Impacto ambiental continua

Antes do incêndio da Ultracargo, biólogos da Unisanta conheciam o registro científico de 78 espécies no estuário, até 2012. Após o desastre ecológico, o número de espécies reconhecidas na região subiu para 142, ou seja, 64 a mais do que o número conhecido até a semana passada. Algumas são espécies invasoras, como o peixe-sapo.

Mais 26 (vinte e seis) espécies de peixes das quais não se tinha conhecimento científico de que existissem no estuário de Santos morreram durante o incêndio na Alemoa, conforme novas pesquisas terminadas na noite de quarta-feira (22/4/2015), pelo biólogo Matheus Rotundo, coordenador do Laboratório de Pesquisas Biológicas do Acervo Zoológico da Universidade Santa Cecília (Unisanta).  A causa provável ainda não foi determinada – atribui-se à elevação da temperatura que reduziu drasticamente o oxigênio da água.

Em 18 de abril último, o biólogo já havia detectado 38 novas espécies mortas no estuário. Esse número, somado às 26 espécies registradas no último fim de semana, elevou para 64 o número de novas espécies, em relação ao que se conhecia até  2012. Para Matheus Rotundo, o desastre ecológico provocado pelo incêndio trouxe, de maneira triste, maior conhecimento para os estudiosos na área.

O biólogo informa ter recebido de pescadores, no último fim de semana, outra remessa de peixes mortos e, após examiná-los e catalogá-los durante o feriado e o último fim de semana, conclui que a soma de espécies atingidas é ainda maior do que se imaginava no último dia 18 de abril. “E algumas delas são espécies invasoras, que podem prejudicar a fauna natural da região. Dentre elas,  o Opsanus beta (peixe-sapo),  que se distribui originalmente no Golfo do México, de Belize até Palm Beach, na Flórida.”

O trabalho conjunto com os pescadores é feito pela Unisanta há cerca de 20 anos, por meio do projeto Pró-pesca – Pescando o Conhecimento. No sábado passado (22/4), pescadores do Canal de Bertioga e de Guarujá, que também capturam pescado nos locais afetados pelo incêndio, em Santos e Cubatão, entraram em contato com a equipe da Universidade, para que fosse analisado o novo material coletado.

“Após três dias consecutivos de análises, o número de espécies impactadas aumentou 22%, ou seja, de 116 (conhecidas até 18 de abril),  para 142. Aumentou também os números de ordens (de 19 para 20) e de famílias (de 48 para 54).”    Entre as espécies registradas nesta semana há peixes-morcegos, enguias e manjubas.

Quanto às essas espécies vistas na região, é possível que elas já existissem por aqui, mas não eram capturadas no estuário pelos tipos de redes de pescadores artesanais, segundo o biólogo. E os pescadores profissionais, com equipamentos mais potentes, são proibidos de atuar próximo da costa. Rotundo explica que a ciência só considera evidência de espécies existentes em uma região após publicação científica a respeito.

Ameaças de extinção

Matheus Rotundo  afirma que  aumentou também o número de espécies pertencentes à lista nacional de animais ameaçados de extinção (Portarias MMA Nº 444 e 445/2014), na qual foi incluída o Megalops atlanticus (Tarpom), na categoria vulnerável. Em nível estadual, seguindo o Decreto Nº 60133 de 07/02/2014, o número de espécies também cresceu, passando de 12 para 15 espécies quase ameaçadas.

De acordo com Rotundo, subiu de 11 para 12 as espécies que possuem necessidade de diretrizes de gestão e ordenamento pesqueiro para sua conservação,  e de 36 para 42 as espécies sobre as quais não se possui informações suficientes para análise do seu grau de conservação.

“Cabe ainda ressaltar que foram encontradas espécies consideradas invasoras, ou seja, que foram introduzidas no País”, alerta o biólogo. “O estabelecimento dessas espécies pode causar a redução populacional de espécies nativas ou mesmo extinções locais, ou seja, elas afetam não só a biodiversidade, mas também podem trazer prejuízos econômicos e sociais aos pescadores e a toda cadeia produtiva envolvida.”

Sem valor comercial

A maior parte das espécies que foram analisadas neste último final de semana, são possuem valor comercial, porém é grande sua importância biológica. Com os novos resultados, as espécies que não possuem valor comercial (54,22%) reverteram o quadro anterior, onde correspondiam a 42%.

Segundo Rotundo, a lista de espécies afetadas ainda pode aumentar, pois parte do material examinado não apresentava condições para uma identificação precisa. Nesses casos, amostras de tecidos foram coletadas para identificação molecular (DNA).

A equipe multidisciplinar e multi-institucional que realizou as análises pretende apresentar seus resultados em congressos s ainda neste ano, assim como publicar em revista científica.

Outros pesquisadores

Além de Matheus Marcos Rotundo, estão envolvidos nos estudos sobre o incêndio na área portuária de Santos (SP) e os impactos sobre a diversidade de peixes os pesquisadores: Maria Eduarda Laranjeira, Gustavo Stabile Cardoso, Ursulla Pereira Souza, Fabio Cop Ferreira, Walter Barrella, Milena Ramires, Mariana Clauzet e Miguel Petrere.

Laboratórios em que se desenvolvem as pesquisas: Acervo Zoológico da Universidade Santa Cecília (AZUSC); Laboratório de Biologia de Organismos Costeiros e Marinhos (LABOMAC) e  Laboratório de Ecologia Humana, os dois ligados ao Programa de Mestrado em Sustentabilidade de Ecossistemas Costeiros e Marinhos da Universidade Santa Cecília & Fisheries and Food Institute FIFO; Departamento de Ciências do Mar – Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) – Campus Baixada Santista.