A natação brasileira está de luto. Maria Lenk, primeira a se destacar no esporte no Brasil, morreu nesta segunda-feira (16), no Rio de Janeiro. Ela foi pioneira em termos de participação da mulher brasileira e sul-americana em Jogos Olímpicos. Pela manhã, enquanto treinava na piscina do Flamengo, ela sofreu um mal súbito. Encaminhada ao hospital Copa D’Or, no bairro de Copacabana, Maria Lenk não resistiu. Ela estava com 92 anos.

O boletim médico assinado por Marcelo Franco, gerente médico da emergência, informa que Maria Lenk chegou ao hospital com “alteração do nível de consciência, insuficiência respiratória e quadro compatível com choque circulatório.”

Exames complementares apontaram um aneurisma e, durante a preparação para a cirurgia de emergência, a nadadora teve parada cardíaca, morrendo às 13 horas.

No último dia 12 de fevereiro deste ano, Maria Lenk foi homenageada pelo Prefeito do Rio de Janeiro, César Maia, que deu seu nome para o novo Parque Aquático que vem sendo construído no autódromo do Rio de Janeiro para receber as provas de natação, nado sincronizado e saltos ornamentais nos Jogos Pan-Americanos.

Em 2004, Lenk recebeu o troféu Adhemar Ferreira da Silva, na cerimônia de entrega do Prêmio Brasil Olímpico, destinado aos melhores atletas do ano. Com a morte da nadadora, o Comitê Olímpico Brasileiro (COB), decretou luto oficial de três dias.

Filha de alemães que imigraram para o Brasil em 1912, Maria Emma Hulga Lenk nasceu em 15 de janeiro de 1915, em São Paulo. Aos 17 anos, tornou-se a primeira mulher brasileira a integrar uma delegação olímpica, nos Jogos de Los Angeles-1932. Nas Olimpíadas seguintes, em Berlim-1936, ela estava de volta, desta vez acompanhada por mais três nadadoras.

O pioneirismo não ficou restrito às Olimpíadas. Ela também bateu o primeiro recorde mundial para o Brasil, foi a primeira a nadar borboleta, aplicando o estilo ao nado peito, prova que disputou nos Jogos de Berlim – o nado borboleta só foi introduzido nos Jogos Olímpicos de Melbourne, em 1956 – e foi a primeira a trazer o nado sincronizado para o país. Em 1942 ajudou a fundar a Escola Nacional de Educação Física, da Universidade do Brasil, atual UFRJ.

Seu auge foi no final da década de 30, quando se preparava para os Jogos Olímpicos de Tóquio. O cancelamento das Olimpíadas, por causa da Segunda Guerra Mundial, foi a maior decepção da atleta.

De qualquer forma, em 1939, ela havia batido os recordes mundiais dos 200 e 400m peito, tornando-se a única nadadora sul-americana recordista mundial. O recorde dos 400m peito, 6min15s80, foi registrado em 11 de outubro daquele ano, na piscina do Botafogo. No mês seguinte, Lenk nadou 2min56s90 na piscina do Fluminense.

A expectativa de uma medalha olímpica foi frustrada com a interrupção das Olimpíadas durante a Segunda Guerra Mundial. Lenk deixou a carreira em 1942, mas não abandonou o esporte. Além da carreira acadêmica, ela escreveu vários livros sobre natação e voltou a competir, na categoria masters.

Em sua faixa etária, ela detém os recordes mundiais em três provas de nado peito, em piscina longa (50 metros). É a mais rápida nos 50m, com 1min26s91, nos 100m, com 3min12s88, e nos 200m, com 6min57s76.

A brasileira entrou para o Hall da Fama da Federação Internacional de Natação (Fina) em 1988. No mesmo ano, foi homenageada com o “Top Ten” da Fina por ser uma das dez melhores atletas masters (masculino e feminino) de natação no mundo.