Crédito: Dennis Calçada

Depois de quase um ano de preparação, ensaios, laboratórios, aberturas de processo, ajustes, chega ao palco, em turnê comemorativa aos 56 anos do grupo, o novo espetáculo do TEP – Teatro Experimental de Pesquisas / da Unisanta, o Vila Belmiro – A Noite da Navalhada. A montagem percorrerá vários espaços culturais de Santos e da Baixada Santista, tendo como ponto de partida a apresentação no próximo dia 25 de abril, no Auditório 1, do Bloco D, da Universidade Santa Cecília, às 19 horas, com entrada franqueada ao público.

Escrito por Gilson de Melo Barros, em parceria com a artista Beatriz Rota-Rossi, originalmente para teatro (2002), e montado pelo TEP nesse mesmo ano, o espetáculo demonstra, em sua espinha dorsal, através da singularidade da nossa história recente, a importância dos lugares, encrustados em nós como cicatrizes permanentes, tendo a memória como vértice para as ações dramáticas que se desenvolvem em sua narrativa, centrada nas desventuras da personagem Jacirema, uma santista da gema, moradora por toda a vida no bairro que dá nome à peça, viúva de Juremar, trabalhador portuário, e mãe de quatro filhos: “todos com nomes de mar – Ademar, Osmar, Mário e o Di Souza”. Este último, em licença lírica, é poeta e alma do povo santista, súbita e misteriosamente desaparecido, como o pai, pelas “quebradas do mundaréu”. Tempos bicudos.

Para dar corpo e voz a alguns personagens, principalmente Jacirema e Mário, personalidades marcantes da cultura de Santos e cercanias são lembradas através de citações e pensamentos próprios que se amalgamam à trama, como os poetas Narciso de Andrade e Rui Ribeiro Couto, a filósofa Djamila Ribeiro, o diretor teatral Tanah Correa, a atriz Camila Baraldi, e a viúva de Rubens Paiva, Eunice Paiva, em justas e merecidas homenagens.

Da realização inicial, de 2002, foi resgatado também o texto da Beatriz Rota-Rossi, A Noite da Navalhada, que entra no espetáculo como uma alusão a um trecho do livro de Lídia Maria de Melo, também citada durante o espetáculo, sobre o navio-prisão Raul Soares, em que se referia às salas de maldades, tortura mesmo, que eram realizadas nessa embarcação e, ironicamente, “apelidadas” com nomes de casas de espetáculos do centro noturno de Santos à época, como Casablanca, My Love e Love Story. Este último, lugar onde a trama da Beatriz se desenvolve.

No texto da Beatriz, como o nome do texto já diz, A Noite da Navalhada, a trama é desenvolvida através da narrativa de uma tragédia – um fato real – acontecida nas dependências da boate Love Story, um dos pontos de efervescência boêmia do centro noturno de Santos, em meados dos anos 70 e, em notas de saudar, relembra alguns dos frequentadores da região, seus companheiros de documentação artística da noite alternativa da cidade, como o escritor Plinio Marcos, o artista plástico Luiz Hamen e seu primo Alex Vallauri, introdutor do grafite no Brasil.

Com apoio cultural e logístico da Unisanta, onde o grupo mantém sua sede há 36 anos e com eventuais preciosas parcerias, o espetáculo conta com a direção geral de Gilson de Melo Barros.

Bom espetáculo a todos! EVOÉ!