Quem passa pela rodovia dos Imigrantes, na altura do Km 65, não sabe o nome das pessoas que olham através das janelas dos barracos, estendem as roupas no varal, se preparam para ir trabalhar. Até tentam imaginar como é a vida daquela gente, quem são, o que fazem, para que time torcem. Porém em questão de minutos, encantados pela linda paisagem da Serra do Mar ou preocupados com algum outro assunto, deixam a “imaginação’ de lado. Nada fazem para ajudar.

Quem passa pela favela do México 70 dificilmente pára. A pobreza assusta. Dá medo. Ali estão encravados os tristes números da imensa desigualdade do país. O desemprego, a falta de educação, saúde, segurança, todos juntos impregnados ao colorido dos barracos. Os direitos básicos de todo cidadão sendo desrespeitados do lado de fora do carro.

Com o objetivo de levar lições de cidadania aos moradores de uma das regiões mais carentes da Baixada Santista, há quatro anos a Universidade Santa Cecília (UNISANTA) mantém o projeto Universidade Cidadã, que já capacitou mais de 550 pessoas sobre Estatuto da Criança e do Adolescente, Direito da Família, do Trabalho, do Consumidor e Fundamental.

Coordenado pelos professores e advogados Marcelo Henrique Gazolli Veronez e Felipe Chiarello de Souza Pinto, o trabalho tem como proposta orientar a população quanto às diversas áreas do Direito, possibilitando a busca por uma melhor qualidade de vida.

Atualmente cerca de 40 alunos, de todos os ano do curso de Direito, são voluntários no projeto, reunindo-se todos os sábados para terem aulas de oratória, além de debaterem os assuntos que serão abordados nas palestras.

Segundo Veronez, o contato com uma realidade diferente é a maior bagagem que o aluno levará para a vida profissional. “Os acadêmicos vão para transmitir conhecimentos, mas acabam aprendendo bastante com a comunidade. Existe uma troca de experiências, um fluxo de informações”.

Com a sabedoria de quem viveu a realidade no local e conviveu com os moradores, o advogado Rogério Freitas Pereira, que se formou em 2004 e durante dois anos foi voluntário do projeto, disse que a oportunidade é inesquecível. “Tudo o que ensinei foi muito pouco perto do que aprendi. O contato com aquela gente carente nos ensina o que não aprendemos dentro de um escritório ou uma sala de aula. Até hoje sou amigo de muitos deles”, disse.

Cartilha – Além das palestras, os alunos da UNISANTA estão elaborando uma cartilha com a síntese das apresentações ministradas nas comunidades. Para isso, os estudantes de Direito contam com a ajuda de alunos de Pedagogia, Jornalismo, Publicidade e Artes.

Segundo Veronez, “o objetivo do trabalho é passar as informações de Direito e Cidadania através de uma linguagem acessível a pessoas menos instruídas. Estamos estudando a possibilidade de criar uma história em quadrinhos, já que muitos alunos que atendemos possuem dificuldades com a leitura. Itens como: onde tirar seus documentos e como acessar o judiciário fazem parte do conteúdo”, conclui.