Mais uma vez a praia de Santos terá um cenário diferente do habitualmente visto pela população da cidade e turistas. Na madrugada desta quarta-feira (24/6) para quinta-feira (25), as ondas chegarão a dois metros e poderão causar perda de sedimentos, mais conhecida como erosões, na faixa de areia. O fenômeno será similar, só que em menor proporção, ao ocorrido no último dia 19, quando tubulações de águas, fiação dos postes e raízes de árvores ficaram à mostra, e grandes crateras se formaram na praia da Aparecida (ver imagens 1 e 2).

Este fenômeno só pôde ser previsto novamente graças a um software que fornece previsão do nível do mar e das marés, considerando não só as marés astronômicas, como também as meteorológicas. Este modelo, único no estado de São Paulo, está sendo desenvolvido pelo Núcleo de Pesquisas Hidrodinâmicas (NPH) da Universidade Santa Cecília (Unisanta), financiado pelo Fundo Estadual de Recursos Hídricos do Estado de São Paulo – FEHIDRO.

O Aquasafe, como é denominado, é um software português de gestão de informação em tempo real para receber, processar e integrar automaticamente, em um único local, diversas fontes de informações meteorológicas e oceanográficas. O sistema utiliza ainda modelos numéricos processados pela Universidade e dados dos sensores de última geração fornecidos pela Praticagem.

Recentemente, a Praticagem de São Paulo passou a contar com acesso a esse sistema, fazendo o acompanhamento da sua evolução e dos resultados obtidos para previsão de nível do mar, de correntes e agitação marítima na Baía e Estuário de Santos. A Praticagem disponibiliza ao NPH-Unisanta, em tempo quase real, os dados meteoceanográficos coletados pelas estações autônomas localizadas em Santos, enquanto a Universidade, em contrapartida, fornece prognósticos das condições de mar através dos modelos numéricos com níveis de confiabilidade em torno de 95%, por exemplo, para previsões do nível do oceano. O mesmo software foi instalado, em maio, no Laboratório Ambiental da Prefeitura de Santos e será em breve instalado também na Defesa Civil.

De acordo com a Prof. Alexandra Sampaio, coordenadora do NPH – Unisanta, “o principal objetivo deste projeto é poder antecipar a ocorrência de eventos como estes e evoluir este sistema para a previsão também de alterações na qualidade das águas da região futuramente”.

Segundo o pesquisador do NPH – Unisanta, Renan Braga Ribeiro, o modelo já tinha alertado que na sexta-feira (19) iria ocorrer uma elevação do nível do mar, além da chegada de uma frente fria e de ondas significativas. “Nesse dia a frente fria entrou com ondas fortes, e a maré subiu. A consequência dos dois fenômenos foi a perda de sedimentos, como processo natural”, conclui o biólogo.

Ainda conforme o Biólogo, nesta época, de maio a julho, teremos mais eventos como estes, pois é o período de ressacas. “Para esta quarta (24/6), por exemplo, já previmos (há 5 dias) uma entrada de ondas maiores. Não será tão intenso como o do dia 19, mas terá a mesma característica”.

Trabalho de Conclusão de Curso – Na mesma linha de pesquisas, Ribeiro está orientando duas alunas do Curso de Ciências Biológicas da Unisanta. O tema do trabalho, em andamento, é a influência das ressacas no perfil praial da Ponta da Praia e a perda de sedimentos. ”Como nós temos este modelo de previsão, já sabíamos que este evento aconteceria no último dia 19, então propus às alunas a coleta de dados e estudo de campo no  domingo anterior ao evento (14), com medições e coletas de material, e uma coleta posterior, no dia 21 (domingo). Assim, pôde-se comparar o perfil dos dois momentos”.