A Ponta da Praia e o Boqueirão, no canal 4 de Santos, foram os bairros pesquisados na dissertação de Luciana Bretas.
“Os ensaios de toxicidade aguda com Daphnia similis não apresentaram toxicidade para os organismos testes, muito embora tenham sido encontrados valores de amônia consideráveis. Apesar de disso, não foi possível afirmar que as mostras não apresentaram toxicidade, pois há outros fatores que devem ser levados em conta, como a sensibilidade do organismo e o tempo de exposição”. Essa foi uma das conclusões da mestranda Luciana Bretas, na dissertação de Mestrado de Ecologia apresentada à banca no dia 15/4, na Universidade Santa Cecília (Unisanta), em Santos.
Luciana analisou a Daphnia similis, gênero de crustáceos da ordem Cladodecera, ou dáfnia, chamada popularmente de pulga de água ou dáfnia. Ela estudou o atmosférico de duas regiões centrais da cidade: o bairro da Ponta da Praia, onde fica localizado o maior Porto da América Latina e o bairro Boqueirão, no canal 4 da cidade. Neles, foram feitos estudos comparativos através do processo de deposição de água na chuva em resposta à espécie Daphnia Simillis – Microcrustáceo conhecido como pulga d`água, facilmente encontrado em lagos e represas de águas continentais.
A salinidade encontrada nas mostras analisadas “não contribuiu na toxicidade da espécie Daphnia Simillis, mas, pode ter contribuído para a redução da toxicidade de nitrito” , escreveu a mestranda. Ela foi orientada prof. Dr. Aldo Ramos Santos.
Outra conclusão encontrada foi de que nas mostras retiradas em períodos de seca, há maiores porcentagens de amônia, e que nos demais compostos como nitrito e nitrato, apresentaram uma tendência maior de concentração também nas épocas de secas. “O que demonstra a influência na sazonalidade das chuvas na concentração destes compostos”.
Valores maiores na Ponta da Praia
Os valores maiores foram encontrados em mostras coletadas na Ponta da Praia, por ser uma área com maior proximidade do Porto. “Ou seja, as características de ocupação e uso do solo destas áreas também exerceram influência nas concentrações dos compostos nitrogenados encontrados”.
O estudo finaliza mostrando que apesar de não apresentar toxicidade para a espécie utilizada, as informações trazidas ‘demonstram a presença de um quadro crítico, vulnerável e preocupante relacionado às emissões de poluentes’.
“Com características de intensa movimentação econômica e de atividades no Porto, pressupõem-se que a região da Ponta da Praia, contem maiores índices de poluição atmosférica lançados no ar em comparação a área do Boqueirão que predominantemente é somente uma área residencial. Índices estes, provenientes do intenso trafego de automóveis e movimentação de cargas no Porto através de navios, caminhões e que, provavelmente, são transferidas para a água de chuva no momento da precipitação, atingindo corpos d’água, canais, rios próximos e mar, podendo possuir concentrações capazes de gerar toxicidade ”, segundo trecho retirado da dissertação.
Para a realização dos testes ecotoxicológicos, foram feitas coletas de águas pluviais para medir a toxicidade e detectar compostos nitrogenados. Também foram medidos os PHs encontrados nas mostras, pois, ‘o pH é capaz de interferir na toxicidade dos compostos presentes na atmosfera, tornando-se fator fundamental quando se deseja avaliar os efeitos de qualquer substancia a organismos aquáticos’.
Foi verificado se há influência dos poluentes presentes no ar atmosférico sobre as águas de chuva coletadas nas áreas residenciais e portuárias de Santos e se causam efeitos nos organismos aquáticos. Segundo o estudo, as partículas presentes no ar, por meio de deposição úmida na água da chuva, que caem sobre rios, lagos e mar podem ser contaminadas e causar danos a espécies residentes nestes ambientes.
A dissertação “Influência da poluição atmosférica na contaminação e toxicidade da água da chuva em duas áreas urbanas da cidade de Santos,SP” foi apresentada no Programa de Pós-Graduação em Sustentabilidade de Ecossistemas Costeiros e Marinhos da Universidade Santa Cecília (Unisanta).
Banca Avaliadora
A banca avaliadora foi composta pelos docentes doutores da Unisanta Aldo Ramos Santos; Augusto Cesar; Camilo Dias Seabra Pereira; e pelo prof. Dr. Ronaldo José Torres da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).
Aldo Ramos Santos possui doutorado em Engenharia Mecânica, na área de conversão de energia, pela Universidade Federal de Itajubá (2007 e graduação em Engenharia Química pela Universidade de São Paulo (1973), especialização em Engenharia de Processamento de Petróleo pelos cursos de pós-graduação da Petrobras (1974), mestrado em Engenharia Mecânica, na área de conversão de energia, pela Universidade Federal de Itajubá (2001). Atualmente é professor titular da Unisanta as disciplinas de Química do Petróleo e Processamento Primário. É coordenador do Laboratório de Ecotoxicologia da Unisanta e coordenador do curso de pós-graduação 0u em Engenharia de Petróleo e Gás Natural.
Ronaldo José Torres é doutor em Química Analítica pela Universidade Federal de São Carlos (2007). Graduado em Oceanologia pela Universidade Federal do Rio Grande (1996), mestre em Engenharia Oceânica pela Universidade Federal do Rio Grande (2000). Tem experiência na área de gerenciamento costeiro, atuando principalmente nos temas relacionados a portos, dragagem, avaliação de sedimentos contaminados, oceanografia, química ambiental e ecotoxicologia. Trabalha, também, com Avaliação de Impacto Ambiental e Análise de Risco Ecológico, biodisponibilidade e bioacumulação de contaminantes e remediação de áreas contaminadas.
Camilo Dias Seabra Pereira é doutor em Oceanografia Biológica pela Universidade de São Paulo (2008) e pós-doutor (Oceanografia Biológica) pelo Departamento de Física e Química da Universidade de Cádiz – Espanha (2009). Possui Bacharelado em Ciências Biológicas com ênfase em Biologia Marinha pela Universidade Santa Cecilia (1998), Mestrado em Oceanografia (Oceanografia Biológica) pela Universidade de São Paulo (2004). ´´É professor colaborador dos Programas de Mestrado na área de Biodiversidade da Universidade Santa Cecília. Experiência nas áreas de Oceanografia Biológica e Biologia Marinha, com ênfase em Ecotoxicologia.
Augusto Cesar é pós-doutor e graduado em Ciências Biológicas com ênfase em Biologia Marinha – Universidade Santa Cecília (1990). Atualmente é Professor Adjunto IV da Universidade Federal de São Paulo e professor titular da Universidade Santa Cecília. Atua na coordenação de projetos de pesquisa, cursos de graduação e programas de pós-graduação. Conta com experiência de mais de 25 anos nas áreas de ecotoxicologia aquática e ecologia marinha. Possui diversos trabalhos publicados em revistas e livros relacionados a essas áreas, tanto em âmbito nacional, como internacional.