Colaborou Rodrigo Fiorentino

Uma das conclusões é a de que o rio Tejereba apresentou certo grau de contaminação quando comparados com os limites estabelecidos pela resolução CONAMA 357/2015, principalmente quanto à concentração de fosfato e a presença de coliformes totais e fecais.

Apesar de o rio Tejereba não ser utilizado para recreação ou para abastecimento urbano, ele deságua em uma praia muito apreciada por turistas. Dessa forma, a qualidade da água de rios que deságuam em locais turísticos deve ser monitorada. Essa foi uma das conclusões apresentadas pelo mestrando Marcos de Camargo em sua defesa de dissertação no Programa de Pós-Graduação em Sustentabilidade de Ecossistemas Costeiros e Marinhos, realizada nesta quinta-feira (13/3).

“Embora o córrego sofra interferência de esgotos clandestinos domésticos, drenagem de águas pluviais e atividades comerciais, incluindo um cemitério, a turbidez não variou muito entre os pontos e se encontraram dentro do limite estabelecido pela CONAMA 357/2015”, escreveu Marcos de Camargo.

Mesmo durante o período chuvoso (1º e 2º campanhas de coleta deste estudo), quando eram esperados maiores valores de turbidez, devido ao maior transporte de partículas por escoamento superficial para os corpos d’água, não foram observadas grandes alterações desta variável no rio estudado, explicou o mestrando..

Com relação ao nitrogênio, em todas as campanhas, “foi observada a predominância de nitrato em relação ao nitrogênio amoniacal, sugerindo uma possível poluição antiga ou de fontes distantes. Isso pode ocorrer pelo fato deste canal ser de baixo fluxo e, também, por já receber o aporte de esgotos domésticos há muitos anos. Dessa forma, trata-se de uma poluição antiga nesse rio”, esclareceu o mestrando. .

“As concentrações somadas de nitrogênio amoniacal, nitrito e nitrato do córrego Tejereba superam as concentrações máximas de nitrogênio total detectadas em estudos sobre escoamento de águas pluviais urbanas, na Flórida/Estados Unidos (Estado com amplo atendimento do saneamento ambiental): 1.09 mg/L de nitrogênio total, o que sugere, novamente, que as concentrações obtidas no presente estudo, podem ter relação direta com a presença de esgotos clandestinos advindos do morro da Enseada. Pelo fato de o córrego desaguar nas praias da Enseada, a presença de nitrato pode estar contribuindo para o desequilíbrio do ecossistema marinho”.

Fosfato e coliformes fecais preocupam

Segundo o estudo, as altas concentrações de fosfatos são preocupantes pois, assim como a série de nitrogênio, o aporte de fosfatos no ambiente marinho pode contribuir para problemas ao ecossistema, como a proliferação de algas tóxicas, com reflexos diretos para o homem, prejudicando atividades recreativas na praia da Enseada. Ainda conforme o estudo, “algumas toxinas geradas pelo grande aporte de fosfatos podem contribuir para problemas neurológicos ou respiratórios em seres humanos”.

“A concentração de coliformes totais e fecais se apresentaram acima do limite estabelecido (0,2 x 104 UFC/100ml). A presença de bactérias do tipo coliformes totais pode ser também associada com a contaminação fecal e, no presente estudo, excedeu o limite estabelecido em 4000x, nas três coletas realizadas (em janeiro, março e abril). Já a concentração de coliformes fecais excedeu o limite estabelecido pela legislação em 1500x; 1750x e 3000x nos meses de janeiro, março e maio, respectivamente”.

Apesar de todos os meses terem violado as diretrizes da CONAMA para coliformes totais e fecais, houve um aumento na concentração de coliformes fecais no mês de maio. Esse mês apresentou menor porcentagem de turistas em relação aos outros meses (cerca de 5% menos turistas) e, ao mesmo tempo, menores índices pluviométricos.

“Por outro lado, a presença de coliformes totais em altas concentrações em todos os meses amostrados, independente do período de maiores ou menores chuvas/população flutuante, pode ser devido ao contínuo despejo de efluentes domésticos nesse rio. A presença destas bactérias nos canais de Tejereba indicam um potencial risco à saúde, uma vez que estas águas desembocam direto em uma praia muito apreciada por turistas”.

 Balneabilidade

 Estudos realizados na Europa, segundo a pesquisa de Marcos de Camargo, “demonstraram que estes patógenos, quando conduzidos para as praias via canais de drenagem pluviais durante episódios de chuva, são responsáveis pela perda sistemática da balneabilidade das praias e apresentam também um potencial risco para a saúde pública pois a exposição a eles nestas águas recreativas está associada ao aumento de risco de doenças gastrointestinais, infecções respiratórias, de olhos, ouvidos, pele, além de meningite e hepatite sendo que, durante o verão, quando há um aumento de turistas e de descargas de esgotos no mar, os eventos de gastroenterite são agravados.

O fato da E. Coli ter sido detectada em altas concentrações em todas as campanhas indicam, portanto, uma interferência antrópica advinda dos esgotos clandestinos do morro da Enseada, já que a bactéria é um importante marcador de esgotos domésticos, e está presente nas fezes humanas em percentuais entre 96 a 99%.

A CETESB monitora oito das 26 praias do Guarujá, com frequência semanal (aos domingos, quando utiliza o indicador microbiológico Enterococos. Já os canais, 31 dos 43 (dentre eles o rio Tejereba) são amostrados uma vez por semestre, e são analisados através do indicador microbiológico E. coli. Os resultados da E. coli, monitorados pela CETESB, corroboram com este estudo também, apresentando alta concentração dessa bactéria neste rio.

BANCA

Bruno Lopes da Silva Ferrette é Pós-doutorando associado ao Laboratório de Genética Pesqueira e Conservação (GenPesC) do Instituto do Mar (IMar) da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), Campus Baixada Santista e do Laboratório de Genética e Conservação da Universidade Santa Cecília (Unisanta). Atua como Professor Colaborador nos Programas de Pós-Graduação em Auditoria Ambiental e em Sustentabilidade de Ecossistemas Costeiros e Marinhos (PPG-ECOMAR), na Unisanta, na área de concentração de Biodiversidade.

Prof. Dra. Helen Sadauskas Henrique , orientadora do trabalho, é Mestre em Ecologia e Recursos Naturais pela Universidade Federal de São Carlos (2009) e Doutora em Biologia de Água Doce e Pesca Interior pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA (2014), com estágio doutoral realizado na Curtin University (Perth-Western Australia).

Em 2015,  realizou Pós-Doutorado através de um convênio internacional entre o INPA e a University of British Columbia – UBC (Vancouver-Canadá). Atualmente é professora permanente da Universidade Santa Cecília

Prof. Fabio Cop Ferreira possui graduação (2005), mestrado (2007) e doutorado (2011) em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” e pós-doutorado (2014) pelo Departamento de Ecologia na mesma instituição. Atualmente é professor Adjunto na Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP, campus da Baixada Santista, Departamento de Ciências do Mar.