá um sistema de amplificação de som para melhorar a comunicação do tio. “Vou fazer também um sistema de caixinha de som […] essa caixinha de som vai ficar ligada na saída do computador, e aí ele vai ter uma reprodução um pouco mais elevada da voz. Então, se ele estiver em uma festa ou qualquer evento com som alto, ele vai conseguir se comunicar, porque o som do computador é limitado também”, comenta o FabManager.

No final do processo de produção do adaptador, Sergio Schina revela a participação de um universitário, Ricardo Giangiulio, aluno de Engenharia Mecânica da Unisanta: “Quem entrou no final também foi o Ricardo, funcionário do InovFabLab e também aluno de Engenharia Mecânica da Universidade. Ele fez o projeto 3D, fez o corte a laser, ajudou na solda, então tudo em que pôde ajudar ele atuou também”.

Sobre o projeto, Álvaro Conrado se diz feliz em poder ter ajudado. “Foi muito gratificante ver a alegria do Beto em saber que ele pode se locomover e interagir com as pessoas em qualquer lugar”, comenta o técnico do Laboratório de Operações Unitárias da Unisanta, que providenciou alguns materiais e participou da execução do projeto. Volnei de Lemos, que disponibilizou o material basicamente sucateado, contribuiu com desenho e alguns serviços manuais e também se diz alegre com o feito. “É uma enorme gratificação interior estar fazendo alguém se sentir um pouco melhor e trazer um pouquinho de comodidade”, comenta Lemos.

O adaptador exclusivo para a cadeira de Beto Schina foi entregue na segunda-feira (21/12), em Bertioga. Beto não escondeu sua gratidão aos envolvidos e salientou a importância que tal equipamento terá para a sua qualidade de vida: “Adorei o suporte. Quando saía de casa ou até em alguns lugares dentro de casa, devido ao deslocamento, não conseguia usar meu computador (que tem o programa que me ajuda na fala) e não conseguia me comunicar com outras pessoas. Com certeza o suporte vai me dar mais qualidade de vida. Sou muito grato a todos os envolvidos no projeto”.

Outra pessoa que não poupou elogios ao gesto da equipe da Unisanta foi Camila, esposa de Beto. Ela também destacou a importância que o adaptador terá para a vida e saúde de seu marido, que, segundo ela, sempre foi muito sociável. “Beto sempre foi uma pessoa super social e muito comunicativo. E, conforme a fala dele foi ficando comprometida, ele foi se retraindo e evitando reuniões com os amigos e eventos sociais. O equipamento vai ser fundamental para ele retomar a sociabilização e facilitar o dia a dia dele em vários aspectos. Mesmo porque é através do computador que ele trabalha, se comunica e tem uma certa independência. Ele está muito feliz”, conta Camila, que continua: “E nós somos muito gratos pelo trabalho maravilhoso de todos os envolvidos. São atitudes assim que fazem a diferença”.

Esse episódio é um exemplo claro de como a ciência e a tecnologia podem (e devem) ser aliadas da humanidade na solução dos diversos problemas existentes, desde os mais simples e corriqueiros aos mais complexos e importantes. Com esse adaptador, Beto poderá fazer algo que será extremamente benéfico para ele e que era impensável para portadores de Esclerose Lateral Amiotrófica há anos atrás, interagir socialmente. Isso prova a verdade de uma frase dita pelo físico teórico britânico Stephen Hawking, talvez o mais famoso portador de ELA de todos os tempos: “Enquanto há vida, há esperança”.