Nicholas Santos e Leo de Deus, atletas da Unisanta, mostram otimismo, autoconfiança, autoconhecimento e consciência de que terão que batalhar ainda mais para ultrapassar limites nas próximas competições.
Se depender da força de vontade e do potencial já demonstrados até agora, Nicholas Santos e Leo de Deus, nadadores da Unisanta, ainda darão muitas alegrias ao Brasil. Nicholas Santos, bicampeão mundial dos 50m borboleta, aos 38 anos, não ficou surpreso com sua última conquista na China, quando obteve o segundo ouro com o tempo de 21s81, demonstrando estar no auge de sua longa carreira.
“Eu nunca deixei de acreditar, convivo há nove anos com recordes mundiais “, disse Nicholas aos jornalistas na manhã desta terça-feira (20/12), acrescentando que, desde o começo, treina para bater recordes em esporte de alto rendimento. Na China, ele deixou para trás um adversário muito forte, o sul-africano, Chad le Clos.
Sobre os treinamentos e a rotina estressantes do dia a dia – queixa comum de vários campeões da natação, Nicholas Santos foi taxativo: “”Gosto de malhar e de treinar muito. É cansativo, doloroso, estressante, mas, para mim, não é dificuldade. Administro lesões que eventualmente acabo tendo. Competir é fácil, o difícil é a rotina do dia a dia”. Mas isso (administrar a rotina) é difícil para outros, como os administradores de empresas”.
Nicholas Santos sabe que seus colegas se espantam com sua resistência, em relação a sua idade. “Joel Morais e Hugo Duprée, com quem nadei, me perguntam: como você aguenta? Para mim, ainda não chegou essa hora de parar”.
Confiança
“Acho que desde o começo eu tentava bater recorde de campeonato brasileiro, sul-americano e até chegar a um campeonato mundial, eu nunca deixei de acreditar nisso. Então somados a dedicação que eu tenho, comprometimento, os profissionais que me acompanham no dia a dia, eu não deixava de acreditar. Acho que tem a questão da motivação, com todo o processo de desenvolver o trabalho que a gente vem fazendo ao longo de anos, é assim como em uma empresa também”.
“A diferença, explica Nicholas Santos, é que a prova que eu nado é uma prova curta e muitas vezes, levando o tempo acima da média não há tanta dificuldade na questão de resistência, da idade e tudo mais. Além do cuidado também muito grande na minha história, os treinamentos são mais curtos. Muito intensos, mas curtos também. E o tempo todo lidando com dor e lesão, no esporte de alto rendimento, a gente tem que lidar com isso”.
Realização pessoal
Nicholas Santos está realizado pessoalmente. “Já tem nove anos que eu convivo com esse recorde mundial na minha frente. Era 21s80, então eu consegui bater o recorde nesta Copa do Mundo, 21s75. Tinha como objetivo diminuir ainda essa marca no Mundial mas não é tão fácil assim, né? A gente coloca as metas difíceis assim ao longo da carreira mas passei bem perto”.
“Tinha nadado no revezamento antes, nadei no 4×50 medley 30-40 minutos antes de nadar a final dos 50 borboleta. Eu não saí tão rápido do bloco como no Mundial, saí em 0s68, uando bati o recorde mundial saí 0s61. Então acho que essa daí foi uma diferença que eu poderia ter tirado se eu não tivesse nadado o revezamento”.
“Mas são competições distintas também. Uma é Copa do Mundo eu tô lá sozinho, treinando, competindo, e quando a gente viaja pela Seleção, além das provas individuais, a gente tem que nadar o revezamento pensando no país, no grupo, no time né?. Então nadei essa prova, consegui uma medalha de bronze no 4×50 medley e esse bicampeonato mundial. Além de ganhar o Mundial bati o recorde da competição, que é uma coisa que eu tinha traçado também, que o recorde era do Chad Le Clos”, lembra Nicholas Santos.
Desafio de 2019: piscina longa
Para o ano que vem, Nicholas quer bater o recorde mundial em piscina longa nos 50m borboleta. Meu melhor tempo é 22s61 e o recorde mundial, acho que é 22s28 que o Govorov bateu esse tempo. É um tempo muito forte, muito rápido, mas é um outro objetivo que eu tenho pela frente que é bem difícil de alcançar também, mas é o que eu tenho traçado para o ano que vem”.
Na próxima Olimpíada, no Japão, Nicholas Santos terá 40 anos e sabe que não poderá nadar os 50m borboleta em piscina curta, que não é uma prova olímpica. Vai se concentrar nos 100m borboleta, modalidade que, acredita, tem condições de se classificar. Está confiante quanto aos 50m livre, prova em que sempre nadou e na qual tem chances de disputar medalhas. Admite que, aos 40 anos, seria ineditismo, e, se estivesse nadando muito mal, não estaria insistindo na natação. “Mas tenho a pretensão de encarar isso”, afirma, sorrindo.
Leo de Deus: estratégia
Leonardo de Deus, que integrou a equipe de revezamento 4x200m livre masculino, ouro no Campeonato Mundial de Natação em piscina curta, com recorde mundial, é outra esperança do Brasil em futuras conquistas. Ele nadou apenas a eliminatória naquele revezamento na China e foi substituído por Leo Santos na prova principal, à tarde. Sobre essa substituição, o nadador da Unisanta mostra humildade e consciência de que não estava tão bem e tinha que ceder o lugar para o outro.
