Pesquisadores santistas identificam substâncias farmacêuticas e cocaína na baía de Santos

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O artigo foi publicado na revista internacional Science of the Total Environment, veículo de prestígio da comunidade científica mundial

Um trabalho científico realizado por docentes do mestrado em Ecologia da Universidade Santa Cecília (Unisanta) e pesquisadores da Unifesp, identificou altas concentrações de produtos farmacêuticos, além de cocaína e da benzoilecgonina (substância excretada pela urina humana após metabolização da cocaína pelo fígado), na baía de Santos.

O estudo, que conta com a participação de pesquisadores dos Laboratórios de Ecotoxicologia e de Pesquisa em Produtos Naturais da Unisanta, além de pesquisadores dos Departamentos de Ciências do Mar e de Biociências da Unifesp, relata de forma inédita dados preocupantes sobre esses contaminantes emergentes na água do mar da região, trazendo um alerta quanto aos prejuízos ao meio ambiente.

Com o tema Occurrence of pharmaceuticals and cocaine in a Brazilian coastal zone – Ocorrência de produtos farmacêuticos e de cocaína em uma zona costeira brasileira, o trabalho foi publicado na revista internacional Science of the Total Environment, volumes 548–549 (2016), páginas 148 a 154. Trata-se de um veículo de prestígio da comunidade científica mundial.

Etapas – As coletas foram feitas através de cinco estações de amostragem, instaladas em área adjacente com forte influência do Emissário Submarino. A baía de Santos recebe do emissário cerca de sete mil litros de esgoto tratado por segundo, proveniente das cidades de Santos e São Vicente.

Importante ressaltar que o esgoto passa por dois processos para retirada de sólidos, como toneladas de areia e de outros componentes descartados de maneira indevida na rede de esgoto. Esse material é destinado a aterros sanitários. Os líquidos resultantes passam por processos químicos preliminares para difusão em alto-mar.

Através da análise quantitativa, a equipe de pesquisadores investigou 33 compostos. Foram encontrados sete produtos farmacêuticos: um analgésico (paracetamol), três anti-hipertensivos (valsartan, losartan e atenolol), dois anti-inflamatórios (diclofenaco e ibuprofeno), cafeína (que pode ser encontrada em combinação com produtos farmacêuticos), além de uma droga ilícita (cocaína) e seu principal metabólito humano, a benzoilecgonina, presente na urina.

Alerta – No encerramento do artigo, os autores afirmam que as altas concentrações de produtos farmacêuticos e de cocaína encontradas no ecossistema marinho em estudo são preocupantes. De acordo com o Prof. Camilo Seabra, coordenador do estudo, “Não se pode descartar a possibilidade de haver absorção e a retenção dessas substâncias no organismo dos seres vivos (bioacumulação), o que pode provocar efeitos nocivos”.

Segundo os pesquisadores, o passo principal para minimizar a contaminação por esses compostos deve ser a redução do descarte inadequado de medicamentos e o desenvolvimento de um tratamento mais eficaz para descarga de águas residuais.

Além disso, acreditam que é preciso haver novas políticas sobre a avaliação dos riscos ambientais e gestão desses resíduos. Destacam ainda a importância da conscientização pública, entre os profissionais de saúde e consumidores, a fim de reduzir a prescrição e o consumo excessivos de medicamentos, crescentes nos grandes centros urbanos.

O estudo contou com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq e das universidades envolvidas.

Foto: Nara Assunção