Renata Câmara Agondi já virou nome de rua, na Zona Noroeste, em Santos, e na Vila Alice, em Praia Grande e praça, no Itaim Bibi, na Capital. Um dia, ela sonhou em emprestar o seu nome a uma grande prova de natação em águas abertas.
Assim, a Travessia Renata Câmara Agondi, já em sua segunda edição, é mais do que o vislumbre de uma sonhadora. Trata-se da concretização de um ideal de tornar a natação um veículo para a valorização da vida e de tudo de bom e belo que a natureza oferece.
Em 2000, ocorreu a primeira tentativa de tornar real a competição sonhada por Renata, com um projeto-de-lei do então vereador Roberto Bonavides, chegando a virar lei por decreto do também então prefeito Beto Mansur.
Mas foi só em 26 de agosto de 2005, que o sonho ganhou forma e transformou-se na mais pura realidade. “Trata-se de uma prova que já nasce grande. Assim, prefeito de Santos, João Paulo Tavares Papa, definiu a Travessia -Renata Câmara Agondi, ao assinar a lei que o oficializou e incluiu no calendário oficial da Cidade. A reformulação do projeto-de-lei original foi feita pelo vereador Antonio Carlos Banha Joaquim”.
“Com uma competição deste nível, podemos ampliar consideravelmente o universo de pessoas interessadas em desfrutar da multiplicidade de atrações que Santos e a Baixada Santista oferecem”, destaca Marcelo Teixeira, presidente da Comissão Organizadora.
Renata Câmara Agondi foi um grande nome da natação brasileira nos anos 80. Ela reuniu todas as condições para figurar entre os maiores nomes da natação mundial de águas abertas. Em suas participações em provas internacionais, Renata foi capaz de impressionar os especialistas e despertar o respeito dos demais atletas.
Em 1986, em sua primeira atuação na Travessia de Capri-Napoli, uma das mais charmosas provas de mar aberto do mundo, Renata terminou em terceiro lugar entre as mulheres e na sexta posição na geral, superando o também brasileiro Igor de Souza, que terminou em sétimo.
Com o tempo de 9 horas, 27 minutos e quatro segundos, Renata ainda ficou com o título de vice-campeã da categoria profissional. A campeã feminina, a holandesa Monique Wildchut com uma experiência incomparável no tocante à Renata, completou a prova em 9 horas, 10 minutos e 35 segundos.
Renata começou a nadar com a idade de oito anos, no Aprenda a nadar do Fluminense Futebol Clube, do Rio de Janeiro, agremiação pela qual conquistou suas primeiras medalhas e títulos.
De 80 a 82, Renata manteve-se afastada da natação para retomá-la já em Santos, no Saldanha da Gama. Antes de integrar a equipe da Associação Santa Cecília de Esportes, ela ainda atuaria pelo Clube Internacional de Regatas.
Nas piscinas, Renata exibiu muito talento, mas foram nas provas de águas abertas que ela realmente se encontrou. Em um curto espaço de tempo, transformou-se na principal competidora da categoria no Estado de São Paulo e numa das melhores do País.
Depois das participações em provas internacionais na Itália, ela entendeu que chegara a hora de encarar o maior desafio de todos, a travessia das gélidas águas do Canal da Mancha.
No fatídico dia 23 de agosto de 1988, totalmente exaurida pelo esforço extremo provocado por uma imperdoável falha na rota e apresentando um acentuado quadro de hipotermia, Renata veio a falecer, deixando uma lacuna irreparável.
A história de Renata, sua passagem pela Secretaria de Esportes de Santos, pela Liga Santista de Desportos Aquáticos, pela Faculdade de Comunicação da UniSantos, seus amores e outras confidências são encontradas no livro Revolution 9, de Marcelo Teixeira, que ganhou sua versão cinematográfica com o documentário Renata, com direção do premiado Rudá de Andrade.
Renata dava o nome aos seus diários de Revolution 9, em homenagem aos Beatles, grupo pelo qual demonstrava grande admiração. Marcelo, que é presidente da última agremiação que a nadadora defendeu, a Associação Santa Cecília de Esportes (ASCE), escreveu o livro para homenagear a amiga e antiga atleta. Afinal, a própria Renata queria que isso acontecesse: “Quando morrer, eu quero que façam um livro com meus diários. Sei que não são importantes, mas são bacanas porque contam uma vida e uma vida, por mais insignificante que seja, é muito importante para aprendermos sobre nós mesmos”.