“O que falar desse revezamento aí onde só tinha garoto novo e eu ali, que já tenho um pouquinho mais de experiência. E como o Nicholas falou, foi um revezamento de muita estratégia onde a gente estava visando o Brasil mesmo, o time. Eu tinha condições de buscar uma medalha nesse revezamento até porque quando a gente chegou lá na aclimatação que a gente fez em Hong Kong, havia três atletas que são especialistas na prova dos 200 livre e eu e o Léo Santos, que somos atletas que nadam outras provas. Eu nado 200 borboleta e 200 costas e ele nada prova de medley”.
“Então a gente estava como coringa. No papel meu tempo é menor que o dele”. O plano era o Leo de Deus nadar à tarde porque tem mais experiência e seu tempo é melhor e o Leo Santos nadaria de manhã. Só que, no decorrer da competição, Leo de Deus não estava se sentido bem e pensou: seria melhor para o Brasil, que o Leo Santos nadasse à tarde”. Resultado da estratégia: o Brasil bateu recorde mundial e ganhamos a competição por três centésimos.
“Então três centésimos é muito, muito pouco pra uma prova de 800 metros, a de 4×200 livre. Então eu só tenho a parabenizar o time, os cinco atletas e a comissão técnica que fez a estratégia ideal de me colocar de manhã, resguardar o cara pra nadar à tarde e eu como atleta que já tenho duas Olimpíadas e dois Pan-Americanos, vários campeonatos mundiais… “ Leo de Deus não gosta de nadar revezamento de manhã, mas, dessa vez, achou que era a solução ideal.
“Eu vi a importância do que um atleta “coadjuvante” pode fazer pra um time. Então, pela primeira vez na minha carreira eu falei: “Cara, eu não tenho que olhar o meu resultado. Eu tenho que olhar o que é melhor pro time, pra representar o Brasil”.
“Talvez, se eu não tivesse nadado de manhã, a gente teria ficado com o bronze, não teria tido recorde mundial, não teria tido hino, não teria sido o melhor resultado pro Brasil. Tanto os meninos como a comissão técnica falaram: Você faz parte disso tanto quanto nós”.
“Então isso que foi legal. A estratégia do time, a gente unido. Foram muitas conversas, a gente no papel olhou o que a gente ia fazer e deu certo. Os meninos pularam com sangue nos olhos. A gente tava motivado, a gente sabia do que podia fazer. A grande estrela da China, o Sun Yang, nadou esse revezamento, nadou só essa prova. Então a gente sabia que a China vinha para querer ganhar essa prova aí e não deu, foi Brasil”.
Tricampeonato é desafio para Leo
O próximo desafio para Leo de Deus é o tricampeonato pan-americano. “Hoje o único tricampeão é o Xuxa, o Fernando Scherer, na prova dos 50 livre. Então ele é o único tricampeão da natação, da história da natação e pan-americanos. Então eu estou buscando essa meta de ser o tricampeão dos 200 borboleta. Eu ganhei em Guadalajara em 2011, em Toronto em 2015, com recorde e agora em Lima a gente vai buscar esse tricampeonato.
Antes, ele estará no Mundial de Piscina Longa lá Coreia, “se não me engano”. “Motivado com o resultado que a gente obteve esse ano tanto no Pan-Pacifico quanto agora no Mundial, a busca é também uma medalha em piscina longa, na minha prova dos 200 borboleta sabendo que tenho total capacidade aí de estar brilhando assim como eu brilhei esse ano lá no Pan-Pacifico.
Rumo a Tóquio
Para Marcelo Teixeira, Pró-Reitor Administrativo da Unisanta, incentivador do esporte, as conquistas dos atletas da Unisanta resultam de um trabalho de longo tempo, “principalmente porque nós temos uma base muito forte e isso dá uma perspectiva da responsabilidade futura de surgir novos talentos. Mas hoje temos que desfrutar dos resultados de um veterano das piscinas, que é Nicholas Santos, um verdadeiro fenômeno”.
“Como outrora alguns outros, como Luiz Lima, que foi a uma olimpíada com 34 anos pelo Santa Cecília, e o fundista David Castro, um atleta que, aos 36 anos, bateu recorde sul-americano. O Santa Cecília tem esse trabalho e o Nicholas segue, com 38 anos, com expressivos resultados, inclusive recorde mundial, e isso nos dá uma alegria, uma realização”.
Marcelo Teixeira se refere a Léo de Deus como “outro grande fenômeno, sempre participando e vencendo competições internacionais. Fechamos assim de forma fantástica o ano de 2018, com excelentes resultados nas categorias infantis com campeões brasileiros, recordistas e ao mesmo tempo com atletas mais experientes, também campeões e recordistas. Fechamos com chave de ouro e isso cria, para 2019 uma perspectiva muito positiva visando projeto Tóquio 2020”.
“É muito difícil tirar o sorriso do rosto. Quando estamos saboreando uma grande conquista chega outra notícia fantástica como o resultado do Open, com recordes brasileiros. A nossa natação é só alegria”, conclui Marcelo Teixeira.