“Porto e cidade de Santos são como gêmeos siameses”

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Dr. Aureo Pasqualeto Figueiredo, diretor da Faculdade de Engenharia da Unisanta, comentou os paralelos traçados entre o porto de Beirute e o de Santos, recorrentes após a tragédia no Líbano. Uma explosão destruiu uma parte significativa da capital Beirute, matou mais de 150 pessoas e deixou mais de 5 mil feridos, na última terça-feira (4),

O engenheiro afirma que, por conta da gigantesca produção brasileira de grãos, no porto de Santos esses produtos tem uma movimentação muito grande, e, na medida em que eles vão para a exportação, em contrapartida, são importados fertilizantes de volta para fazer os plantios da safra posterior. Essa é uma dinâmica antiga e conhecida.

Aureo comenta que os principais impasses em Santos estão no processo de importação: “Nós temos filas de navios para descarregar fertilizante, porque temos dois grandes pontos de descarga de fertilizantes, a maior parte importados, que são em Guarujá, na margem esquerda, e no Tiplam, onde o novo terminal também exporta grãos e importa os fertilizantes”.

Ele continua: “Na margem direita, tem-se uma pequena movimentação de fertilizantes, que o Plano de Desenvolvimento e Zoneamento (PDZ) pretende aumentar. Esse aumento segue a lógica da produção do porto, que é juntar produtos semelhantes, até para fazer uma otimização. Então, genericamente sobre o nome de Granéis Sólidos, nós temos, ali na região de Outerinhos, um grande número de armazéns de açúcar, sal e um pequeno armazém de fertilizante e dois terminais de contêineres, um já foi desativado e outro, segundo se anuncia, será desativado. Para aumentar a movimentação de fertilizantes nessa região de Outerinhos, na região da Vila Nova”.

O dilema segundo o docente é a proximidade de tais terminais de movimentação de fertilizantes com os bairros da proximidade: “São cerca de cinquenta mil pessoas que moram nesses bairros ali próximos do Outerinhos, três instituições de ensino, o Hospital dos Estivadores. Tudo isso não a um quilômetro, mas do outro lado da rua”, comenta.

Ainda segundo o Dr. Pasqualeto, o que falta é diálogo e consenso entre as decisões da jurisdição federal (que controla o porto) e municipal. O

professor se mostra crítico ao PDZ: “É uma coisa que ‘não casa’ e já está publicada. Já foi alvo de questionamentos de audiências públicas, mas os técnicos simplesmente determinaram que isso está em vigor, espero que eles tenham o bom senso de rever essa medida ou que não a ponham em prática, porque uma diretriz é uma diretriz, pode ser reconsiderada”.

Ao lembrar-se de casos ocorridos no porto santista, como o acidente do “Ais Giorgis”, cargueiro grego que, em janeiro de 1974, encalhou e parcialmente submergiu no estuário do porto de Santos, após uma reação entre nitrato de sódio e calor, Aureo pontua que em qualquer lugar que se tenha uma massa de combustíveis, se tem o risco: “Tudo que é poeira de grãos pode entrar em combustão e são altamente explosivos. Até, às vezes, a eletricidade estática de uma roupa pode gerar uma fagulha e iniciar uma explosão”.

O diretor da Faculdade de Engenharia da Universidade Santa Cecília, por fim, lembra que “Porto e cidade de Santos são como gêmeos siameses, que têm uma coluna vertebral comum (a avenida portuária)” e, por isso, deve haver sempre a responsabilidade de se pensar em ambos os lados nas operações diárias do maior porto do hemisfério sul, que são cruciais para o desenvolvimento da própria cidade e de todo o País.