As exigências legais sobre os cuidados com a dragagem nos portos brasileiros são satisfatórias, mas os cientistas querem aperfeiçoar esses instrumentos, oferecendo subsídios mais amplos e esclarecedores quanto à contaminação dos sedimentos e seus possíveis efeitos nos organismos marinhos (fauna e flora) e na cadeia alimentar do homem.
Essa foi uma das explicações dadas durante a reunião ocorrida na manhã desta sexta-feira (11/05), entre o Prof. Dr. Tomás Angel Del Valls, Coordenador da Catedra Unesco da Universidade de Cádiz, Espanha, e pesquisadores de Biologia Marinha da Universidade Santa Cecília (Unisanta). As pesquisas que o Brasil e a Espanha fazem desde 2006 sobre essa contaminação de sedimentos nos portos serão muito úteis à população, aos usuários e empresários dos portos.
As conclusões dos estudos serão divulgadas a partir de fevereiro de 2008, aos governos e autoridades portuárias sobre uma dragagem mais adequada aos portos desses países. A idéia é padronizar a gestão dos sedimentos de dragagem nos portos estudados dos dois países.
“A dragagem é necessária, para manter a vida da cidade, tanto do turismo, como dos próprios portos”, afirmou o dr. Del Valls, destacando, porém, a importância das pesquisas científicas para que as intervenções humanas necessárias não prejudiquem a cidade, seus moradores e seus recursos econômicos.
As conclusões desse trabalho, que envolve pesquisadores com apoio da Capes e do Ministério de Educação e Cultura da Espanha, permitirão um quadro mais real da situação, pois englobam análises integradas quanto aos aspectos físicos, químicos, toxicológicos e biológicos da água e dos sedimentos.
A Universidade Santa Cecília, a Unesp, a UFCar, no Brasil, e a Universidade de Cádiz, Espanha, estudam a água e os sedimentos, onde se concentram os contaminantes, e seus efeitos em organismos marinhos, considerando também os chamados bioacumuladores e os biomarcadores (traços de enzimas).
O Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), por meio das instruções 357 (água continental e de oceanos) e 344 (controle de atividades de dragagem), baixou normas sem considerar os bioacumuladores e biomarcadores. Esses quesitos foram recomendados por pesquisas mais recentes, esclareceu o dr. Augusto Cesar, da Unisanta. Estão sendo objeto de investigação os estuários de Santos e Paranaguá, no Brasil, e, na Espanha, de Cádiz, Algecira e Huelva.
Na Espanha,as leis não são tão exigentes como no Brasil, mas os cientistas espanhóis recomendaram mais rigor e as autoridades estão promovendo mudanças para atendê-los. No porto espanhol de Cartagena, estudo recente possibilitou conclusão interessante: as altas quantidades de mercúrio e cádmio não se revelaram nocivas ao homem, porque estavam aprisionadas em um complexo (conjunto) de matéria orgânica, que tornou aqueles elementos estáveis. Assim, foi possível aproveitar os sedimentos da dragagem em aterros para construções. Esse foi um exemplo citado pelo dr. Del Valls para mostrar a importância das pesquisas científicas.
Elogios ao laboratório da Unisanta
O dr. Angel Dell Valls elogiou o Laboratório de Ecotoxicologia da Unisanta ( “está entre os melhores do mundo”) e os pesquisadores de Biologia Marinha da Universidade, que fizeram ou fazem pós-graduação em Cádiz. É o caso de Augusto César, que está em seu segundo pós-doutorado, e de Camilo Seabra, doutorando.
Participaram da reunião Augusto César, Seabra, Aldo Ramos (doutorando, coordenador daquele laboratório), o biólogo Fernando Cortez e o engenheiro Luís Renato Lia, coordenador do Laboratório de Ecotoxicologia da Universidade, além da dra. Laura Martín Días, professora do Mestrado Europeu em Gerenciamento Costeiro. (Erasmus Mundus).
No momento, duas estudantes espanholas fazem esse mestrado, com pesquisas no Laboratório de Ecotoxicologia da Unisanta, sob orientação de Augusto César: Rocío Antón Martín e Judit Kalman, que deverão defender sua dissertação na Espanha, no final de maio. A Unisanta é receptora de pesquisas do Mestrado Europeu em Gerenciamento de Águas Costeiras (Master in World and Coast Management), projeto ligado ao programa Erasmus Mundus.
Somente três universidades brasileiras estão integradas a esse Mestrado Europeu: a Unisanta (única particular), a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, e a Universidade de São Paulo.