Por Ted Sartori – Santaportal

INICIATIVA – Três jovens se juntam um ao lado do outro. Os que estão nas pontas pedem para o que está no meio pular. Quando ele está no ar, aplicam-lhe uma rasteira. A batida com a cabeça ou a nuca no chão é inevitável. A “brincadeira”, disseminada na internet, chama-se Desafio Quebra-Crânio. Em novembro do ano passado, uma jovem de 16 anos morreu em Mossoró, no Rio Grande do Norte.

“Tenho acompanhado sobre o assunto com muita preocupação. As consequências são graves. A pessoa cai de uma maneira que não consegue se defender, ocorrendo um traumatismo cranioencefálico. E, ocorrendo isso, tem como consequência lesão cerebral e também uma lesão na coluna, podendo sofrer alteração cognitiva, de movimento do corpo e levar ao óbito”, explica o neuropediatra Tiago Martins dos Santos Leal, em entrevista ao Santaportal. A Sociedade Brasileira de Neurocirurgia até emitiu um comunicado a respeito do tema.

Pensando em alertar sobre esta brincadeira que não tem a menor graça, o Colégio Santa Cecília promoveu um ato envolvendo alunos do 9º ano do Ensino Fundamental, na faixa de 13 a 14 anos. Com pulos, sim, mas de festa pela vida. Nas mãos, faixas com as frases “Rasteira não é brincadeira”, “Aqui, pulamos de alegria! Pulamos para comemorar! Pulamos por diversão!”, “Violência não!” e “Viva a vida!”.

“Muitos adolescentes chegaram com essas filmagens e pensamos: não vamos ressaltar o que é ruim, mas o que é bom. Vamos pular para fazer coisas alegres. E o ato de pular para comemorar é algo que vem desde a criança pequena. Ressaltamos isso com eles, o lado bom, as coisas positivas que podemos fazer, e não as negativas”, afirma Andrea Relva, coordenadora pedagógica do Colégio Santa Cecília.

Uma das alunas presentes era Fernanda Hoffmann Affonso, que destacou a importância do ato. “A internet acaba sendo uma terra de ninguém e as pessoas postam o que querem. Mas é algo que coloca a vida em risco. Foi extremamente importante o que foi feito hoje. Meus pais tinham me mandado vídeos para me alertar. Já tinha visto brincadeiras semelhantes, mas nunca envolvendo pessoas próximas a mim”, conta.

Ouvida pelo Santaportal, a hebiatra Marcia Rodrigues observou que a falta de bons desafios leva os jovens a procurar estímulos ruins, como o do Desafio Quebra-Crânio.

“Temos que ter desafios na própria vida. Quando não temos algo como tentar tirar a melhor nota, ganhar o jogo de futebol, melhorar nosso tempo na natação, ganhar luta de judô, aprender a tocar um instrumento ou uma música nova, ou seja, desafios reais, os jovens acabam buscando emoções em outros lugares. Então estamos privando os nossos adolescentes de conquistas que são as boas da vida”, afirma.

Marcia também lembrou dos limites que a família tem de colocar nos jovens com relação ao contato com a tecnologia, evocando recomendações fornecidas pela Sociedade Brasileira de Pediatria.

“Com relação à internet, nunca mais do que duas horas por dia. Se há um tempo ilimitado, os jovens vão acabar vendo coisas que não estão buscando, mas que chegam até eles”, afirma. “Computadores, TVs e videogames têm de ser colocados em locais comuns da casa e nunca isolados nos quartos. Até porque isso tira tempo destinado a outras coisas que são importantes: o estudo, o trabalho, a refeição ou o convívio social”, emenda.