Núcleo de Pesquisas Hidrodinâmicas da Universidade já sugeriu, na época, a mobilização dos órgãos públicos e da sociedade, a fim de se realizar obras visando atenuar problemas de inundações futuras.
Os estudos do Núcleo de Pesquisas Hidrodinâmicas (NPH) da Unisanta sobre a possibilidade de ressacas do mar nas praias prosseguem. A segunda fase, desde fevereiro de 2015, em parceria com a Praticagem, visa dar maior segurança à navegação, aos tripulantes, aos passageiros de navios e aos moradores da Cidade, em áreas sobre efeitos das marés, fornecendo previsão de ressacas com até três dias de antecedência para a região.
Conforme as pesquisas anteriores, divulgadas desde 2009 pelo NPH, se ocorrer o aumento do nível do mar previsto pelos cientistas, será de maneira lenta e gradual, permitindo o seu acompanhamento e providências para amenizar e evitar possível caos urbano. Mas é preciso planejar agora obras de contenção. O alerta foi feito em dezembro de 2009, e amplamente divulgado pela imprensa naquela data, pelo Núcleo de Pesquisas Hidrodinâmicas (NPH), que inclusive fez um prognóstico sobre as ruas e bairros que poderiam ser alagadas.
Os estudos do NPH, apresentados no XXI Encontro Técnico AESABESP, em março de 2010, foram desenvolvidos diante das previsões dos cientistas de diversos países, sobre os efeitos do aquecimento global, que já apontavam a possibilidade da elevação do nível do mar em varias partes do mundo. Nesse trabalho, a Unisanta, por meio de suas pesquisas, já mostrava ruas e bairros que poderiam ser afetadas até o final do século, indicando três possibilidades de cenários.
Três cenários de alagamentos
Em 2009, o NPH elaborou, em computador , três cenários de aumento do nível do mar para a Cidade de Santos com base das previsões do IPCC na época: de 0,5 centímetros; 1,0 e 1.50 metros, em relação ao nível máximo atual, até o fim do século. A pesquisa permitia observar com detalhes o alagamento de bairros e ruas santistas.
O estudo se baseou em dados do NPH da Unisanta; nas conclusões e softwares do projeto europeu EcoManage – Sistema Integrado de Gerenciamento Ecológico de Zonas Costeiras, da qual a Unisanta participou, de 2005 a 2008, e em números e previsões de oceanógrafos e climatologistas conceituados. No pior dos cenários previstos, o mar subiria 1,50 metros, e a Ponta da Praia, o Canal 3 e o Porto seriam os locais mais afetados, se não houver obras de contenção.
Os cenários anteciparam possíveis efeitos provocados pela elevação do nível do mar em 0,5 centímetros; 1,0 e 1,5 metros, sempre com referência ao nível máximo atual nas marés de sizígia, ou seja, seriam as áreas alagáveis quando houver marés altas (ver áreas azuis nas imagens).
Com a finalidade de mostrar o potencial dos resultados obtidos, foi preparado também um zoom detalhado da área de Santos denominada Ponta da Praia, no Cenário 4.
Cenário 1 – Só com um aumento de 0,50 m, pode-se verificar que nas marés mais altas a faixa da praia ficaria encoberta pela água, e algumas pequenas áreas da Ponta da Praia seriam alagadas. As zonas Noroeste e Alemoa seriam também alagadas. O Porto de Santos, por ter sua estrutura mais alta, ficaria nesta fase livre de inundações.
Cenários 2 e 4 (zoom) – Com mais 1,0 m , constata-se que toda a faixa da areia da praia e grande partes dos jardins seriam alagados a cada maré mais alta. Diversas pequenas áreas junto à praia, muito bem conhecidas dos santistas, seriam alagadas no bairro do Gonzaga, nas primeiras quadras junto ao Canal-3 e entre os Canais 4 a 6. Boa parte da Ponta da Praia seria atingida nas marés mais altas, assim como a área portuária das proximidades. A Zona Noroeste seria totalmente alagada.
Cenário 3 – Com 1,50 m, seria o caos total na urbanização da Cidade. Grandes áreas de bairros seriam inundadas na altas marés. O Porto seria duramente prejudicado. A vista geral do Cenário 3 é o suficiente para se concluir sobre os efeitos do aquecimento global na cidade.
