A reprodução in vitro das larvas foi concluída, mas é necessário prosseguir nos ensaios, fazer análises estatísticas e novas coletas. Evidências de possível contaminação exigem análises e comparações com ensaios que serão feitas por outras instituições, em um esforço integrado.
O Laboratório de Ecotoxicologia da Universidade Santa Cecília (Unisanta) deverá divulgar, em até quinze dias, os resultados dos ensaios de toxicidade com embriões de ouriço-do-mar, que foram empregados para detectar a possível contaminação do estuário de Santos devido ao incêndio da Alemoa. Se os embriões dos ouriços produzidos in vitro, após o período de exposição, apresentarem anomalias, será uma das evidências de contaminação pelos produtos lançados na água durante o combate às chamas, explica o biólogo mestre Fernando Sanzi Cortez, da Unisanta.
“O rigor da ciência exige uma série de cuidados, como a leitura minuciosa dos ensaios e comparações estatísticas. Não se trata de apertar um botão e conseguir o resultado na hora”, acrescenta Cortez.
Os biólogos do Laboratório enfatizam que há necessidade de estudos adicionais que contemplem outras linhas de evidência (análises de toxicidade em amostras de sedimento, análises químicas em água e sedimentos, estudos de bioacumulação em peixes, etc.) para que se possa dimensionar adequadamente os impactos causados pelo acidente, bem como o monitoramento da área do evento e suas adjacências. Outras instituições farão as análises, como a Unifesp e a Unesp, e a Unisanta é a única universidade particular envolvida nesse grupo de estudo.
A escolha do ouriço-do-mar para essas análises deve-se pela grande sensibilidade deste organismo a várias classes de poluentes. Após a utilização nos ensaios, os organismos são devolvidos ao mar, no mesmo local onde foram coletados. Na semana anterior, os biólogos tentaram coletar esses animais, mas as condições estavam desfavoráveis para o mergulho devido ao mar agitado e muito vento. Assim, outra expedição foi feita no começo desta semana.
Descongelamento e análise das amostras
Na quarta-feira (15/4), foram descongeladas as amostras de água coletadas pela Unisanta e pelo Instituto Ecofaxina imediatamente após o incêndio. Para as análises de toxicidade, os ouriços-do-mar foram induzidos à liberação de gametas (células reprodutivas) e, em seguida, ocorreu a fertilização in vitro.
Os embriões gerados em 24 horas precisam ser expostos às diferentes amostras de água coletadas, para o início das análises, quanto ao desenvolvimento e ocorrência de anomalias. “Após a análise dos resultados, que demanda certo tempo, será possível determinar se as amostras apresentam efeitos tóxicos à biota aquática (organismos vivos)”, afirmam os biólogos.
Integram a equipe da Unisanta, além de Cortez, o coordenador do Laboratório de Ecotoxicologia, Aldo Ramos dos Santos, os orientadores do Programa de Mestrado em Sustentabilidade de Ecossistemas Costeiros e Marinhos da Instituição e os de dissertações interdisciplinares com o Mestrado de Engenharia da Instituição, como os doutores Augusto Cesar, Camilo Seabra, Roberto Borges e Fábio Giordano, e o biólogo mestre Fabio Hermes Pusceddu.
O Laboratório de Ecotoxicologia da Universidade Santa Cecília é acreditado pelo Instituto Nacional de Metrologia (Inmetro) na norma ISO 17025 para a realização de ensaios de toxicidade com organismos aquáticos.