Prof. Dr. Luis Alberto Zavala-Camin (1938-2023). Um ícone peruano da ciência brasileira

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por Dr. Matheus Marcos Rotundo – Curador do Acervo Zoológico da Universidade Santa Cecília (AZUSC). Docente do curso de Ciências Biológicas (Biologia Marinha) e da pós-graduação stricto sensu da Unisanta.

O emérito Prof. Dr. Luis Alberto Zavala-Camin nasceu no Peru, onde se graduou em 1964, em Medicina Veterinária, na Universidad Mayor de San Marcos (UNMSM), em Lima. Considerada a principal universidade do país e a primeira do continente americano, teve inúmeros escritores, filósofos, políticos e cientistas com grande influência no mundo, entre eles está o ilustre Prof. Zavala, como era conhecido por seus alunos e amigos.

Em 1966, veio ainda jovem para o Brasil, onde revalidou seu diploma na Universidade de São Paulo (USP). Posteriormente, em 1971, iniciou sua carreira de pesquisador científico junto ao Instituto de Pesca do Estado de São Paulo (IP), instituição em que se aposentou em 1997. Obteve os títulos de mestre (1978) e doutor (1981) em Zoologia, junto ao Instituto de Biociências da USP. Em 1974, estudou estatística pesqueira na National Marine Fisheries Service, uma agência federal dentro do U. S. Department of Commerce & National Oceanic and Atmospheric Administration  (NOAA – FISHERIES), e em 1979, integrou o Programa Internacional de Ciências Marinhas na Universidade Duke, também nos EUA.

Como pesquisador científico do Instituto de Pesca, alcançou o maior nível da carreira de servidor público e foi diretor da Divisão de Pesca Marítima. Em 1990, integrou o grupo de professores que fundaram o curso de Biologia Marinha da Universidade Santa Cecília, onde lecionou as disciplinas de Iniciação Científica, Biologia dos Peixes e Fisiologia Animal. Sempre muito atuante, contribuiu com o reconhecimento da profissão “Biólogo” e foi sócio-fundador da Sociedade Brasileira de Ictiologia (SBI), entidade que teve papel fundamental na formação de recursos humanos no Brasil, sendo homenageado em 2007, durante o XVII Congresso da entidade em Itajaí, por sua contribuição para o conhecimento da ictiologia brasileira.

Ficou conhecido no meio científico por seus estudos com atuns (Tunídeos) e ecologia trófica de peixes. Em 1978, descreveu, juntamente com outros dois pesquisadores (Dr. Bruce Collette, curador emérito do NOAA e pesquisador do Smithsonian Institute – National Museum of Natural History, e Dr. Joseph Russo do NOAA), uma das espécies de peixes mais importantes economicamente dentre os pelágicos costeiros brasileiros: Scomberomorus brasiliensis (Popularmente conhecido como sororoca, serra, cavala-pintada, etc.). Embora o nome da espécie tenha sido escolhido devido à distribuição da espécie, conhecendo o amor do Prof. Zavala pelo Brasil, muitas pessoas creditavam ao professor a escolha do nome adotado. Obviamente que, como sério pesquisador científico, sempre disse que foi a distribuição o fator de definição, mas dizia sorrindo que também poderia ser uma homenagem ao país que escolheu como pátria. Seus estudos com os atuns fizeram dele um membro ativo da Comissão Internacional para a Conservação dos Tunídeos do Atlântico (ICCAT). Também integrou o consagrado Programa de Avaliação do Potencial Sustentável de Recursos Vivos na Zona Econômica Exclusiva – ReviZEE (1996-2006), junto ao Score-Sul, coordenado pela ilustre Dra. Carmen Wongtschowski do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO-USP).

Os estudos desenvolvidos sobre alimentação fizeram do Prof. Zavala um ícone da ecologia trófica de peixes. Com seu obstinado conceito de divulgação científica, em 1996, lançou seu primeiro livro, intitulado “Introdução aos estudos sobre alimentação natural em peixes”, o qual é referência obrigatória para estudos nesta linha de pesquisa até os dias atuais. Devido aos exemplares terem sido esgotados, o livro passou a ser uma relíquia disputada entre pesquisadores. Foi então que o Prof. Zavala, sempre preocupado com a formação de pesquisadores, conseguiu a distribuição eletrônica gratuita da obra. Estudando a alimentação dos atuns, o Prof. Zavala também foi um dos precursores nos registros de espécies de peixes de águas profundas no Brasil.

