Na manhã desta terça-feira (10/8), a cidade de Santos e a Universidade Santa Cecília homenagearam a maratonista aquática e campeã olímpica Ana Marcela Cunha, membro da equipe de Natação da Unisanta. Às 10h30, a atleta desfilou, em carro aberto do Corpo de Bombeiros, pelas ruas da cidade de Santos. Após o desfile, a nadadora foi recepcionada e participou de uma entrevista coletiva no Ginásio Poliesportivo da Unisanta.
A primeira mulher brasileira medalhista olímpica de ouro em desportos aquáticos de todos os tempos, acompanhada de seus pais e de sua namorada, iniciou o trajeto do desfile em um caminhão do Corpo de Bombeiros, no Centro de Treinamento Meninos da Vila, no bairro Saboó. Passando por vários pontos importantes da cidade de Santos e sendo ovacionada pelos cidadãos, o comboio em homenagem a Ana Marcela teve como destino final a Unisanta, chegando por volta das 11h30.
Durante o desfile pela cidade de Santos, Ana Marcela Cunha falou sobre a emoção em ser homenageada: “Estou muito feliz em ter retornado a Santos e receber esse carinho de todo mundo”. A atleta também se disse grata pela presença de sua família no desfile, que, segundo ela: “Assim como a Unisanta e todos os meus patrocinadores, acreditaram em mim e sempre me apoiaram. Então são pessoas muito especiais que tinham que estar junto comigo nesse momento”.
Quando perguntada sobre os Jogos Olímpicos de Paris, em 2024, a medalhista em Tóquio ponderou: “Eu sou muito um passo de cada vez, e tem a próxima etapa de Copa do Mundo este ano ainda, o Campeonato Mundial em maio do ano que vem, pra depois pensar na seletiva e nos Jogos Olímpicos de 2024”.
“É a hora de retribuir, e a Ana Marcela poder sentir esse ‘calor’ das pessoas que vibraram e fizeram com que ela tivesse mais força. Essa energia positiva é muito importante.”, comentou George Cunha, pai da medalhista olímpica, durante desfile pela cidade de Santos. Ana Patrícia Cunha, mãe da premiada atleta da Unisanta, também falou sobre a emoção que sente vendo as homenagens para a filha: “Isso aqui é um sonho, uma grande realização. Sempre sonhei com ela desfilando com carro do Corpo de Bombeiros assim, mostrando o que ela é”.
“Antes dela (Ana Marcela) viajar, eu fiz um potinho com a quantidade de bilhetes igual ao número de dias que ela ficaria fora, para ser uma forma de nós conseguirmos nos conectar em algum momento do dia mesmo ela estando lá super focada com a rotina dela”, contou Maria Clara Fontoura, namorada da maratonista aquática, sobre sua solução para motivar Ana Marcela do outro lado do mundo.
A coordenadora de natação da Unisanta, Rosa do Carmo, que acompanha a trajetória da medalhista olímpica desde sua chegada a Santos, em 2007, também comentou essa nova conquista: “A Ana Marcela deu um prêmio maravilhoso, não só para a universidade, mas também para toda a região de Santos, que se reforça como exemplo na natação”.
A entrevista coletiva
Já “em casa”, na instituição em que faz parte da equipe, Ana Marcela também foi ovacionada pelos presentes, incluindo atletas da instituição e a alta direção do Complexo Educacional Santa Cecília. O primeiro a abraça-la foi o Presidente do Conselho de Administração da Universidade Santa Cecília e Presidente do Sistema Santa Cecília de Comunicação, Marcelo Teixeira, sobre quem Ana Marcela comentou: “O abraço do Marcelo representa muita coisa, não só a minha medalha de ouro, mas também a construção de tudo isso. Ele é um cara que gosta muito do esporte, ele vive disso, então ele sabe o quanto é difícil essa vida e o quanto ele pôde me acompanhar”.
Logo depois da recepção calorosa, a requisitada maratonista aquática passou pelo consistório onde foi recebida pela alta direção da universidade e depois se encaminhou ao Ginásio Poliesportivo da Universidade, onde, antes de iniciar a entrevista coletiva com a presença de profissionais de imprensa de todo o Brasil, houve uma surpresa: ao som de “We are the champions”, do Queen, um grande banner com Ana Marcela mordendo sua medalha de ouro foi revelado.
“Agradeço muito a todos os presentes […] Eu sou baiana, somos muito calorosos, e poder sentir isso do povo santista, dos alunos e atletas que estão aqui hoje é muito gratificante. […] Fico muito feliz em ter trazido essa medalha de ouro histórica e acho que um dos poucos lugares que consegue mostrar o que o Brasil poderia ser, uma potência esportiva e educacional é a Unisanta. Aqui vemos a conciliação entre esporte e educação”, destacou Ana Marcela Cunha.
