O primeiro exemplar é uma fêmea de 348 mm, capturada pela pesca de parelha, na profundidade de 36 metros

Uma espécie rara de peixe, que antes era apenas vista em águas geladas do Sul da Argentina ao Sul do Uruguai, foi encontrada nas águas do litoral de São Paulo, nas proximidades da Ilha de Montão de Trigo. Popularmente conhecido como Savorin, o peixe foi identificado graças a um projeto da Universidade Santa Cecília (Unisanta) denominado Pró-Pesca: Pescando Conhecimento.

Coordenado pelo biólogo pesquisador e professor da Unisanta, Matheus Rotundo, o projeto tem por objetivo integrar pesquisadores e pescadores (artesanais e industriais). Participam cerca de seis pesquisadores, além de 11 estagiários, alunos do curso de Biologia Marinha da Unisanta e de Pós-Graduação.

O peixe foi capturado por pescadores (colaboradores do Pró-Pesca / Unisanta) no dia 12 de agosto de 2007, e desde então foi analisado, com parceria de vários institutos de pesquisa da América do Sul, até a confirmação e publicação do artigo em revista científica de cunho internacional, previsto para os próximos meses. O estudo feito pelo professor Rotundo em conjunto com o pesquisador e professor do curso de Mestrado em Ecologia Marinha da Unisanta, Dr. Teodoro Vaske Júnior.

Matheus Rotundo, curador do Acervo Zoológico da Unisanta

O exemplar é da espécie Seriolella porosa e pertence à família Centrolophidae (conhecidos mundialmente como peixes medusa, devido viverem associados a espécies de cnidários oceânicos ou ilhas oceânicas).

De acordo com Rotundo, a possível explicação da presença desta espécie no litoral paulista, é a zona de convergência da corrente das Malvinas (águas frias) provenientes do Sul da América, com a corrente do Brasil (águas quentes), proveniente do Norte da America do Sul. “Este encontro de correntes faz com que o nosso litoral possua espécies de águas frias e quentes, aumentando a diversidade, porém diminuindo a abundância de espécies de peixes”.

O biólogo pesquisador explica ainda que o Savorin não é um peixe comercial no Brasil, apesar de comestível. “Quando pescado, este peixe é geralmente descartado, por ser desconhecido para a maioria dos nossos pescadores”.

Até o momento, outros seis exemplares foram coletados no Brasil e estão depositados em coleções científicas de institutos que colaboraram com esta validação.

O peixe Savorin agora integra a coleção científica do Acervo Zoológico da Unversidade, onde encontram-se classificados e conservados cerca de 14 mil peixes de diversas espécies, 90% deles capturados na parceria com pescadores. Rotundo é curador do Acervo.

Inauguração
O projeto Pro-Pesca será integrado a FIFO — Fisheries and Food Institute — conhecida também como Instituto para Pesca, Diversidade e Segurança Alimentar, cuja sede nacional foi inaugurada na última quarta-feira (24/8), na Unisanta.

O Instituto, que realiza pesquisa nas áreas de pesca artesanal, etnobiologia e ecologia humana desde 2006, têm como finalidade promover e realizar pesquisas em temas como “pesca e segurança alimentar” e “diversidade e alimento para o futuro”, por meio do contato direto com as comunidades pesqueiras, em algumas ações, até integrando os pescadores como auxiliares nas pesquisas científicas.

As pesquisas resultam na valorização do conhecimento dessas comunidades e auxiliam na conservação dos peixes e da biodiversidade como um todo.

Inauguração da FIFO —Fisheries and Food Institute — conhecida também como Instituto para Pesca, Diversidade e Segurança Alimentar

Com a sua nova sede na Unisanta, o Instituto se aproximará dos alunos, professores e pesquisadores aqui da região da Baixada Santista e de todo litoral paulista. Essa aproximação, em conjunto com as pesquisas realizadas pelos alunos de Mestrado em Ecologia Marinha e Sistemas Costeiros da Unisanta, abrirá portas para inúmeros trabalhos de desenvolvimento da pesca da região.

A bióloga, professora e pesquisadora do Mestrado em Ecologia da Unisanta, doutora em Ambiente e Sociedade pela Unicamp e integrante da FIFO, Milena Ramires, visa futuramente ter um levantamento de toda comunidade pesqueira da Baixada Santista.

Esse diagnóstico será possível com a realização do projeto “Ecologia Humana, Etnoecologia e Conservação de Recursos Pesqueiros na Baixada Santista/ Sp”, que será apresentado pela bióloga, com apoio dos membros da FIFO, os Drs. Alpina Begossi, Mariana Clauzet e Walter Barrella.

“O objetivo desta pesquisa é caracterizar a pesca artesanal na Baixada Santista, o conhecimento local dos pescadores, o consumo de pescado, a ecologia e a biodiversidade das espécies de peixes e educação ambiental sobre os recursos pesqueiros locais,” afirma Milena.

Tradição – A parceria com a FIFO reforça a tradição da Unisanta como universidade pioneira em pesquisas na área de Meio Ambiente, que dão suporte aos cursos de Mestrado em Ecologia Marinha e Gerenciamento Costeiro, aos cursos de Lato Sensu na área ambiental, à iniciação científica e às necessidades da Região na área.