Explicava o NPH: “Em qualquer um dos cenários, é preciso considerar não apenas o efeito dos alagamentos. Deve-se sempre levar em conta o efeito das ondas, que será muito destruidor, mesmo sem grandes ressacas, pois está na sua constância (várias por minuto) este poder de danificar o que encontrar no seu caminho. Os jardins seriam destruídos assim como o pavimento, calçadas das ruas, as garagens e pátios dos prédios seriam invadidos pelas águas e ondas, enfim, o caos”.
Simulações no Estuário de Santos
Para chegar a essas conclusões, a equipe do NPH-UNISANTA apoiou-se em pesquisa cujos resultados são muito confiáveis, preparados e apresentados pelo Grid Arenal, UNED e Observed Climate Trends, da Universidade de Cambridge, que projeta o aumento do nível do mar e também os cenários de elevação do nível até 2100, considerando as três propostas mais previsíveis. São eles:
1º- Aumento de 5 a 7 cm.
2º Aumento de 50 a 57 cm.
3º Aumento de 95 a 110 cm.
Os professores do NPH -UNISANTA trabalharam com valores reais, passíveis de serem medidos e obtidos na realidade, desde que se tenha a altimetria precisa das regiões. Para correlacionar a altura das marés com a parte física da cidade (ruas, calçadas prédios), foi utilizada uma técnica que, para muitos, pode ser simplista, mas os resultados são surpreendentemente exatos.
Num dia de maré mais alta (de sizígia), cerca de 1,50 m, neste horário foram realizadas medidas entre o nível das águas nos sete canais de Santos e pontos notáveis das pontes sobre os canais. Estas medidas sofreram reajuste, validação e calibragem para o modelo.
Para se avaliar a topografia da área insular de Santos, foi utilizada a Base Cartográfica Digital de Santos, elaborada pela Agência Metropolitana da Baixada Santista – AGEM. Foram utilizados métodos matemáticos no software ArcGIS Desktop 9.2, em aproximadamente 17.000 pontos cotados, para elaborar o mapa da topografia da região, em relação ao nível do mar.
Foi obtida a cota do nível da água médio, com base nas medições dos sete canais de drenagem. A partir dessa cota, foram simulados cenários de aumento relativo do nível do mar em 0,5 m, 1,0m e 1,5m, considerando um evento extremo de preamar em maré de sizígia, também foi simulado um cenário com aumento relativo no nível do mar de 1,5m considerando um evento extremo de baixa-mar em maré de sizígia.
A partir dos cenários calculados, com a utilização do software ArcGIS Desktop 9.2 e com base no mapa topográfico, foram desenvolvidas as plantas, mostrando as áreas de inundação nos cenários simulados, descritos anteriormente.
Nos manguezais
O manguezal, por estar localizado na região costeira, é fortemente influenciado pelo regime das marés. Evidentemente, o mar sofreria com essas alterações provocadas pelo aquecimento global. Sabe-se que os manguezais são importantes estabilizadores da linha de costa, devido à sua grande adaptabilidade, além da retenção de sedimentos.
O aumento do nível do mar também causaria o aumento da salinidade no estuário, provocando a morte das espécies arbóreas encontradas nos manguezais, pois prejudicaria sua respiração e retenção de água. Com isto, uma parte dos manguezais desapareceria em todo o Estuário, pois várias espécies respiram por suas raízes e estas ficariam permanente afogadas.
O Brasil é coberto por aproximadamente 10.000 Kms. com áreas de manguezal, no Estado de São Paulo estão apenas 231 Kmý. Um estudo recente, dentro do programa Ecomanage da Unisanta. a coordenadora do NPh Prof. Alexandra Sampaio e o Prof. Renan Ribeiro, calcularam a cobertura de manguezais no Sistema Estuarino de Santos numa área de 71,3 Km2.
Sem pânico
Cabe às autoridades públicas da Baixada Santista reunir especialistas em Engenharia e Meio Ambiente, além de mobilizar toda a comunidade, para estudar que obras serão necessárias. Para isso, os municípios precisam saber com antecedência onde atuar, quais as áreas atingidas e o que fazer para controlar e/ou proteger estas áreas em função do aumento do nível das marés e das ondas.
O NPH-UNISANTA deu um enfoque maior para a Ilha de São Vicente, precisamente para a Cidade de Santos, onde está o maior porto da América Latina, mostrando o potencial dos resultados da pesquisa atual, podendo a pesquisa ser estendida para todas as cidades do Estuário, desde que seja de interesse e se tenha um perfeito cadastro topográfico, com uma altimetria detalhada.