No Brasil, a  construção da usina em Belo Monte, no Pará, pode trazer impactos nocivos à biodiversidade, segundo artigo publicado na revista Science por cientistas do Brasil, Estados Unidos, Alemanha, Canadá e Camboja. Um deles é o dr. Miguel Petrere Jr, professor de Mestrado de Ecologia da Unisanta.

As bacias Amazônica, do Congo ( África) e do Mekong (sudeste asiático), consideradas as mais ricas do planeta em biodiversidade, estão ameaçadas pela construção de hidrelétricas.  A conclusão é de um estudo de cientistas dos Estados Unidos, Alemanha, Canadá, Camboja e Brasil. O doutor Miguel Petrere Jr, que integra o corpo docente do Mestrado de Ecologia da Universidade Santa Cecília (Unisanta)  é um dos pesquisadores.

Eles estão  preocupados com o impacto das hidrelétricas nos peixes, nas matas, nas comunidades rurais, na biodiversidade  e no clima do planeta. No Brasil, a hidrelétrica que preocupa os cientistas é a de Belo Monte, que está sendo construída no Rio Xingu, afluente do rio Amazonas, e que ainda não entrou em funcionamento, devido a embargos na justiça e restrições de ambientalistas.

Um dos problemas apontados pelo estudo no qual está o dr. Petrere é que boa parte dos peixes dessas bacias migra conforme a vazante dos rios, para se reproduzirem. Com as barragens, eles podem ficar pelo caminho, interrompendo  seu ciclo de vida,  explicam os cientistas.

“Há espécies de alto valor que viajam centenas de quilômetros em resposta a pulsos de inundação sazonal”, afirmou Kirk Winemiller, da Universidade do Texas, líder do estudo e especialista em vida selvagem e peixes, conforme notícia publicada pelo jornal Folha de São Paulo, em janeiro deste ano.

“Nessas bacias, onde vivem 1/3 dos peixes de água doce do mundo, são previstas construções de pelo menos 450 barragens. Só  o rio Mekong já têm 370. Muitas sub-bacias e afluentes possuem espécies únicas  que não são encontradas em nenhum outro lugar”.

Dúvidas

Os cientistas sugerem protocolos rígidos de planejamento para orientar a construção de hidrelétricas em regiões tropicais ricas em biodiversidade.

“Dada a recente escalada de desenvolvimento de energia hidrelétrica nos trópicos, o planejamento é necessário para minimizar a perda de biodiversidade, bem como outros efeitos ambientais, sociais e econômicos”, explicam.

Eles estão céticos quanto aos benefícios do empreendimento às comunidades rurais na Amazônia, no Congo e nas bacias de Mekong , quanto  ao abastecimento de energia, à   pesca,  e à criação de empregos.

Polêmica no Brasil

A imprensa brasileira vem divulgando a polêmica em torno do Complexo de Belo Monte.  O projeto é da década de 1980, mas foi reduzido pela metade, diante os movimentos de ambientalistas, embargos na justiça e imposições do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Desmatamento, seca e alagamento são alguns dos problemas alegados para retardar as obras.

O Complexo de Belo Monte conta com duas usinas  ou casas de força: Pimental e Belo Monte.  Esta última responderá por 97% da eletricidade do empreendimento e não deve registrar atraso – o cronograma prevê que entre em operação em março próximo. Belo Monte tem 11.233MW de capacidade instalada, mas vai gerar 4.571MW em média ao longo do ano, por ter reservatório pequeno.

A segunda usina, Pimental,  terá 6 turbinas e capacidade para 233,1 MW (megawatts), cerca de 3% de toda a eletricidade que será gerada pelo complexo em sua capacidade máxima, o que daria para abastecer uma cidade de cerca de 500 mil habitantes.

A Norte Energia, responsável pelo empreendimento,  chegou a prever para outubro de 2015  o início da operação de Pimental. Mas o consórcio foi obrigado a adiar de novo o funcionamento da usina porque, em setembro daquele ano, o IBAMA não  autorizou a operação  que permite o enchimento dos reservatórios.  O consórcio deverá identificar antes a  possibilidade de  crimes ambientais em terras indígenas e a fazer obras de compensação ambiental, para receber a licença de operação da usina.

A obra vai até 2019,  a um custo previsto de R$ 25,9 bilhões, dos quais R$ 22,5 bilhões financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O projeto no rio Xingu  é um dos maiores empreendimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Mobiliza cerca de 25 mil operários. 

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Trechos de floresta que foram suprimidos para construção da usina hidrelétrica. (Fotos: Divulgação/Greenpeace/Marizilda Cruppe)