Sua curiosidade e inquietação sobre a biologia dos peixes fizeram o Prof. Zavala viajar por todo país e várias partes do mundo, sempre buscando respostas às suas inúmeras e intrigantes questões. Sempre que viajava, buscava inicialmente dois locais: o mercado municipal e a comunidade de pescadores, sendo este hábito incentivado a seus alunos e colegas. Tinha grande respeito e admiração pelos pescadores, assim como pela cultura que envolve a atividade pesqueira. Adorava estar embarcado junto com os pescadores, pois, como sempre ensinou seus alunos, devido à experiência e aprendizado cotidiano, os pescadores são os olhos e ouvidos de um bom pesquisador das Ciências Marinhas. Contava inúmeras histórias sobre seu aprendizado com os pescadores e armadores de pesca e fazia questão de enaltecer a importância destes para sua formação, assim como para a ciência.

Era um leitor compulsivo, sendo frequentador assíduo de bibliotecas, onde demonstrava grande respeito pelos bibliotecários, pois, segundo ele, para conhecer realmente uma biblioteca, você precisa conhecer seus bibliotecários. Devido à sua simplicidade e humildade, fez inúmeros amigos bibliotecários em suas viagens para diversas instituições em busca de artigos científicos. Mesmo após a popularização da ciência através da Internet, fazia questão de visitá-los nas suas bibliotecas. Esta relação influenciou sua organização das “separatas” em sua biblioteca particular, que impressionava pela qualidade e diversidade de assuntos, assim como pela organização.

Além dos barcos pesqueiros e das bibliotecas, eram considerados especiais pelo Prof. Zavala, entre eles estão as coleções científicas e os laboratórios para análises anatômicas. Era um exímio anatomista e desenhista, tendo uma ampla capacidade de adaptar as diferentes técnicas para os diversos grupos zoológicos. Nesses locais, o Prof. Zavala transcendia seu conhecimento na prática, enquanto aprendia (segundo o próprio) e ensinava seus alunos. Algo diferenciado era o seu costume de vestir o jaleco ao contrário, parecendo uma “camisa de força”, pois segundo ele mesmo, era a forma mais adequada de proteger a roupa. Nunca discuti sobre isso, mas percebi que ficou feliz no dia que o presenteei com um avental típico de açougueiro (onde as amarrações são nas costas). Ele me olhou com um sorriso no rosto, vestiu e iniciou seus trabalhos.

Embora sua presença fosse rotineira (semanalmente), era nítido o anseio dos alunos e colegas de trabalho para encontrá-lo. Sua paixão pela ciência motivava a todos! Sempre fez questão de incentivar a formação contínua através da graduação, mestrado, doutorado e da participação em eventos científicos. Buscava auxiliar no desenvolvimento da ciência em todos os níveis, sendo frequente em bancas de avaliação (TCC, mestrado e doutorado) e em congressos da área. Por mais que fosse discreto, sua presença não passava despercebida, seja por sua elevada estatura, olhos claros como joias, sotaque inconfundível (“portunhol”, como chamava) ou mesmo pelo seu reconhecimento profissional. Não era incomum durante os eventos científicos, onde fazia questão de ler atentamente as seções de painéis, pedirem para tirar fotos com ele, o que fazia ficar embaraçado. Motivou muitos pesquisadores, sejam colegas de trabalho no Instituto de Pesca, professores de diversas universidades e alunos, os quais sempre fizeram questão de enaltecer a influência em suas carreiras profissionais e pessoais.

Novamente visando à importância da divulgação científica, verificou a necessidade de livros em português sobre biologia de peixes. Assim, com seus anos de experiência e muito estudo, publicou seu segundo livro em 2004, intitulado: “O Planeta água e seus peixes”. Mesmo com pouca divulgação, rapidamente os exemplares foram acabando, restando apenas algumas dezenas que guardei a pedido dele para presentear alunos e colegas. Poucos anos após o lançamento, retomamos o trabalho de revisão e ampliação do conteúdo para uma nova edição, desta vez a ser disponibilizada digitalmente. Novos temas e figuras foram preparados com muita atenção e carinho pelo Prof. Zavala. Este processo perdurou por mais de uma década, e com o avanço e popularização de várias tecnologias, durante a pandemia de COVID, o professor definiu diversas alterações. Porém, estava focado em finalizar um outro livro sobre civilizações antigas, outra de suas paixões.

