A cerca de 20 quilômetros ou mais das  praias de Itanhaém, e no Alto Paranapanema, uma das regiões da Mata Atlântica das mais preservadas, há peixes de riachos semelhantes e muito importantes para o ecossistema, que estão sendo pesquisados.  A Bacia  do Rio  Itanhaém é parcialmente afetada pela agricultura, especialmente da banana, além da urbanização.

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Duas bacias hidrográficas importantes do Estado de São Paulo, as dos rios Itanhaém e do Alto Paranapanema, estão sendo pesquisadas pela doutora Ursulla Pereira Souza, professora do Mestrado em Ecologia da Universidade Santa Cecília (Unisanta). Embora biogeograficamente diferentes, isoladas, as duas bacias  possuem características e estrutura de hábitat similares.

A do Rio Itanhaém é costeira e a do Alto Paranapanema  está distante do mar. No entanto,  nas duas há peixes semelhantes, como lambaris, cascudos e pequenos bagres, de pouco ou nenhum valor comercial, mas de grande importância para o ecossistema e com alta dependência da vegetação marginal como fonte de alimento e locais para reprodução das espécies. Esse foi o primeiro projeto aprovado pela FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) tendo a Unisanta como instituição sede, segundo o professor Marcos Tadeu, coordenador dos mestrados de Ecologia e de Engenharia Mecânica  da Universidade.

A drª Ursulla e seus colaboradores pretendem verificar se existe “uma relação convergente” entre as duas bacias. Investigarão o uso do hábitat, a alimentação (ecologia trófica) e a reprodução (história de vida) das comunidades de peixes das duas bacias.  O conhecimento sobre a Biologia e a Ecologia de peixes é fundamental para a conservação dos ambientes e das espécies que neles vivem, segundo os biólogos envolvidos.

“O termo relação convergente no projeto está relacionado a verificar quais características das espécies de peixes (uso do ambiente, tipo e modo de alimentação, modo de reprodução) respondem de forma similar aos gradientes ambientais nas duas bacias que, embora distantes e isoladas umas das outras, possuem características estruturais semelhantes. Por exemplo, é esperado que espécies que habitem trechos de corredeiras tenham um formato do corpo similar, ainda que sejam espécies distintas”, explica a pesquisadora. “Neste caso, espera-se uma ´convergência’ no formato do corpo vista em espécies que usam o mesmo tipo de ambiente”. Gradientes ecológicos ou ambientais são cenários ideais para avaliar como espécies interagem e respondem às alterações nas características desses meios.

Mata Atlântica

As regiões a serem estudadas, relativamente pouco conhecidas no País,  estão inseridas em áreas de Mata Atlântica. A bacia do rio Itanhaém, região de planície costeira,  é a segunda maior do litoral do Estado de São Paulo.  Possui quatro sub-bacias, as dos rios Mambu, Aguapeú, Branco e Preto.

São áreas de grande beleza natural, relativamente preservadas, por enquanto, embora a urbanização e as plantações sejam uma ameaça preocupante. Nesses locais há riachos curtos, heterogêneos, com águas correntes (lóticos) e outros riachos mais lentos (lênticos). Eles se localizam a distâncias de 20 a 40 quilômetros das praias na região de Itanhaém, em áreas rurais próximas à Serra do Mar.  Para chegar até os pontos mais altos é necessário subir pela estrada de terra e, muitas vezes, caminhar pela mata e/ou por dentro do riacho, explica a professora Ursulla.

Os peixes e áreas locais foram estudados anteriormente pelo pesquisador Prof. Dr. Fabio Cop Ferreira (UNIFESP, Baixada Santista), um dos colaboradores do projeto.

As cabeceiras dos riachos da bacia do Alto Paranapanema são constituídas por áreas reflorestadas e matas naturais, sendo uma das regiões de Mata Atlântica mais preservadas.  Os peixes de riachos desta bacia estão sendo estudados pelo Prof. Dr. Mauricio Cetra (UFSCar, Sorocaba), também colaborador do projeto.

As conclusões dos novos estudos serão encaminhadas aos gestores dos recursos hídricos das respectivas regiões.

Elogios da FAPESP

A FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), que está financiando o projeto, destacou que ele avança “com relação aos estudos de diversidade funcional já realizados ou em andamento no Brasil, pois visa a compreender mecanismos que geram padrões ocorrentes em bacias hidrográficas vizinhas.”

“Neste sentido, considero que o projeto é original e de grande relevância na temática de ecologia de peixes de riachos.  O problema que será investigado está bem justificado pela teoria. Os métodos são adequados e muito mais detalhados do que a maioria dos estudos já publicados sobre esse assunto”, informa o documento que aceitou projeto, denominado “Convergência funcional na estrutura das assembleias de peixes em riachos de duas bacias hidrográficas no Estado de São Paulo” (FAPESP, processo no 2015/08423-3).

O histórico acadêmico da professora Ursulla “mostra um quadro de início de carreira, porém muito bem encaminhado”, segundo os avaliadores, pois ela já está inserida em um programa de pós-graduação. “O projeto é viável, inédito e mostra ser uma contribuição com potencial para gerar produtos de grande qualidade.”

Há previsão de expedições a campo para coleta de dados nos ambientes que complementarão a base de dados já existente, fruto de outros projetos financiados pela FAPESP.

Esse foi o primeiro projeto aprovado pela FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) tendo a Unisanta como instituição sede, segundo o professor  Marcos Tadeu, coordenador dos mestrados de Ecologia e de Engenharia Mecânica  da Universidade.

A drª Ursulla concluiu o mestrado em Ciências Biológicas (Zoologia) em 2004 pela UNESP de Botucatu e o doutorado em 2009 pela UNESP de Rio Claro. O  pós-doutorado fez junto ao Departamento de Ecologia da Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, em 2012.  Suas pesquisas têm ênfase em padrões de história de vida de peixes de água doce, abordando aspectos relacionados à distribuição, reprodução e ecologia trófica.

Estagiou na Texas Agricultural & Mechanics University, Texas A & M, Estados Unidos, em 2010,  no Department of Wildlife & Fisheries Sciences, junto ao laboratório do Prof. Dr. Kirk O. Winemiller, também com financiamento da  FAPESP.

Tem publicado em revistas como: Ecology of Freshwater Fish, Fisheries Management and Ecology, Acta Limnologica Brasiliensia, Brazilian Journal of Biology, Biota Neotropica, Neotropical Ichthyology e Acta Scientiarum e Biological Sciences.   Atualmente é Professora do Mestrado em Ecologia, Programa de Pós-Graduação em Sustentabilidade de Ecossistemas Costeiros e Marinhos (ECOMAR) da Universidade Santa Cecília, Santos. 

O estudo tem como colaboradores os Profs. Drs. Walter Barrella (UNISANTA), Miguel Petrere Jr. (UNISANTA), Fabio Cop Ferreira (UNIFESP, Baixada Santista), Mauricio Cetra (UFSCar, Sorocaba).

Um projeto de Mestrado, cuja aluna possui bolsa CAPES e um de Iniciação Científica – IC (bolsa PIC – UNISANTA) utilizarão  parte dos dados coletados no estudo da dra. Ursulla.

Bacia do Aguapeu
Bacia do Mambu
Rio Preto