Um grave erro médico o levou a perder toda a visão em 1994. Mas, Valdemir Pereira Correa está muito longe do que se pode definir como deficiente visual. Tudo bem que ele, comparado à enorme parcela da humanidade, leva uma considerável desvantagem quando se trata dos cinco sentidos, tão necessários aos humanos.

Este aluno da Faculdade de Educação Física e Esporte (Fefesp), da Universidade Santa Cecília (UNISANTA), de Santos, no entanto, tem uma fantástica noção de tempo e espaço, advinda, quem sabe, dos olhos da alma.

Esta noção o faz praticar com incrível facilidade esportes como surf e taekwondo. “Trocadilho à parte, a primeira vista, parece inacreditável, mas a pratica do esporte me faz enxergar. Não da maneira como as pessoas entendem, mas de uma forma que transcende o entendimento natural das coisas”, justifica.

Valdemir diz que com o surf, foi capaz de desenvolver uma noção de entendimento da natureza que o leva a precisar o momento exato da formação das ondas. “Já nas artes marciais, em particular no taekwondo, é como se eu enxergasse pontos de referências que me levam a manter a posição e executar os movimentos sem desequilíbrio”, admite.

Recentemente ele conquistou o título de campeão da Copa Ipiranga Taekwondo Clube, na modalidade poomse, na qual são executados movimentos de ataque e de defesa ã frente a um inimigo imaginário, semelhante ao kata, no karatê.

“Atuei na categoria master e tive competidores bastante fortes e de vários estados. Foi quase um campeonato brasileiro”, reforça Valdemir, lembrando que ele pratica a modalidade há dois anos. “Além do taekwondo, pratiquei karatê, judô, Jiu-jitsu e capoeira, entre outras artes marciais”.

Ele também é surfista há mais de uma década e tem planos de experimentar o skate. “Acredito que esse esporte possa me ajudar ainda mais, colocando-me em pé de igualdade com as demais pessoas, afinal técnica, força, velocidade e, sobretudo visão, partem de dentro para fora. São gerados m nossa mente”, afirma.

Além da pratica esportiva, Valdemir tem planos de buscar na Educação Física condições que o levem a pesquisar e desenvolver programas que possam auxiliar portadores de deficiências visuais de todos os graus. O que ele quer mesmo e fazer com que todos possam enxergar, mesmo que um pouco, com os olhos da alma.

“O conhecimento da teoria, por certo, me levará a entender o que ocorre comigo. E, assim, poderei passar adiante minhas experiências de uma maneira que todos compreendam e aprendam”, conclui.