Não poderia haver nome popular mais adequado do quecabeça de geléia para ser dado à nova espécie de peixe encontrada, em setembro, em águas profundas do litoral baiano, e que agora está sendo alvo de estudos para que se comprove ser uma nova espécie. Aliás, um dos membros da equipe de pesquisadores que está descrevendo o estranho peixe é o biólogo Matheus Rotundo, curador do Acervo Zoológico da Universidade Santa Cecília (Unisanta), em Santos, litoral de São Paulo.
Rotundo estava na Bahia no momento da descoberta e comenta que o peixe foi capturado durante pesquisas do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Tartarugas Marinhas (Tamar), que desenvolve há nove anos um estudo com anzóis circulares, buscando evitar a captura incidental de tartarugas marinhas, aumentar as chances de sobrevivência dos animais pós-captura e garantir a manutenção ou o aumento da produtividade das pescarias.
Revelações -Segundo Rotundo, o cabeça de geléia tem características incomuns em relação ao peixes em geral. Uma delas está na posição da narina, que fica acima do olho. A região da cabeça é recoberta por um tipo de gordura o que dá um aspecto grande e mole como de uma geléia.
Possui esqueleto largamente cartilaginoso, focinho bulboso, ausência de escamas, pele muito fina, boca grande, dentes vestigiais e olhos pequenos, características que evidenciam a adaptação à vida em águas profundas, com grande pressão e pouca penetração de luz. O exemplar foi capturadoa aproximadamente 10 km da costa, numa profundidade entre 800 e 1000 metros, mede quase dois metros de comprimento (1,83) e pesa aproximadamente 40 Kg.
A possível nova espécie brasileira faz parte de uma superordem exclusiva Ateleopodomorpha, ordem Ateleopodiformes, família Ateleopodidae, que tem quatro gêneros (Ateleopus, Parateleopus, Guntherus e Ijimaia) e 12 espécies conhecidas no Caribe, Atlântico e Pacifico. O exemplar descoberto na Praia do Forte pode ser a décima terceira espécie. Embora pertença ao gêneroIjimaia, a espécie ainda não possui nome científico divulgado. Provavelmente o nome homenageará os 30 anos do projeto Tamar.
Equipe – A equipe de pesquisadores é composta por Guy Marcovaldi (Coordenador Nacional do Projeto Tamar), Cláudio Sampaio, da Universidade Federal da Bahia, Alfredo Carvalho Filho daFish Bizz LTDA e Matheus Rotundo da Unisanta. A equipe irá se reunir no próximo dia 26 para dar continuidade ao estudo que será divulgado através de publicação em revista científica de prestígio internacional.
Os pesquisadores calculam que a costa brasileira abriga aproximadamente 150 espécies de peixes ainda desconhecidas da ciência. As descobertas mais recentes foram de pequenos animais, como o Opsanus brasiliensis descrito por Rotundo e outros dois biólogos da Unisanta, Spinelli e Zavala-Camin, em 2005. “O curioso é como um animal de 1,83 metros passou tanto tempo despercebido”, afirma Rotundo. Tal fato mostra que a biodiversidade brasileira precisa ser ainda mais investigada, complementa.
Para o biólogo santista, uma espécie nunca vista pelo homem como esta “é um grande tesouro para a ciência e será de grande valia para toda comunidade científica mundial”. Além da confirmação da nova espécie, Rotundo enfatiza que o grupo terá o desafio de buscar dados sobre a biologia do peixe.