As ações do Prof. Zavala extrapolavam a carreira acadêmica. Sempre muito admirado e querido por diversas gerações de alunos e pesquisadores, recebeu inúmeras homenagens. Todas sempre exaltavam sua inteligência, determinação, proatividade, humildade, simplicidade, empatia e cordialidade. Sua companhia agradável, carregada de bom-humor, fez do Prof. Zavala uma pessoa querida também no meio social, seja nas confraternizações do Instituto de Pesca, na Universidade Santa Cecília, nas inúmeras formaturas em que era homenageado, nas visitas a diversas instituições de ensino e pesquisa, em congressos, expedições científicas, etc. Tinha uma excelente de relação de convívio com as pessoas, participava de atividades esportivas com alunos e colegas, degustações de frutos do mar, atividades culturais, ações solidárias, dentre tantas outras vertentes sociais.

Definir o Prof. Zavala ou tentar dimensionar sua influência é algo muito difícil, diria até impossível. Tantas homenagens manifestaram carinho e admiração pelo ilustre professor, porém tentar resumir sua essência foi um desafio que tentei ao longo deste texto. Confesso que foram dias lendo e relendo, reescrevendo, avaliando o que era primordial para ele, o que todos deveriam saber sobre o Prof. Zavala. Muitas vezes pensei que não seria possível finalizar o texto, talvez por medo de não contemplar adequadamente sua passagem neste mundo, talvez por medo de aceitar sua ausência. Independente disso, acredito que os depoimentos de seus colegas de ofício podem evidenciar uma visão mais pluralista de sua amplitude como ser humano.

Uma homenagem quase a tempo.    

Neste mês de julho, foi publicado um estudo na Revista Zootaxa sobre a revisão taxonômica do congrinho Ophidion holbrookii, juntamente com a descrição de uma nova espécie brasileira. A espécie, atualmente categorizada como criticamente em perigo de extinção pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), foi alvo de estudo do Prof. Zavala entre 2006 e 2011, no qual analisou seu sistema sensorial.

Os autores do estudo definiram homenagear o Prof. Zavala, assim nomearam a nova espécie como Ophidion zavalai. O objetivo dos autores foi realizar uma homenagem em vida para o estimado professor, porém sua publicação não foi a tempo. Logo após o aceite do artigo, o Prof. Zavala foi informado sobre a homenagem, ficou muito contente e aguardava a entrega do estudo publicado.

O Prof. Zavala já havia sido homenageado pelos alunos da Universidade Santa Cecília, os quais adotaram seu nome para o centro acadêmico e atlética do curso de Biologia Marinha. O querido professor usava a jaqueta do Centro Acadêmico da Unisanta com muito orgulho, sempre feliz por ter contribuído para a formação dos alunos. As homenagens saíram de dentro dos muros da Unisanta e ganharam o mundo através da ciência!

Com perseverança, devemos acreditar que, assim como a espécie que recebeu seu nome, pessoas como o Prof. Zavala não podem estar ameaçadas de extinção, pois elas tornam a academia e o mundo um lugar mais alegre, digno, produtivo e humanizado.

Depoimentos de amigos de ofício  

“O Prof. Zavala sempre foi um pesquisador que mostrava nos mínimos detalhes, sua enorme dedicação e experiência no estudo dos peixes. Uma convivência maravilhosa durante as saídas a campo para a Ilha do Cardoso. Nas aulas, sempre muito culto e com seu sotaque inconfundível, foi uma unanimidade de excelente professor entre os alunos.” Dr. Fabio Giordano – Diretor e docente do curso de Ciências Biológicas (Biologia Marinha) da Unisanta.

“Talvez entender ciência e suas aplicações seja um dos maiores desafios dos alunos de graduação e até mesmo de boa parte da humanidade. No entanto, tive a sorte e o privilégio de ter sido aluno e amigo do querido Prof. Luis Alberto Zavala-Camin, que foi para mim a pessoa que melhor soube transmitir o que é ciência e suas vertentes. Espero que as lembranças e a saudade do Prof. Zavala sirvam para manter o espírito humano e científico nos seus alunos, algo que ele tanto prezava e defendia. Prof. Zavala, fique com Deus…” Dr. Jorge Luis dos Santos – Coordenador e docente do curso de Ciências Biológicas (Biologia Marinha) da Unisanta.

