“…Olha o canto da sereia/Ialaô, oquê, ialoá/Em noite de lua cheia/Ouço a sereia cantar…”. Na suave melodia do samba da Império Serrano (ano de 1976, reeditado em 2009), percorrem-se as linhas do tempo. Desde os mesmos caminhos de Ulisses, em sua “Odisséia”, ei-las, as mitológicas figuras, de pequenas dimensões, em uma perfeita simbiose entre terra e água.
No canto, o encanto. Nas águas, o bailar, no corpo, metade mulher, metade peixe, a ondular em movimentos mais-que-perfeitos.
E tal como nos mitos gregos, bretões, celtas, africanos, as águas da Universidade Santa Cecília (UNISANTA), em Santos, ostentam suas tantas sereias. Uma delas, de nome Jéssica de Oliveira Fonseca, exprime na paixão pela natação e pela música o elo perdido entre a modernidade e entidades como Yara, Janaína, Siren, Mermaid, Liban, Iemanjá. Rainhas e princesas das águas.
Aos 18 anos, Jéssica já carrega consigo uma longa trajetória nas piscinas. “Comecei aos 8 anos. Sempre adorei a natação e como ia sempre ao sítio de meu tio, minha mãe resolveu colocar-me no aprenda a nadar da UNISANTA. Com as orientações do Cláudio (professor e técnico da equipe mirim), pude dar minhas primeiras braçadas com certo estilo. Com o Rogério (técnico dos petizes), cometi pela primeira vez”, conta.
De lá para cá, foram tantas as disputas. No ano passado, Jéssica ajudou a UNISANTA a obter grandes resultados tanto em nível estadual como nacional. Em sua especialidade, o nado borboleta, estilo que lembra o ondular de golfinhos e sereias, foi bronze nos 100 e 200 metros, no Estadual, e a quarta melhor do País, no Brasileiro.
“Neste ano de 2009, quero muito melhorar minhas marcas – 1m07, nos 100m e 2m29, nos 200m -, permitindo com isso que minha equipe continue acumulando grandes conquistas – como a manutenção da hegemonia estadual nos Campeonatos Júnior e Sênior, que vem desde 2006 – nas mais diferentes frentes. Quero ir bem, principalmente no Maria Lenk e José Finkel” – campeonatos brasileiros absolutos de verão e inverno, afirma convicta.
Para buscar motivação para melhores e mais significativos resultados, Jéssica se espelha em Gabriela Silva, principal nadadora brasileira do estilo borboleta, no supercampeão Michael Phelps –“me fascina a maneira como ele ondula”-e na companheira de equipe e amiga Yana Medeiros. “Treino na mesma raia que ela, e procuro aprender e apreender tudo o que posso com ela”, diz, revelando sua admiração.
PAIXÃO PELA MÚSICA – Da mesma maneira que ama o esporte que pratica, Jéssica deixa escapar dos olhos um brilho intenso, quando menciona outra grande paixão: a música. “Amo cantar. Vivo cantando”, diz a jovem nadadora, colocando às claras outra característica marcante das sereias: o canto.
Jéssica, que chegou a cantar em corais de igreja, sabe que nem sempre dá para se viver de paixões, embora elas ajudem e muito. “No momento, curso o primeiro ano de Engenharia Química, aqui na UNISANTA. Dá para conciliar os estudos com o esporte”, garante.
Ainda sobre a natação, nossa graciosa “aprendiz de alquimista” – Seriam as lendárias sereias, também feiticeiras ou fadas? – lembra que é no ambiente de treino e competição que encontra combustível para levar a vida em frente. “É muito gostosa essa interação com os amigos, as brincadeiras e também as coisas mais sérias, pois não dá para ir bem se não se levar à risca aspectos determinantes para a pratica esportiva como a disciplina, determinação e, muitas vezes, a renúncia”.
A pequena sereia Jéssica – sua estatura (1m53) não a distancia tanto assim do 1,50m padrão das mitológicas mulheres-peixe – dá a entender certa timidez. Mas isso não passa de uma primeira impressão. Muitas vezes, as aparências enganam. “Sou bem extrovertida. Bastante falante”, garante. Porém, mais do que falar, ela gosta mesmo é de cantar.