Um verdadeiro paraíso escondido entre a Mata Atlântica. É assim que muitos definem o Parque Estadual Turístico do Alto do Ribeira (PETAR). Localizado no sul do Estado de São Paulo, nas cidades de Apiaí e Iporanga, o parque é um dos mais antigos do Estado, criado em 1958. Com uma área de 35.750 hectares abriga mais de 300 cavernas, dezenas de cachoeiras, trilhas, comunidades tradicionais e quilombolas.

Foi para conhecer e estudar a fauna e a flora deste cenário que cerca de 100 estudantes do Curso de Ciências Biológicas da Universidade Santa Cecília (UNISANTA) participaram da Saída de Campo, no último final de semana (dias 26 e 27), organizado pelos professores Orlando Couto Júnior e João Alberto Paschoa da disciplina de Ecologia das Populações. Saída de Campo para caverna que não tinha desde 1991, e que voltou devido “à importância de apresentar aos alunos as diferentes áreas que eles poderão atuar ao se formar, além de conhecer a riqueza e a beleza do local”, disse o professor Paschoa, que acompanhou a turma.

Saindo de Santos de ônibus, os alunos demoraram sete horas para chegar em Iporanga, no sábado. À espera deles, para realizar uma palestra, estava o especialista em cavernas Vamir dos Santos. Autodidata, ele nasceu na região e contou que o interesse por cavernas começou desde pequeno, quando observava e acompanhava a vinda dos primeiros pesquisadores franceses e italianos na região. “Meu hobby é procurar cavernas ainda não catalogadas”, disse o especialista, que já chegou a ficar 12 dias no meio do mato.

Na conversa com os estudantes, ele contou a história da região e respondeu a todas as perguntas, esclarecendo dúvidas e dando dicas para o dia seguinte. “Qual a diferença ente lapa, gruta e caverna?”, esta foi uma das primeiras perguntas. A resposta foi mais simples no que se esperava “Nenhuma. Apenas são denominações regionais. O nordestino fala lapa; o mineiro gruta; e nós falamos caverna”, disse.

Em relação aos seres que vivem em caverna, caracterizada pela ausência de luz, Santos explicou existir três tipos: os trogloxenos, que apenas utilizam a caverna como abrigo, mas se alimentam do lado de fora, como o morcego; os troglófigos, que se adaptaram ao meio e vivem nas cavernas, mas conseguem sobreviver também do lado de fora, como grilos e aranhas; e por último, os troglóbios, seres que só sobrevivem dentro das cavernas, como o bagre cego, espécie de peixe descoberta na região.

“E como são formadas as cavernas? Alguém sabe?”, os alunos ouviam atentos as indagações do especialista. “As águas pluviais, saturadas de ácidocarbônico penetram nas fissuras rochosas e desgastam continuamente o calcário, abrindo dutos e galerias, originando cavidades naturais ou cavernas calcárias”, disse. “Amanha vocês irão conhecer a Caverna Santana, que é uma das mais visitadas, tanto por turistas como por estudiosos”, acrescentou Vamir dos Santos.

No domingo de manhã, logo às 7h, todos já estavam prontos para as atividades. A turma de 100 alunos foi dividida em dois grupos. No período da manhã, um foi para caverna e outro para o bóia cross, e a tarde eles trocaram.

Caverna – No PETAR, que recebeu no ano passado 22 mil visitantes, existem quatro núcleos de visitação e apoio às atividades de fiscalização e pesquisa, são eles: Núcleo de Santana, Núcleo Caboclos, Núcleo Casa de Pedra e Núcleo Ouro Grosso.

O destino dos universitários foi conhecer a de Santana. Cinco guias fizeram o monitoramento dentro da caverna, que é uma das mais visitadas, pelos impressionantes e magníficos espeleotemas (estalactites, estalagmites, cortinas, colunas, flores…), formações que podem demorar de 10 a 100 anos para serem concluídas. A caverna, com uma área de 6Km, apresenta diferentes salões, interligados por corredores estreitos, subidas e pontes. Segundo o monitor Alex Sandro Rodrigues, que há nove anos trabalha com isso, alguns destes salões são restritos, como o salão das flores. “O barulho de uma única palma poderia quebrar todas as formações. Apenas espeliólogos, profissionais que pesquisam formações de cavernas, podem entrar neste salão”, disse.

Com lanternas, que iluminavam a escuridão da caverna, os estudantes puderam conhecer os salões do Bolo de Noiva, da Fafá, do Bacon e dos Encontros, este que dá acesso ao salão das Flores, e também ao caminho da saída. Os nomes são inspirados por conta das diferentes formações. Durante a aventura, que demorou cerca de duas horas, os estudantes apagaram as lanternas e sentiram a total ausência de luz e também ouviram o Som das Cortinas, ouvido quando se toca nas formações, e que o músico Hermeto Pascoal transformou em melodia.

Para a aluna Verônica Coelho Ferreira, a visita foi além do que ela imaginava. “Esperava encontrar um lugar já em estado de destruição, mas o que vi foi uma preocupação muito grande com a conservação do local”, disse a universitária, que entrou pela primeira vez em uma caverna e gravou toda a visita, com uma mini-câmera. “O que mais gostei? É tudo muito bonito, mas as formações, o Salão do Bacon e o Som das cortinas foram os pontos que mais me impressionaram”, disse.

Foi show de Bola. Foi assim que o universitário, Caio Buongermino, do 3° ano, definiu a visita. “Nunca tinha entrado em uma caverna e fiquei impressionado com o brilho dos cristais e também o som das cortinas”, disse o estudante, que não foi para o bóia-cross, pois estava se recuperando de um acidente.

Bóia-Cross – Uauuuuu!! Ploft… Esta foi a trilha sonora da aventura dos alunos, que deslizaram, durante duas horas, sobre as corredeiras do rio. A água gelada não inibiu os estudantes, que de bruços, em uma grande bóia inflável, individualmente, percorreram 1,5Km de rio. A atividade também foi acompanhada por guias, monitores ambientais da própria região.