Ainda homenageando a Unisanta, a atleta relembrou: “E com tudo o que fomos vivendo da pandemia, acho que tinha uns seis ou oito meses que eu não vinha aqui. Nesta reta final, principalmente, eu foquei muito e me fechei para entrevistas e reportagens, mas agradeço muito por terem entendido esse momento que eu precisei e me receber de volta aqui com esse abraço. E com toda a certeza sempre vou levar comigo esse carinho que tenho pela família Teixeira”.
Na entrevista coletiva, vários temas foram levantados pelos jornalistas e cordialmente respondidos por Ana Marcela. Uma das primeiras questões perguntadas foi sobre a questão da preparação para Tóquio em um momento de restrições tão únicas provocadas pela pandemia da COVID-19. Sobre isso Ana Marcela comentou que a realização das Olimpíadas por si só já foi um grande feito. Ela também comentou que se preparou muito para os Jogos, especialmente após a primeira onda da pandemia, com a reabertura gradual do centro de treinamento.
Quando questionada sobre a pressão sentida durante o maior evento esportivo do mundo, Ana Marcela respondeu: “Aquele nervosismo de Jogos Olímpicos não existiu para mim, então, quando chegou no final de prova, eu não pensava que ia ser campeã olímpica, não sentia o coração acelerar. Eu simplesmente fiz a prova do jeito que havia combinado, que hoje chamo de prova perfeita, pois acho que nunca nadei tão bem na hora certa quanto naquele momento”.
Outra pergunta que vai ao encontro de temas levantados durante as Olimpíadas de Tóquio foi relacionada à saúde mental dos atletas de alto rendimento como Ana Marcela Cunha. “Uma coisa muito importante que eu aprendi e venho fazendo desde 2011, quando eu comecei meu trabalho com a minha atual psicóloga, é que a preparação física anda junto com a parte mental. Então conseguimos, a cada treino, aplicar a preparação mental”, destacou a medalhista, que também ressaltou a importância do apoio da família em sua preparação e ainda fez uma brincadeira sobre sua mãe. “Eu cheguei ao aeroporto e ela só perguntava: ‘Cadê a medalha? Eu quero ver’”, comentou, entre risos, a nadadora.
Além das respostas e relatos de Ana Marcela, um acontecimento que marcou a entrevista coletiva foi uma homenagem surpresa apresentada pessoalmente por Marcelo Teixeira, que pediu a palavra e disse: “A Ana falou um fato importantíssimo: que é a nossa aluna de Educação Física. Além da medalha ela já é a rainha das águas, mas ela também conquistou algo muito importante e eu queria aproveitar esse momento e entregar para ela o Certificado de Conclusão do seu curso de Educação Física da Unisanta! Recebendo os nossos cumprimentos, recebe também neste momento o Certificado de Conclusão do curso e é a nova bacharela em Educação Física do Brasil!”.
Por volta das 13h30, o mestre de cerimônias finalizou a entrevista coletiva e, dessa forma, pôs um ponto final na histórica recepção formal da Unisanta e do povo santista à genial atleta e medalhista olímpica Ana Marcela Cunha.
Trajetória de talento e superação
Nascida em Salvador, Ana Marcela Jesus Soares da Cunha nutre, desde sempre, uma paixão pela natação. Em 2007, aos 15 anos, ela se mudou para Santos e passou a integrar a equipe de natação da Unisanta. Desde então, a nadadora baiana se estabeleceu como uma potência mundial na maratona aquática, quebrando recordes e atingindo marcas históricas sistematicamente.
Antes das Olímpiadas de Tóquio, Ana Marcela já havia conquistado quase todos os troféus mais importantes que existem em seu esporte: ela subiu 12 vezes ao pódio em campeonatos mundiais, sendo cinco medalhas de ouro, também foi ao pódio 66 vezes em campeonatos da Federação Internacional de Natação (Fina), sendo 33 medalhas de ouro, e ainda conquistou a primeira medalha de ouro da história da natação brasileira na maratona aquática dos Jogos Pan-Americanos, em 2019.
Agora, depois de terminar na quinta colocação nos Jogos de Pequim, em 2008, e em 10º lugar no Rio de Janeiro, em 2016, a conquista da primeira medalha olímpica de ouro brasileira da Maratona Aquática fortalece o quadro de conquistas da baiana de 29 anos de idade, que se junta ao nadador Cesar Cielo como brasileira campeã olímpica nas águas.
Esse ouro histórico foi conquistado no Parque Marinho de Odaiba, na terça-feira (03/08), quando Ana Marcela nadou para os 10km com a marca de 1:59:30.08, com uma última volta especialmente emocionante, em que a atleta da Unisanta saiu da quarta colocação e assumiu a liderança, vencendo a prova e fazendo história.