“Fui incumbido de fácil tarefa: escrever sobre o grande professor e pesquisador Luis Alberto Zavala-Camin. Fácil desde que fosse possível me estender por vários parágrafos, apresentando tênue imagem do Prof. Zavala, pois tive o privilégio de usufruir de sua companhia por alguns anos na Universidade Santa Cecília. Sua contribuição científica é notória e de amplo alcance. Destaco sua atuação acadêmica, que muito me impressionou. Professor exigente e justo, que não se furtava a dirimir dúvidas e orientar os estudantes, compartilhando seu vasto conhecimento e contribuindo decisivamente na formação de novos pesquisadores. Sua postura firme e decidida, associada às suas qualidades como pesquisador, serviu de norte para muitos e, sem dúvida, me tornou um professor melhor. Pessoas com essa grandeza são raras e sentiremos muito sua falta.” Dr. Roberto Pereira Borges – Docente do curso de Ciências Biológicas (Biologia Marinha) da Unisanta. Coordenador do Programa de Pós-graduação em Auditoria Ambiental (PPG-AUDB) da Unisanta.

“O Prof. Dr. Luis Alberto Zavala-Camin sempre inspirou os ictiólogos e comigo não foi diferente! Muito do meu amor pelos estudos relacionados à ecologia trófica de peixes começou com a leitura de seus trabalhos. O livro “Introdução aos estudos sobre alimentação natural em peixes”, do Prof. Zavala, foi a primeira obra que adquiri quando ingressei na faculdade. No mestrado, quando comecei efetivamente a estudar a alimentação natural de peixes, sua obra foi fundamental para os direcionamentos de meu projeto de pesquisa. Quanto mais estudava os trabalhos do Prof. Zavala, mais queria entender sobre a cronologia alimentar dos peixes, as relações entre o consumo e os recursos disponíveis no ambiente e todas as dimensões tróficas do nicho. Atualmente, seus trabalhos seguem contribuindo e impulsionando minha carreira, ao compartilhá-los com meus orientados de graduação e de pós-graduação. Sinto-me honrada por ministrar a disciplina de Iniciação Científica no curso de Ciências Biológicas (Biologia Marinha) da Universidade Santa Cecília, disciplina fundamental para a formação de nossos alunos e que já foi ministrada por esse GRANDE Mestre. Meu MUITO OBRIGADA ao Prof. Zavala por todas as suas imensuráveis contribuições e inspirações aos ictiólogos, marinhos e dulcícolas, deste país.” Dra. Ursulla Pereira Souza – Docente do curso de Ciências Biológicas (Biologia Marinha) da Unisanta. Coordenadora do Programa de Pós-graduação em Sustentabilidade de Ecossistemas Costeiros e Marinhos (PPG-ECOMAR) da Unisanta.

“Pensar no Prof. Zavala é reviver dois momentos inesquecíveis da minha trajetória de formação. O primeiro aconteceu quando tive o privilégio de ser seu aluno no curso de graduação em Ciências Biológicas (Biologia Marinha) da Universidade Santa Cecília (Unisanta). Ainda me lembro da sensação de estar aprendendo com o melhor. Ter tão perto e acessível uma referência do ensino e pesquisa em ictiologia me inspirou a querer sempre o melhor para minha formação. O segundo momento aconteceu quando tive a honra de ser seu colega de trabalho, onde lecionarmos juntos, também na Unisanta. Me recordo de um dia, em que eu, recém-contratado, estava muito nervoso para iniciar a aula com uma turma grande. O Prof. Zavala vinha saindo da sua aula e, no corredor, comentei sobre minha ansiedade de principiante. Ele me olhou e, com um sorriso tímido e maroto, me disse: ‘Não se preocupe, eu fico nervoso até hoje’. Essas palavras me acalmam até hoje. Quando me vejo ansioso para encarar uma plateia, lembro que até o ilustre Prof. Zavala ficava nervoso…. Aquele sorriso ficará eternizado em minha mente. Saudades.” Dr. Camilo Dias Seabra Pereira. Docente do Departamento de Ciências do Mar da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Docente do Programa de Pós-graduação em Ciência e Tecnologia (PPG-CiTA) da Unisanta.

“Quero aqui enaltecer a figura profissional e pessoal, do grande amigo Luis Alberto Zavala-Camin. Médico Veterinário, Mestre e Doutor em Zoologia pela USP e pesquisador científico do Instituto de Pesca. Profissionalmente, enquanto diretor da Divisão de Pesca Marítima, foi quem me incentivou e apoiou a minha especialização no estudo dos Crustáceos. Grande conhecedor da biologia marinha, sobre a qual escreveu livros, principalmente no que diz respeito à ictiologia e particularmente aos peixes oceânicos. Durante nossa convivência profissional tanto como diretor, quanto como pesquisador, foi um dos grandes incentivadores do Programa de Mestrado no Instituto de Pesca, sempre aberto a sugestões e orientações. Fizemos parte do grupo de professores que iniciaram o curso de graduação em Ciências Biológicas com ênfase em Biologia Marinha, onde ele se mostrou um grande líder, nos orientando nas dificuldades e incentivando a persistirmos. Essa convivência quase diária, fez com que nos tornássemos grandes amigos. Enfim, só tenho a dizer que seja pela influência profissional, seja pela amizade, Zavala sempre vai fazer parte da minha vida” Dr. Evandro Severino Rodrigues – Pesquisador do Instituto de Pesca do Estado de São Paulo (IP). Docente do curso de Ciências Biológicas (Biologia Marinha) da Unisanta.

