Ilha DianaDispostos a estudar a vida de alguns pescadores, alunos do mestrado em Ecologia da Universidade Santa Cecília (Unisanta) enfrentaram, na sexta-feira (2/5), as marolas numa viagem de 45 minutos no barco Carolyn do pescador “Camarão”, da Ponta da Praia de Santos até a Ilha Diana.

Considerada um patrimônio histórico e cultural, a ilha possui 54 casas, e muitas pessoas que moram lá conservam costumes e tradições transmitidas por seus familiares.

Moradores que viviam da pesca artesanal, hoje já buscam alternativas de trabalho em outros locais, pois segundo eles, além da escassez de peixes, está mais difícil vender para comerciantes que alegam poluição no estuário.

A pesca hoje é utilizada mais para uso doméstico e, quando a pescaria não dá conta e a vida fica mais complicada, um ajuda o outro para a garantia do sustento das famílias.

Na Ilha Diana, que muitos moradores consideram um paraíso, predomina o espírito de solidariedade. “Aqui só existe nego trabalhador, não tem ladrão, um defende o outro, só tem amizade”, afirmou o pescador M.G. de 43 anos e pai de dois filhos. Ele mora na ilha desde que nasceu.

A.S.A., de 68 anos, que todos chamam de prefeito, mora no local há 60 anos e hoje tem uma família com 20 pessoas.  É aposentado e ajuda os moradores no que diz respeito à infraestrutura. Figura exótica, já foi tema da obra do Projeto de extensão “Memória Social no Centro Histórico de Santos – Entre a Ilha Diana e a hospedaria dos Imigrantes”, da Universidade Federal de São Paulo. “Eu ajudo nas melhorias e faço a comunicação com a prefeitura e tenho muitas ideias pra melhorar”, disse ele, que também acredita morar num paraíso.

W.S. é marinheiro e pescador, já percebeu que só da pesca não consegue mais sobreviver. Com 41 anos de idade, dois filhos, cursou até a sexta série do ensino fundamental, é também condutor de barcos. “Não quero sair desta ilha, aqui a gente tem que se virar; se não tem só pesca, vamos procurar outro serviço também. Aqui tem sossego, não tem violência, dormimos com a porta aberta, todos são amigos e um ajuda o outro”.

Para alguns dos pescadores da Ilha Diana, basta a natureza e a paz do local para ser feliz. Um exemplo disso é que não houve tanta empolgação com o projeto de uma indústria de tintas que coloriu toda a fachada das casas. Alguns entrevistados disseram, sem muito entusiasmo, que a iniciativa foi boa, já outros responderam que tanto faz.

As fachadas das humildes casas foram pintadas com cores berrantes e algumas têm até adornos com sobras de materiais que destoam do tipo de construção. Isso contrasta bastante com a natureza local e descaracteriza o estilo das casinhas.

Casas
Créditos: Carlos Vinicius

Para o arquiteto e professor da Unisanta, Paulo Andrade, houve certo exagero na iniciativa deste marketing. “Faltou um tratamento diferenciado para preservar a identidade das casas. Se fossem pintadas com as tradicionais cores pastel, ficariam mais interessantes. As cores atualmente são berrantes e agressivas, sem muito critério”, disse.

A disciplina Ecologia de Campo IV em Ecologia Humana que faz parte do mestrado em Ecologia da Unisanta tem como docente responsável a Dra. Mariana Clauzet e as colaboradoras Dra. Milena Ramires e Dra. Alpina Begossi.

Além da Ilha Diana, os alunos visitaram também o Mercado de Pesca na Ponta da Praia, a Rua do Peixe e o píer dos pescadores em Santos e o da Ponte Pênsil em São Vicente.

A identidade dos entrevistados foi preservada e, por isso, encontram-se apenas as iniciais dos moradores que participaram da matéria.