Publicado em a Tribuna, no dia 15/9, no Caderno de Esportes, página B-2
Como o futebol é movido pela paixão, nenhum presidente é unanimidade no futebol. MiltonTeixeira também não poderia ser. Mas, sem dúvida alguma, ele foi um dos grandes dirigentes do futebol brasileiro. Basta ver sua passagem pelo Santos FC. Homem arrojado, daqueles que a gente percebe que enxergava Sempre à frente dos outros.
Não foi à toa que construiu um complexo educacional e que fez história pelos clubes e entidades esportivas onde atuou. Foi assim no Clube Atlético Santista, na Liga Santista de Vôlei e no Santos FC. No vôlei, incentivou grandes jogadores e o fortalecimento dos clubes da Cidade. Na natação, formou uma das primeiras equipes fortes dentro de um colégio, com atletas que chegaram a excursionar pelo exterior.
Eu acompanhei uma parte dessa trajetória do Milton, especialmente, nas campanhas do vice-campeonato brasileiro em 1983, e no título paulista em 1984. Como era repórter setorista do Santos, acompanhei várias passagens do ex-presidente. Eu estava na Vila Belmiro, quando o então presidente Ernesto Vieira da Silva teve a humildade de chamar Milton para ajudá-lo no futebol. Teixeira não teve dúvida. Apaixonado pelo Santos, concordou em assumir na hora, se tivesse carta branca. Começou trocando o técnico. Dispensou o bom Cilinho, que tinha sido contratado para renovar o time, mas apostou em quem já conhecia os bastidores do clube, o saudoso Chico Formiga.
Aí, Milton começou a colocar em prática toda a malandragem que aprendeu com Modesto Roma, Augusto da Silva Saraiva e outros velhos companheiros. Não desistiu enquanto não convenceu o São Paulo a vender o artilheiro Serginho Chulapa – uma novela muito maior e mais emocionante do que a atual negociação de Ganso.
Juntos, Milton e Serginho agitaram o futebol paulista e brasileiro. Era o que o Santos precisava para voltar a brilhar. Já na apresentação dava para ter uma ideia do que Serginho faria na Vila Belmiro. Afinal, a ousadia de Chulapa na área só era proporcional à de Milton como dirigente.
Lembro que um jovem Marcelo Teixeira estava lá, olhando com orgulho o que o pai estava fazendo pelo clube do coração. Lembro que ele chegou a bater bola com Serginho no gramado.
Depois, Milton bancou sozinho a contratação de Paulo Isidoro. Posição por posição, foi montando uma verdadeira seleção. A fase andava tão ruim que o time nem tinha sido convidado para disputar o Campeonato Brasileiro. Mas com Serginho e Paulo Isidoro no time, o Santos foi passando pelos adversários até a chegar à final do Brasileiro. Ganhou o primeiro jogo do Flamengo, no Morumbi, e lamenta até hoje um pênalti não marcado por Arnaldo César Coelho. Depois, no Maracanã, com o time desfalcado, não dava para segurar Zico e Júnior.
A derrota não diminuiu o ímpeto do presidente. Ele queria um goleiro diferente. Cheio de
categoria e personalidade. Poucos no Brasil conheciam o uruguaio Rodolfo Rodríguez. Com a ajuda de outros santistas ilustres, ele contratou o goleiro, que fechou o gol e ajudou o Santos a sair da fila no Campeonato Paulista de 84. O gol, é claro, só poderia ser do Chulapa.
Ainda lembro de entrevistar Milton Teixeira, todo de branco, no gramado do Morumbi. Era o momento exato da consagração na casa do rival São Paulo, depois da vitória contra o maior inimigo, o Corinthians. A festa no Morumbi, a descida da Serra, a comemoração na Vila Belmiro. Tudo tinha a marca de Milton Teixeira.
Milton ainda ficou no Santos, mas não repetiu essas conquistas, porque o futebol vive de fases, e a do Santos tinha passado. É claro que Milton cometeu os seus erros como presidente. Afinal, só erra quem decide. Milton foi um presidente atuante, corajoso e vitorioso. Vitórias que foram marcas de sua vida pessoal.
Eduardo Silva é jornalista e diretor de Jornalismo da TV Tribuna