“Antes mesmo de ingressar como docente na Unisanta, já sentia grande satisfação em saber que na instituição existiam profissionais que respeitavam os pescadores e seus conhecimentos (meu campo de trabalho desde sempre). O Prof. Zavala, com sua maestria característica, permeava o mundo da pesca e defendia a importância do conhecimento e da experiência dos pescadores para a produção científica. Defensor da multidisciplinaridade como caminho para compreender nosso mundo de forma funcional, sempre foi atento com a forma de transmitir estas questões aos alunos. Percebi isso através das prazerosas bancas de Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) que me convidou a participar. Sua sensibilidade extrapolava os muros acadêmicos, cultivou amizades com pescadores por todo o Brasil. Adorava estar a bordo pescando com eles, trocando informações. Fazia questão de agradecer os pescadores e armadores de pesca pelo conhecimento obtido e por todo material fornecido. Sempre dizia que o pescador era uma fonte inesgotável de conhecimento sobre o mar, pois sua experiência prática era impossível de ser adquirida por qualquer pesquisador. Sempre tive certeza disso! No ano 2000, o Prof. Zavala foi o mentor responsável pela criação do Projeto Pró-Pesca: pescando o conhecimento, que junto com seu discípulo, o Prof. Matheus Rotundo, o qual mantém o legado até hoje, produz conhecimento e valoriza a cultura local e a viabilidade socioambiental da atividade pesqueira. O Prof. Zavala acreditava na sustentabilidade da atividade, mas não apenas a ambiental, mas também a sociocultural e econômica! Tudo isso muito antes da popularização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), ou mesmo da etnoecologia e da ecologia humana serem estabelecidas no meio acadêmico brasileiro. Enfim, foi precursor e incentivador do estudo multidisciplinar da pesca. Devo a ele também a forma calorosa como fui recebida na Unisanta. Muito obrigada pelo privilégio de sua companhia.” Dra. Milena Ramires – Docente do curso de Ciências Biológicas (Biologia Marinha) e da pós-graduação stricto sensu da Unisanta.

Matheus Marcos Rotundo e Prof. Zavala

“Diferente da maioria de meus colegas, conheci o Prof. Zavala antes de ingressar no ambiente acadêmico. Com apenas 15 anos, fui ao Instituto de Pesca procurar algum profissional que pudesse me auxiliar com dúvidas sobre peixes, pois era um aquarista curioso. Depois de bater em algumas portas e não obter respostas, um homem alto de voz forte, com um sotaque diferenciado me questionou no corredor (quando já estava saindo) se estava perdido. Assim iniciei meu aprendizado com o Prof. Zavala. Alguns anos depois, na universidade, tive um choque ao saber sobre a importância dele no mundo acadêmico. Foi meu orientador desde sempre… rígido, me dava broncas quase diárias, mas sempre tinha palavras acolhedoras nos momentos de dificuldade. Nossa convivência influenciou minha vida por inteiro, nas condutas profissionais e pessoais. Quando adoeci ele ficou ao meu lado; quando perdi meu pai, ele passou a me cobrar ainda mais. Tudo que produzi até hoje é direta ou indiretamente devido a ele: a coleção científica, o projeto junto aos pescadores, a taxonomia, o ofício pedagógico, etc. Todas as viagens, congressos, mergulhos, pescarias, risadas, ensinamentos… NUNCA será possível agradecer a altura. Obrigado por mostrar a importância da família em nossa vida. Obrigado por ter sido um verdadeiro orientador, amigo, pai… Espero conseguir honrar seus ensinamentos! Sentirei muito sua falta!!! Fique em paz… F.S.”  Dr. Matheus Marcos Rotundo – Curador do Acervo Zoológico da Universidade Santa Cecília (AZUSC). Docente do curso de Ciências Biológicas (Biologia Marinha) e da pós-graduação stricto sensu da Unisanta.